05 Mai 2018
Vários meses antes da eleição de 2016, a Harper’s Magazine publicou um ensaio improvável de Alan Jacobs, sugerindo que em meio ao período de críticas turbulentas vigente no país, o retorno dos intelectuais públicos cristãos pode ser bom para nós. "Sua tarefa", sugeriu Jacobs, "seria ser intérpretes, pontes entre as diferenças culturais; mediadores, talvez até reconciliadores". Tais pensadores existiam há meio século e ocupavam um papel importante na esfera pública, escreveu, mas "já não existem mais".
A reportagem é de David J. Michael, publicada por America, 23-04-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Foi um comentário muito estranho vindo de Jacobs, que foi, de certa forma, em suas próprias palavras, um intelectual cristão que dedicou parte de sua carreira ao papel de ponte não apenas entre os cristãos e os não cristãos, mas também entre as disciplinas e o público.
No início de sua carreira, Jacobs viveu o que poderia ser uma crise prolongada de audiência, da qual lembrou-se quando eu o entrevistei em fevereiro. Na época professor de inglês no Wheaton College, uma faculdade evangélica nos arredores de Chicago, ele publicava trabalhos acadêmicos dentro da sua área, mas dedicava cada vez mais tempo à escrita de ensaios e peças teológicas para revistas e jornais cristãos. Ir de um lado para o outro pode ser confuso, e ele passou vários anos debatendo e orando sobre em que público se concentrar. "Num dado momento, tive uma epifania: não há uma escolha a fazer. É preciso escrever para os colegas acadêmicos e para os companheiros cristãos, porque há coisas a dizer para ambos os públicos. Ou seja, você precisa aprender a mudar de código".
Depois de tomar essa decisão, Jacobs publicou 15 livros sobre literatura, tecnologia, teologia e psicologia cognitiva, para publicações muito diferentes entre si, como The American Scholar, First Things and Harper’s. Seu currículo tem nove páginas, sem contar suas resenhas de livros (cerca de 75) ou textos publicados on-line (centenas de artigos e postagens de blogues). Faz lembrar o comentário do David Foster Wallace sobre John Updike: "Será que algum pensamento desse cara não está publicado?"
Jacobs tem hoje 59 anos e é professor de Humanidades na Universidade de Baylor, uma universidade batista em Waco, Texas, com o lema delicioso "Pro Ecclesia, Pro Texana". Com olhos gentis por trás dos óculos de louva-a-deus e um sorriso travesso caloroso emoldurado por uma barba grisalha, ele não se veste tanto como um acadêmico, mas mais como um gerente de meia-idade de uma empresa de tecnologia — ou seja, descolado e ao mesmo tempo nem tanto.
Antes das eleições presidenciais de 2016, Jacobs ficou muito preocupado com o que estava vendo. "Eu estava assistindo o país desmoronar. Sentia que precisava pensar nessa derrota. Também era uma derrota da caridade, e eu queria discutir isso". Então, escreveu rapidamente o livro How to Think: A Guide for the Perplexed, um livro curto e cativante que apresenta estratégias para pensar com mais clareza e caridade num momento em que a mídia incentiva a agitação e desestimula o pensamento. O colunista do New York Times David Brooks considerou o livro "esplêndido".
Mais do que um simples guia, defende que se aprenda a viver caridosamente em meio a diversas crenças e ideias. Jacobs me fez a pergunta norteadora do livro: "Se a pluralidade é inevitável, existem maneiras de fazer essa pluralidade trabalhar a nosso favor sem sacrificar o que é característico da sua própria tradição e as coisas em que se acredita?" O livro é escrito para o público em geral, mas essa questão é particularmente urgente para os cristãos, que, segundo Jacobs, estão se tornando cada vez mais cruéis e afastados da caridade, vendo essa falta como um sinal de força cristã.
A caridade é um tema consistente no trabalho de Jacobs, que se baseia em Mateus 22, em que Jesus nos ordena a "amar o próximo como a ti mesmo". Quando o conheci, há 15 anos, em Wheaton (quando era seu aluno), ele tinha acabado de publicar A Theology of Reading:The Hermeneutics of Love, em que Jacobs se debate com o significado de ler com caritas. Como escreveu em outro ensaio publicado nesse período, “a lei do amor, da qual ‘toda a lei e os profetas’ dependem, prevê a caridade aos adversários numa discussão".
No livro, uma das estratégias para um pensamento eficaz apresentadas por Jacobs é pertencer a várias comunidades, desafiando suas tendências naturais, e seu argumento é sua própria experiência como acadêmico e cristão. O fato de ele pertencer às duas comunidades é um milagre.
Jacobs nasceu em uma família da classe trabalhadora em Birmingham, Alabama, que chama de "sul urbano — o poço do sul". Foi criado, junto com sua irmã mais nova, principalmente por sua avó. Seu pai, um antigo marinheiro, era um alcoólatra com uma crueldade escondida e passou grande parte da infância de Alan na prisão. Quando não estava na prisão, ele trabalhava para uma empresa de caminhões e quando foi demitido virou guarda-costas de um construtor local com práticas empresariais escusas, para o qual era a pessoa certa, pois não tinha medo de portar e usar armas.
Jacobs descreve seu pai como um homem com uma grande personalidade, que adorava pegar um maço de notas e pagar por uma refeição. Mas foi a mãe de Alan, que trabalhava em um banco local, que mantinha a família. Um dia, quando Alan ainda morava com os pais, o pai ligou da prisão, no Mississippi, onde estava depois de uma bebedeira. Alan o resgatou, mas não antes de a mãe retirar o nome do pai de todas as contas bancárias. Pelo resto da vida, seu pai foi sustentado.
Ao escutá-lo descrever sua infância, lembrei de algo que Zadie Smith disse ao autor norueguês Karl Ove Knausgaard. Ao perguntar sobre o pai de Knausgaard — que bebeu até a morte — Smith se referiu ao livro de Alice Miller O Drama da criança bem dotada e sua afirmação de que crianças talentosas com pais imprevisíveis muitas vezes desenvolvem um forte senso de adaptação para navegar à mudança das vontades dos pais. Com a idade, essa habilidade transforma-se num profundo senso de empatia. É difícil não pensar que a ênfase de Jacobs na caridade e sua capacidade de "mudar o código" possa advir de sua própria infância.
Nenhum de seus pais terminou o ensino médio ou via motivos para fazer o ensino superior, mas a casa era repleta de livros de bolso baratos que sua família devorava na frente da televisão, sempre ligada no mudo. "Quando fecho os olhos e tento lembrar da casa onde cresci, o que me vem à mente é uma imagem de várias pessoas sentadas em sofás e cadeiras velhas na sala de estar salmão, mergulhados em algum livro, com um cinescópio numa caixa de madeira murmurando e brilhando num canto”, escreve em Reverting to Type, um e-book que narra sua trajetória como leitor.
Quando tinha 3 anos, sua avó levou Jacobs para a loja de departamentos em Birmingham, onde ele escolheu o livro The Golden Book of Astronomy. O funcionário da loja se mostrou relutante, dizendo que ele era pequeno demais, mas sua avó disse a Jacobs para ler em voz alta. O funcionário ficou quieto e vendeu o livro.
Pouco depois, Jacobs estava se deliciava com as revistas Pulp espalhadas pela casa. Tinha um gosto especial por ficção científica: aos 6 anos, seu escritor preferido era Robert Heinlein. Começou a frequentar a escola um ano mais cedo e pulou a segunda série.
Seus professores do ensino médio não fizeram nada para incentivar seus prodigiosos talentos, nem seus pais. Quando, no último ano do colégio, ele disse que queria fazer faculdade, eles ficaram confusos. Sem saber sobre empréstimos estudantis, ele decidiu frequentar a faculdade da região, a Universidade de Alabama, em Birmingham, para poupar dinheiro. Assim que terminou o ensino médio (aos 16 anos), conseguiu um emprego em uma livraria. Trabalhava 24 horas por semana e em tempo integral nas férias da faculdade.
Lá, começou a ser influenciado por Michael Swindle, um colega que o incluiu em seu círculo de amigos, um grupo de "hipsters” antes da palavra existir. Com eles, Jacobs aprendeu literatura moderna, música e arte. Na era pré-internet, era o tipo de cenário intelectual e cultural que só acontecia nas cidades, mesmo em cidades pequenas como Birmingham.
Sua família era cristã apenas no papel, mas aos 12 anos Jacobs participou de um culto batista, onde foi "salvo". Algumas semanas depois, foi batizado e quase imediatamente parou de ir à igreja, afirmando ser agnóstico. Isso mudou quando ele conheceu Teri na faculdade, uma mulher atraente e inteligente, que era cristã de verdade. Em seu livro Looking Before and After, sobre teologia narrativa, ele escreve: "comecei a ler a Bíblia e pensar em Deus porque, assim, essa notável jovem talvez um dia me deixaria beijá-la".
Com os incentivos de Teri, Alan pediu transferência para a Universidade do Alabama, em Tuscaloosa, cujo departamento de inglês era muito forte. Um professor percebeu seus dons e o incentivou a fazer pós-graduação. Ele se candidatou a apenas um programa de doutorado, na Universidade de Virgínia, e foi aceito. Mudou-se para Charlottesville com Teri, sua noiva.
Jacobs contou essa história comendo tacos no café da manhã num lugar chamado Torchy, onde comemos duas vezes em dois dias. Ele parecia mais impressionado do que nostálgico. "Se não fosse pela Teri", disse, "acho que ainda estaria em Birmingham trabalhando de gerente de uma livraria".
Quando foi contratado pelo Wheaton College, aos 25, ele era cristão mesmo por menos de cinco anos. "Ainda estava engatinhando em muitas coisas" (não apenas em relação à fé; os responsáveis muitas vezes achavam que ele também era aluno). Ele rapidamente fez vários amigos e alguns professores do departamento de teologia — como Mark Noll, o grande historiador da Igreja — começaram a levar Jacobs debaixo da asa, sendo seus tutores sobre história da teologia e da Igreja.
Na pós-graduação, Jacobs analisou seriamente a Igreja Católica, debruçado sobre Romano Guardini e John Henry Newman. "Newman deveria resolver todos os meus problemas e acho que ele tornou o catolicismo pouco atraente para mim", disse, com uma risada profunda que, de alguma forma, evidenciava o sotaque do Alabama. Quando ele e Teri se mudaram para Wheaton, eles visitaram uma igreja episcopal da região e se apaixonaram. "Ser anglicano é a única maneira que eu conheço de ser cristão", afirmou.
Ao longo dos anos, ele mergulhou no anglicanismo, tendo escrito uma história do livro de orações e atuado como litúrgico da igreja. Mas, naturalmente, houve tensões por ser anglicano nos Estados Unidos. Em 2004, logo após a consagração do Rev. Eugene Robinson, o primeiro bispo abertamente gay da Igreja Episcopal, sua paróquia se dividiu. Jacobs entrou no grupo, assim como o padre, que saiu da Igreja Episcopal e formou uma nova igreja que depois seria parte da Igreja Anglicana da América do Norte. Desde que se mudou para Waco, sua família fazia parte da Igreja Episcopal de Santo Albano, onde o pai do cineasta Terrence Malick foi maestro do coro e há uma foto do jovem corista Malick no porão.
"Não é fácil nem divertido", comentou Jacobs sobre ser anglicano nos Estados Unidos. "Mas peguei do anglicanismo o temperamento mediador e conciliador, buscando sempre uma forma de as pessoas conviverem em relativa harmonia, mesmo em grande desacordo".
A escrita, para ele, é uma forma de pensar. Quando começa a escrever, não gosta de antecipar seu destino, prefere escrever para organizar as ideias e questões. O ensaio é natural para ele. "É um gênero mimético, ou seja, imita o fluxo do pensamento". Jacobs se apaixonou pelo gênero na faculdade, quando descobriu os ensaios de Loren Eiseley, mas sua escrita profissional era acadêmica no início. Nos anos 90, ele queria escrever para um público mais amplo.
Um dia, em uma livraria em Hyde Park, em Chicago, descobriu uma revista nova chamada First Things. Submeteu um ensaio sobre David Byrne, da banda Talking Heads, e a noção de "estilo de vida" e, para sua surpresa, foi publicado. Em seguida, tornou-se presença habitual, escrevendo ensaios sobre a tradição de C. S. Lewis e George Orwell, que considera "ensaístas morais" — escritores com o poder de encarar fatos desagradáveis. Quando o periódico Christianity Today lançou Books & Culture, de crítica literária, começou a publicar lá também.
Em seu ensaio na revista Harper's, Jacobs assinala a importância do lugar para o pensamento: "A questão... para muitos intelectuais cristãos hoje refere-se ao lugar social e institucional. De que lugar é mais adequado testemunhar o que se acredita ser as verdades cristãs essenciais de forma livre e audível?" Wheaton, que exige que o corpo docente assine uma declaração de fé, tem estado nas manchetes dos EUA pela rigidez teológica com que lida com os professores e funcionários, mas Jacobs afirma que a faculdade deu liberdade intelectual e relata que já recusou ofertas com salários mais atrativos para permanecer na Wheaton, onde trabalha há 29 anos.
Ele explica por que permaneceu em poucas palavras: "Que outra faculdade me daria um ano de licença para explorar o significado de ler com amor? Acho que nenhuma". Ele também foi o centro de um grupo de amigos, majoritariamente colegas de Wheaton, que costumava se encontrar toda semana e falar sobre seu trabalho e suas ideias — pensando em comunidade, como Jacobs refere em How to Think. Mas ele e Teri nunca se sentiram totalmente à vontade no centro-oeste, e sentiam saudades do sul. Quando, em 2013, Baylor ofereceu para que ele fosse professor com distinção em sua reconhecida faculdade, podendo ensinar o que quisesse, ele aceitou.
Em seus ensaios e livros, Jacobs é muito falante, desenvolvimento argumentos e narrativas conectadas a outros escritores e textos. Seus textos e interlocutores variam muito, mas seus principais temas têm como base W. H. Auden e C. S. Lewis, se não forem o principal assunto do seu trabalho.
Há alguns anos, ele percebeu que Auden, Lewis e Jacques Maritain tinham dado palestras sobre educação a poucos dias uns dos outros em 1941. Ele achou estranho que em meio à Segunda Guerra Mundial eles estivessem escrevendo sobre educação e decidiu investigar. O resultado é The Year of Our Lord, 1943, que será publicado em agosto. Ele expandiu a história para incluir o poeta T. S. Eliot e a filósofa e mística francesa Simone Weil. Todos eles receberam com desconfiança o instrumentalismo liberal que tinha penetrado na educação. Estavam preocupados que quando a guerra acabasse a sociedade não teria recursos morais para resistir a outras guerras.
O livro, cujo formato é inspirado na obra de Paul Elie The Life You Save May Be Your Own, conta uma história fascinante e decepcionante. Apesar de serem brilhantes os escritos e os argumentos dos autores, nenhuma das medidas foi implementada. Estavam atrasadas em um século, e "o reinado da tecnocracia tornou-se tão pleno que não se previa seu fim enquanto o mundo fosse mundo". O posfácio de Jacobs é dedicado a um sexto personagem, Jacques Ellul, que reconhecia o triunfo da tecnocracia e acreditava que apenas um milagre poderia combatê-la.
Jacobs escreveu o livro para mais de um público, embora tenha contado que os que se interessam pela história intelectual do século XX podem ficar presos pela leitura. Para os cristãos, pode ser um conto instrutivo. Como diz a página final do livro de Jacobs:
Se em algum outro momento surgir um grupo de pensadores dispostos a renovar o humanismo cristão, eles devem aprender com os que estudamos aqui: tanto com o que concordavam quanto o que os dividia. Mas que esses futuros pensadores também estejam alertas para os sinais dos tempos.
Ao escrever o livro, Jacobs publicou um de vários artigos chamando o smartphone de "idolorum fabricam, fábrica permanente de ídolos". Ele destaca uma passagem do trabalho do sociólogo Christian Smith sobre "deísmo terapêutico moralista", em que Smith observa que para a maioria dos adolescentes estadunidenses Deus é principalmente uma solução quando nada mais dá certo, junto com uma passagem de O sagrado e o Profano, de Mircea Eliade, em que um fenômeno semelhante é descrito em religiões antigas e primitivas. Observando que a nossa preferência por ídolos (e, portanto, a religião como solucionismo) é profundamente arraigada, Jacobs diz que as tecnologias modernas, cujo design é solucionista, funcionam como ídolos modernos pré-fabricados:
O principal objetivo de quem fabrica os ídolos, ou Novos Deuses (em seus avatares de software e hardware), é garantir que continuemos a recorrer aos ídolos para buscar soluções para nossos problemas e nunca suspeitemos de que há problemas que eles não podem resolver — ou , o que seria muito pior, que há questões de valor e significado na vida humana que não podem ser descritas em termos solucionistas.
Eu li a publicação pouco depois de terminar de ler The Year of Our Lord, 1943 e pensei na solicitação de Jacobs para estar alerta aos sinais dos tempos.
Quando perguntei a Rod Dreher, o crítico conservador e autor de A Opção Beneditina, por que não existem mais intelectuais cristãos pensando sobre tecnologia de forma profunda e séria, como Jacobs, ele respondeu, seco: porque é muito difícil.
Embora sejamos moral e teologicamente orientados à tradição, nós, assim como a maioria dos estadunidenses, adoramos tecnologia. Alan percebe que a tecnologia é, de modo mais profundo, uma forma de interpretar a realidade. É um pensamento que causa estranheza para os estadunidenses que não vão nem com Amish nem com Wendell Berry.
Jacobs começou a pensar mais seriamente sobre tecnologia nos anos 90, quando aprendeu a programar. Naquela época, a internet estava surgindo como um lugar vibrante para o diálogo intelectual, e ele era participante ativo desde cedo. Como disse Alexis Madrigal, editor de tecnologia de Jacobs no The Atlantic: “foi uma época diferente do Twitter e da escrita na internet em geral. Havia mais mistura de gêneros e de tipos de escritores". Em muitos aspectos, era um meio perfeitamente adequado para Jacobs, que, a convite de Ross Douthat, começou a contribuir para um blog chamado The American Scene.
No final da década de 90, Jacobs percebeu que estava perdendo a capacidade de se concentrar nos livros por longos períodos. Preocupado em não conseguir mais recuperar essa habilidade, ele se esforçou para recuperar a atenção e ajustou seus hábitos on-line. Ele também começou a trabalhar em as ideias sobre concentração, leitura e tecnologia num novo blogue de tecnologia chamado Text Patterns. Reuniu essas ideias no livro Reading in the Age of Distraction, que defendia o valor do "capricho" na leitura e fazia recomendações para preservar o prazer da leitura em meio ao ruído da internet.
O livro foi publicado em 2011, quando Madrigal o contratou como correspondente de tecnologia para o The Atlantic. Quando perguntei a Madrigal por que contratou um professor de inglês de uma faculdade cristã, ele respondeu: "Alan foi um dos pensadores heterodoxos mais interessantes, se não o mais. Ele abordava esses temas com uma seriedade que a maioria não conseguia naquela época, e podia lançar mão de um conjunto de ferramentas analíticas sobre redes sociais que os outros não podiam. Para mim, o cristianismo era um bônus ao seu perfil, que poderia produzir ideias e observações fora do convencional".
Em How to Think, Jacobs incentiva os leitores a dedicar cinco minutos para absorver uma afirmação antes de entrar em "modo refutação". É uma estratégia que ele aprendeu do pior jeito no Twitter, como diz a introdução: "Há muitos tweets de que me arrependo; na verdade, eu realmente apaguei muitos tweets, mas não antes de machucarem os sentimentos de alguma outra pessoa ou mancharem minha reputação de ter um bom senso tranquilo". Como um amigo em comum me disse: "para alguém que escreve tanto sobre a importância da caridade, ele não é muito caridoso on-line".
Quando perguntei a respeito, ele respondeu candidamente: "A plataforma encoraja respostas emocionais imoderadas, rígidas, estreitas, simplistas, e quando estou lá, fico vulnerável a essas coisas. É vergonhoso na minha idade e sendo cristão por tanto tempo que um cristão não consiga fazer melhor". Lentamente, ele foi usando cada vez menos o Twitter e disse que nos últimos anos orou para ter discernimento sobre quando ficar em silêncio. "Há muitas pessoas que sempre têm algo a dizer sobre o debate do momento", afirmou. "Por que eu tenho que ser esse cara?"
Mas quando perguntei a Madrigal, ele disse que Jacobs era “um pensador profundo e generoso. Num espectro de análise em que o jornalismo moralista raso estivesse de um lado, Alan Jacobs estaria no polo oposto." Realmente, muitas pessoas com quem falei referiram seu espírito generoso. Sei de vários jovens escritores e acadêmicos que são amigos ou foram orientados por Jacobs. Alguns são ex-alunos, assim como eu, outros são apenas escritores cristãos que já se sentiram sozinhos e entraram em contato buscando conselhos.
Jacobs faz 60 anos em setembro, mas parece ser o raro tipo de pessoa que acelera com a idade. Várias vezes ele mencionou o desejo de ser mais ambicioso e alçar novos voos, tenta melhorar seus hábitos de escrita e leitura como outras pessoas da sua idade tentam melhorar com suplementos vitamínicos e dietas de baixo colesterol.
Numa publicação no final de 2015, escreveu sobre limitar as distrações da internet. Ele tinha eliminado o Tumblr e o Instagram e voltado a tecnologias mais antigas: papel, CDs e até mesmo um "dumbphone" — embora já estivesse com o iPhone de novo quando o visitei.
Ultimamente, começou a anotar em cartões coloridos. Assim, gasta menos tempo escrevendo no computador e mais tempo escrevendo no caderno, uma prática chamada bullet journal. Ele anota as ideias conforme elas vêm à mente e lê as notas quando tem tempo. "É como colocar ago na compostagem, agitar, colocar mais coisas e agitar de novo. Depois eu tiro e coloco no lugar onde algo precisa ser cultivado".
Se alguma ideia ainda estiver consumindo-o, ele trabalha nela para chegar a algo mais desenvolvido. Quando conseguir, pega o computador e às vezes chega a escrever 4.000 a 50.000 palavras de uma só vez. "Isso não significa que necessariamente vão ser boas", disse. "Mas tem esse sentimento desesperado de preciso colocar para fora enquanto ainda posso”. Quando o visitei, estava escrevendo seis ensaios e um livro novo, que chama de antropologia teológica para a Era do Antropoceno.
É um relato do que significa ser humano em uma época que parece radicalmente empoderadora, mas também deixa o indivíduo impotente diante dos poderes tecnocráticos. Os teólogos ainda não chegaram lá, mas Jacobs acha que escritores como Thomas Pynchon apresentam alguma clareza.
"Tenho muitas ideias", relatou, pouco antes de eu ir embora. "Eu sempre tenho mais ideias do que vou conseguir escrever". Então ele reza por discernimento sobre com que ideias deve seguir e que ideias deve deixar morrer. "E cada vez mais, ao longo dos últimos três ou quatro anos, rezo que Deus me ensine a hora de me calar. É nisso que me saio pior. Só ficar calado".