17 Março 2018
Um aposentado testemunhou em um tribunal de Melbourne que o cardeal George Pell abusou de seu filho durante uma excursão de esqui aquático há muitos anos em um vilarejo do Estado de Victoria. O pai da suposta vítima do ex “ministro da Economia” da Santa Sé também contou que seu filho estava tão alquebrado pela dor que precisou pedir a ajuda do seu irmão para contar as agressões ao seu pai.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 16-03-2018. A tradução é de André Langer.
De acordo com a AAP, o pai detalhou, por videoconferência na audiência, que foi em 2015 que seu filho o informou sobre os abusos que seu irmão teria sofrido pelas mãos do cardeal. “Eu acho que ele estava me protegendo disso por razões de saúde”, declarou o homem sobre o motivo pelo qual seu filho não falou sobre o ataque que teria ocorrido há anos.
De qualquer forma, logo após receber a informação há três anos, o pai fez uma denúncia à polícia, mas sem mencionar o nome de Pell, fato que o advogado do cardeal, Robert Richter, logo aproveitou para desacreditar a testemunha.
O fato de que Pell fosse o agressor do seu filho “é uma invenção sua desde que fez a denúncia em julho de 2015”, contra-atacou Richter, referindo-se ao pai do rapaz. “Em algum momento após ter feito a denúncia, entre julho de 2015 e hoje, você inventou isso”, afirmou o advogado, ao que o homem respondeu: “Isso é um insulto”.
“Pode ser que seja um insulto, mas é verdade, não?”, prosseguiu Richter, pergunta à qual o pai da vítima respondeu: “Absolutamente não”. O advogado continuou com suas táticas agressivas chegando a sugerir que a vítima não provinha de uma família unida. Algo que a testemunha rejeitou por completo, acrescentando que “é totalmente desrespeitoso dizer isso a um pai”.
As declarações dadas pelo homem, que não pode ser identificado, ocorreram depois que as próprias vítimas do mais alto funcionário do Vaticano acusado de abusos sexuais concluíram seus testemunhos no dia anterior. O tribunal foi fechado ao público e à imprensa, enquanto as testemunhas declaravam por videoconferência de um local não revelado, mas foi aberto na tarde da quarta-feira depois que a última suposta vítima deu sua declaração.
A primeira testemunha a declarar na corte aberta foi Bernard Barrett – voluntário da Broken Rites, grupo que defende vítimas de abusos do clero –, que disse ao tribunal que recebeu um correio eletrônico da mãe de uma vítima no final de 2014. O advogado Richter imediatamente acusou Barrett e a Rites de declarar contra a Igreja, inventar acusações e perseguir o católico de mais alto escalão na Austrália.
“Vocês inventam coisas no portal e em outros lugares, acusando a Igreja de acobertar os abusos sexuais, não é assim?”, retrucou o advogado, ao que Barrett respondeu: “Nós não inventamos as acusações, apenas contamos os fatos”.
O pai de uma suposta vítima que morreu de uma overdose de drogas em 2014 também fez declarações por videoconferência antes do encerramento da audiência e disse que só tomou conhecimento dos abusos que seu filho teria sofrido após a sua morte. “Eu nunca vi e ele nunca me contou que algo tivesse acontecido”, disse este homem, que diz ser um católico praticante.
A audiência contra o cardeal Pell começou na semana passada e deverá durar aproximadamente um mês. O cardeal disse que se declarará inocente se a juíza Belinda Wallington decidir que os promotores têm provas suficientes para mandá-lo a julgamento. Os detalhes das acusações contra o prelado de 76 anos ainda não foram revelados, embora a polícia tenha descrito as acusações como “históricas”, o que significa que os supostos abusos ocorreram há décadas.
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“Pell abusou do meu filho” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU