Nicarágua. Ortega está mais só. País em revolta: 38 mortos. Mas desponta uma mediação

Foto: Cancillería del Ecuador /Flickr

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27 Abril 2018

Algo está acontecendo na “doce e explosiva cintura da América” como a definiu, parafraseando Pablo Neruda, o escritor Sergio Ramírez, ao receber, domingo, o Prêmio Cervantes em Madrid. Não só nas ruas da Nicarágua, onde, há oito dias persistem manifestações contra o governo de Daniel Ortega.

A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 26-04-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

Mas mesmo dentro do próprio 'danielismo', o sistema peculiar criado pelo presidente, no poder desde 2006 e decidido a ali permanecer, depois de ter modificado a Constituição para garantir para si mesmo a possibilidade de reeleição indefinidamente. Uma forma híbrida, oscilando entre o populismo autoritário e a oligarquia familiar, que teve, até agora, um dos principais suportes no setor empresarial, "persuadido" ao som de isenções fiscais, facilitações e concessões substanciais, e seduzido por um crescimento que chega a uma taxa de 4,5 por cento ao ano. O ex-comandante sandinista - que em 1979 ajudou a derrubar a dinastia do feroz clã dos Somoza - acabou, portanto, por misturar a retórica socialista com as políticas ultra-liberais.

O idílio com o Conselho dos industriais, porém, entrou em crise há dez dias, quando Ortega decidiu por decreto - sem convocá-lo - alterar o sistema previdenciário. Uma escolha devida, em parte, às dificuldades de caixa após o colapso do aliado venezuelano, um parceiro comercial crucial.

A retirada da medida, após quatro dias de revolta e pelo menos 38 vítimas, não apagou o incêndio. Claro, desde ontem, as passeatas foram substituídas pelos "plantones", manifestações de bloqueio em vários pontos da cidade, organizados pela comunidade universitária autoconvocada, que assumiu o papel de líder espontânea dos protestos. Enquanto isso, algumas escolas e lojas voltaram a funcionar. Mas a indignação social contra o governo continua forte. E os empresários não parecem estar mais dispostos a agir como muleta para Ortega. Depois de ter convocado o evento na segunda-feira, o Conselho dos industriais pressionou o executivo perguntando para que pedisse à Igreja para atuar como fiadora do processo de diálogo entre o executivo e os diferentes setores sociais. A Igreja aceitou com bastante cautela, pois não se sabe quais setores sociais serão admitidos às negociações.

"O diálogo é um risco e concordamos em aceitá-lo", disse o auxiliar de Manágua, Silvio José Báez, que, juntamente com o cardeal Leopoldo Brenes e os bispos Rolando Alvarez e Bosco Vivas faz parte da comissão encarregada da mediação.

D. Báez ressaltou que, no entanto, as negociações devem ser amplas, para que "possamos abrir o caminho para uma Nicarágua verdadeiramente democrática." Neste espírito, o bispo auxiliar anunciou para sábado uma peregrinação de oração em Manágua.

Ortega, por sua vez, tentou "reconquistar" as ruas liberando cerca de oitenta dos 300 manifestantes detidos nos últimos dias. Muitos dos libertados foram abandonados na periferia da capital, com o cabelo raspado e as roupas esfarrapadas. A repressão causou uma onda de indignação internacional. A ONU solicitou a abertura de uma comissão para averiguar as recentes violências.

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