18 Setembro 2018
Compreender a China e sua ascensão no atual cenário internacional é o desafio de inúmeros analistas internacionais. Cada vez é mais evidente de que as categorias ocidentais não servem para análises de uma realidade que, de tão múltipla e complexa, chega a parecer contraditória. A edição 528 da IHU On-Line, intitulada China, nova potência mundial - Contradições e lógicas que vêm transformando o país, reúne pesquisadores e pesquisadoras que aceitaram debater a China como um ator importante no século XXI.
Martin Jacques, jornalista e analista político britânico, descobriu a China numa viagem de férias. Dessa primeira aproximação, veio o desejo de conhecer o país. Passou a viver lá e compreendeu: “a razão pela qual o Ocidente vem tendo tanta dificuldade em entender a China é que a mentalidade ocidental é a de pensar o mundo em seus próprios termos, tentar encaixar as coisas neles. A China não se encaixa aí”.
Gabriele Battaglia, também jornalista, fez um movimento similar e trocou a Europa por Pequim. Para ele, a China é uma “civilização introvertida”, mas que não se fecha em si mesma e busca na conexão com o mundo as possibilidades de atualizar e constituir de forma muito particular seu império.
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, Elias Marco Khalil Jabbour, observa justamente as particularidades do “império Chinês” que, por mais contraditório que possa ser, segundo ele, se impõe sem ser imperialista. “Sua dinâmica de desenvolvimento é oposta ao do verdadeiro imperialismo (Estados Unidos)”, provoca.
Para Andrea Fumagalli, professor na Faculdade de Economia e Comércio da Università di Pavia, Itália, divisões do momento da Guerra Fria já podem estar superadas. Agora, capitaneado pela China, o mundo pode se dividir na disputa entre Norte e Sul. O que não significa divisão entre “um Norte desenvolvido e um subdesenvolvimento do Sul, mas entre áreas totalmente desenvolvidas com interesses conflitantes”.
O professor no curso de Relações Internacionais da UFSM, Júlio César Cossio Rodriguez, também observa mudança no cenário internacional, pois vê na ascensão chinesa um processo de redistribuição do poder. Para ele, entretanto a China é um polo de atração global, mas isso não significa que está em curso uma reorganização geopolítica.
José Eustáquio Diniz Alves, professor do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - Ence/IBGE, chama atenção para o fato de que a ascensão chinesa nesse novo cenário geopolítico leva o país a ampliar seus territórios. É o caso da disputa pela Eurásia, que tensiona um realinhamento de potências em escala global, gerando uma série de consequências.
Valéria Lopes Ribeiro, professora no curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, analisa o crescimento da China sobre países da África. Para ela, é outra lógica do que aquela que, no passado, foi imposta por nações europeias.
Michael Kelly, jesuíta australiano que atualmente vive na Tailândia, chama atenção para fatores que podem frear essa expansão da influência chinesa pelo mundo. “Uma das questões de longo prazo que ainda precisa ser respondida é como a China mantém uma estrutura política centralista e autoritária quando a sua população está muito mais envolvida com o mundo não chinês”, questiona.
Francesco Sisci, especialista na civilização e história chinesas, concorda que a China cada vez mais se volta para o Ocidente, mas destaca que ainda há muitas lacunas. Por isso, chama a atenção para como o país tem visto no catolicismo uma possibilidade de criar pontes que atravessem essas distâncias.
Guilherme Wisnik, professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, analisa a hiperurbanização de um país que vem transformando aldeias de pescadores em cidades gigantescas. Transformações essas com consequências para a cultura local e a saúde do planeta.
Irene Chan, pesquisadora do Programa China na Escola de Estudos Internacionais de S. Rajaratnam - RSIS, analisa como a China soube se aproveitar de situações geradas a partir da crise financeira dos anos 2000. Para ela, ainda nessa década, o país pôde superar a economia dos Estados Unidos.
O professor de História da China na Universidade de Boston, Eugenio Menegon, afirma que o Partido Comunista, que capitaneia o crescimento do país, teme discussão e discórdia, bem como o exercício da escolha democrática dos cidadãos. “Tem aproveitado as novas tecnologias para exercer controle sobre a dissidência e a população em geral, reprimindo as minorias étnicas”, observa.
Andrés Malamud, professor em universidades da Argentina, do Brasil, da Espanha, da Itália, do México e de Portugal, analisa as relações comerciais entre China e países da América Latina. Para ele, passa a haver dependência a ponto de que o Brasil, por exemplo, pode entrar em colapso economicamente sem o mercado chinês.
Ainda nesse número, Luís Augusto Fischer, Ian Alexander e Walnice Galvão analisam o legado de Antonio Candido, sociólogo e crítico literário cujo centenário do seu nascimento celebramos neste ano; e Anselmo Otavio, professor de Relações Internacionais da Unisinos e Pesquisador do Centro Brasileiro de Estudos Africanos - CEBRAFRICA/UFRGS, apresenta o artigo Cheetahs, Hippos, Mugabe e as eleições gerais de 2018 no Zimbábue.
A edição eletrônica pode ser acessada nas versões HTML e PDF.
A versão impressa circula na manhã de hoje na Unisinos - campus São Leopoldo e a partir das 12 horas na Unisinos - campus Porto Alegre da Unisinos.
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As contradições e a lógica da ascensão chinesa no cenário geopolítico mundial é tema da revista IHU On-Line dessa semana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU