17 Outubro 2018
O professor João Carlos Brum Torres anunciou nesta terça-feira (16) a sua desfiliação do MDB em função do apoio do partido no Rio Grande do Sul ao candidato Jair Bolsonaro. Doutor em Ciência Política, professor aposentado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atualmente coordenador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia na Universidade de Caxias do Sul, Brum Torres é um nome histórico do MDB gaúcho. Ele foi coordenador do plano de governo de José Ivo Sartori na eleição de 2014 e ex-secretário do Planejamento nos governos de Antônio Britto e Germano Rigotto.
A informação é de Marco Weissheimer, publicada por Sul21, 16-10-2018.
“Achei grotesco o MDB ter saído correndo aqui no Rio Grande do Sul, logo após o final do primeiro turno, e manifestar seu apoio a Bolsonaro. É algo que representa uma desfiguração, pois toca numa coisa que era muito constitutiva do MDB, que é um firme compromisso com a democracia”, disse Brum Torres ao Sul21. “Acho que é preciso respeitar o resultado das eleições, mas não dá para apoiar um cara que tem como livro de cabeceira as memórias do coronel Ustra, um dos comandantes da tortura durante a ditadura. A desfiliação política está feita, agora só falta fazer a formalização burocrática. A minha tendência é não ir votar ou votar nulo”, anunciou.
Brum Torres é o segundo quadro histórico do MDB gaúcho a repudiar o apoio a Bolsonaro manifestado pela candidatura de José Ivo Sartori ao governo do Estado. Um dos fundadores do partido no Estado, João Carlos Bona Garcia também se manifestou publicamente contra a decisão. “Eu acho que a vida não se restringe a uma eleição. Porque você estará dando um cheque totalmente em branco a um candidato que todo mundo conhece, suas posições sempre foram muito ruins para a democracia, uma pessoa racista, preconceituoso em relação às mulheres, apoiou e apoia ainda a ditadura militar que houve no País, apoiou e apoia a tortura, defende os torturadores”, disse Bona Garcia em entrevista ao Sul21.
João Carlos Brum Torres acredita que o atual momento político brasileiro merece uma atenção muito grande, em função do grande deslocamento da opinião pública para a direita. “Tivemos uma renovação profunda dos partidos que estruturavam a opinião pública. Acho que teremos um período de grande instabilidade, mas acredito que as instituições democráticas resistirão”, assinala. O professor critica ainda a postura adotada pelo PT na campanha eleitoral, decidindo manter uma candidatura do partido em detrimento da composição de uma frente de centro-esquerda. “Lamento muito que o PT não tenha trabalhado para construir essa frente”, disse.
Por outro lado, ele acredita que houve no país um movimento de simplificação extrema que fez do PT o bode expiatório de todos os problemas nacionais. “O PT cometeu seus erros, mas foi tudo para cima dele, inclusive, por exemplo, questões identitárias que são fenômenos culturais mundiais”. Diante do atual cenário de instabilidade, ele defende que o Brasil precisa reconstituir um centro democrático, “que eu preferia que fosse de centro-esquerda”.
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João Carlos Brum Torres anuncia desfiliação do MDB por causa de apoio a Bolsonaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU