24 Abril 2018
Olivia Arévalo Lomas, líder da etnia amazônica Shipibo-Conibo, foi assassinada ao meio-dia da quinta-feira com vários tiros disparados por um estrangeiro.
Aconteceu em plena rua, na comunidade intercultural Victoria Gracia, no departamento amazônico de Ucayali, a noroeste de Lima. Na manhã de sábado, enquanto a família e pessoas próximas velavam seu corpo, começou a circular um vídeo em que um grupo de moradores lincha um cidadão canadense até a morte no mesmo povoado. Desde quinta-feira, os moradores atribuíam a ele o assassinato da senhora.
A reportagem é de Jacqueline Fowks, publicada por El País, 23-04-2018.
Além de ser uma das líderes da comunidade, Arévalo Lomas, que tinha 81 anos, era a curandeira local. “Era uma líder conhecida no mundo do povo Shipibo como xamã”, explicou na sexta-feira na televisão estatal a vice-ministra de Interculturalidade Elena Burga. “Era uma pessoa idosa e o Ministério da Cultura está atrás para descobrir o que aconteceu, se o crime se deve a uma questão pessoal ou de perseguição a mais líderes indígenas”, acrescentou.
Burga já apontou na sexta-feira para Sebastian Woodroffe, o cidadão canadense. “Sabe-se que ele cometeu o crime, mas a polícia está fazendo o trabalho e as autoridades estão acompanhando o caso”. Poucas horas depois, os moradores fizeram justiça com as próprias mãos.
No sábado, o portal de notícias Zona Pucallpa divulgou o vídeo do linchamento do estrangeiro. Em seguida a polícia confirmou que se tratava do cidadão canadense. O EL PAÍS buscou a versão do Ministério da Cultura, mas não obteve resposta.
Embora os detalhes do caso estejam apenas começando a ser conhecidos, parece que a família o procurava desde sexta-feira. O portal indígena de notícias Servindi divulgou então um panfleto com a foto de Woodroffe. Foi feito pela família Arévalo. Além da foto, trazia os argumentos da família e uma oferta de recompensa: “Este é o homem que assassinou a mestra Olivia Arévalo depois de fazê-la cantar um ícaro. Ele a encontrou sozinha, pediu-lhe para cantar e depois a matou”.
Os ícaros são cantos de cerimônias de cura, nas quais geralmente se bebe ayahuasca, uma raiz de efeitos alucinógenos. Depois do assassinato de Arévalo, um vídeo de um de seus cantos circulou nas redes sociais.
As primeiras versões sobre o assassinato da idosa indicam que o assassino a matou e depois fugiu em uma motocicleta ou em um triciclo. Na sexta-feira, a Defensoria do Povo condenou o assassinato da líder Shipibo e afirmou que “as agressões, ataques e perseguições contra os povos indígenas exigem mais atenção, pois estão em regiões remotas do país”.
Depois da confirmação do assassinato no exterior, a Defensoria também manifestou “sua categórica rejeição ao linchamento e ao assassinato do suposto autor do homicídio da líder indígena Olivia Arevalo” e pediu uma profunda investigação.
O vídeo mostra golpes contra o canadense e depois seu enforcamento. Uma dúzia de pessoas aparece observando a cena, inclusive algumas crianças.
O jornalista Shipibo Cecilio Soria relatou ao EL PAÍS que cerca de 200 policiais chegaram em diligência no sábado para desenterrar o corpo do estrangeiro na comunidade Victoria Gracia “a cerca de 500 metros de onde se realizava o velório”. A comunidade está localizada a cerca de uma hora de Yarinacocha, em Ucayali. De acordo com Soria, a polícia queria prender algumas pessoas, mas a vice-ministra Burga pediu para respeitar a dor da família e continuar as diligências depois do enterro, na manhã de domingo.
O jornalista informou — algumas horas depois do assassinato de Arévalo — que outra cidadã da etnia Shipibo, Magdalena Flores Agustin, recebeu uma ameaça de morte em uma mensagem deixada em seu jardim com duas balas, uma para ela e outra para seu marido. O documento exigia que eles deixassem sua casa na comunidade Nueva Era, no distrito de Yarinacocha.
O canadense Woodroffe arrecadou mais de 2.000 dólares (cerca de 6.825 reais) na plataforma de crowdfunding Indiegogo para viajar ao Peru com o objetivo de aprender sobre plantas medicinais que o ajudariam contra um vício. “Os centros de desintoxicação tradicionais têm uma taxa de sucesso de 5% a 8%.
Inaceitável”, escreveu ele. A Polícia Nacional ainda não esclareceu o motivo do assassinato da líder indígena, mas o Canal N de televisão informou que os agentes sabiam que o estrangeiro possuía armas longas.
Em dezembro de 2016, outra sábia indígena da Amazônia, Rosa Andrade, de 67 anos, foi cruelmente assassinada por uma pessoa de fora da comunidade, mas o crime ainda não foi esclarecido. Em outros casos de homicídio de lideranças indígenas, ocorridos nos últimos anos em áreas de invasão de terras e de extração ilegal de madeira, como o de Edwin Chota, nenhum responsável foi condenado.
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Peru. Curandeira assassinada e canadense linchado: história de terror - Instituto Humanitas Unisinos - IHU