11 Novembro 2017
Não crente, mas com profundas convicções éticas, Manuela Carmena, prefeita de Madri, tem o Papa Francisco em alta consideração, a quem considera "a mais alta autoridade moral do mundo". Talvez, por essa razão, marcou presença em Roma. Desta vez, para participar de uma reunião de juízas e promotoras contra o tráfico de pessoas. Um flagelo, cuja causa encontra-se, na sua opinião, "na satisfação sexual como mercadoria".
A reportagem é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 10-11-2017. A tradução é de André Langer.
A prefeita de Madri, Manuela Carmena, apostou, na última sexta-feira, na "transformação de um modelo de sexualidade absolutamente masculino", já que "é o substrato sobre o qual se permite esse odioso crime do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual".
Foi o que disse a prefeita na cúpula de juízas e procuradoras, convocada no Vaticano a pedido do Papa para analisar o tráfico de pessoas com essa finalidade. Trata-se de uma iniciativa com a qual a prefeita se congratulou. "É muito bom que se tenha pensado nas autoridades mulheres como aquelas que devem assumir o protagonismo nessa luta contra um negócio em que a maioria das vítimas são mulheres", afirmou.
Após constatar que "ainda há muito a ser feito", Carmena apontou que a origem de todo esse trabalho não feito é a "falta de coragem" na abordagem do problema. "Nós não nos atrevemos a enfrentar a hipocrisia do que significa a sexualidade no nosso mundo atual: a satisfação sexual como uma mercadoria. O que isso implica?", perguntou-se a prefeita para criticar a concepção machista subjacente e incidir na educação como parte fundamental das soluções.
"Nós devemos ser corajosos e analisar a sexualidade que temos e, acima de tudo, por que não educamos essa sexualidade, quando fizemos isso em outros aspectos do ser humano, algo que nos permitiu superar determinadas estruturas odiosas, como a escravidão", ressaltou em seguida.
Outra questão pendente é o conhecimento das causas. "Às vezes, fazemos leis levando em consideração os mecanismos de leis anteriores sem aprofundar as causas; faltam-nos estudos sociológicos", constatou, para garantir que "nenhum crime diminuiu se não se conhece as causas que o produzem".
Como exemplo, retomou o estudo feito pelo Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS) em 2008 sobre o comportamento sexual dos espanhóis, que mostrou, por exemplo, que 31% dos entrevistados varões tinham recorrido alguma vez à prostituição e 5% dos jovens se iniciavam no sexo com prostitutas.
Esse relatório constituía uma "boa fotografia" da situação sobre a qual se poderia ter começado a trabalhar. No entanto, lamentou-se Carmena, "ninguém fez nada com esses dados: não foram analisados, nenhum programa foi desenvolvido com base nesse estudo e ele não foi repetido".
É por isso que ela exige urgência para trabalhar com afinco para "transformar um modelo de sexualidade absolutamente masculino, que é o substrato sobre o qual se permite esse odioso crime do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual".
A partir deste trabalho, a proposta da prefeita consiste em estabelecer áreas urbanas para desenvolver programas-piloto – institutos, escolas – para ver os resultados dessa nova abordagem, estudá-los e pedir às instituições que atuem em conformidade.
A prefeita de Madri gosta do Papa Francisco. Foi o que ela garantiu em suas declarações a vários meios de comunicação durante um dos intervalos dos trabalhos em Roma. "O Papa é um exemplo", afirmou. E reconheceu seu apreço "por qualquer autoridade, seja religiosa, local ou política, que seja capaz de dar o exemplo, que tenha uma atitude didática através do seu exemplo".
A mesma boa opinião ela tem do arcebispo de sua cidade, dom Carlos Osoro, que foi visitar na semana passada. Carmena assinalou que, por enquanto, do pouco que o conhece, parece ser uma pessoa "exemplar". Além disso, a prefeita se fia "no que contam meus amigos que trabalham com ele". Um deles – disse –, é José Luis Segovia, novo vigário encarregado da Pastoral Social da Arquidiocese, nomeado para essa função há apenas um mês.
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Carmena, prefeita de Madrid, denuncia, no Vaticano, que a origem do tráfico de pessoas está "na satisfação sexual como mercadoria" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU