10 Novembro 2017
Hoje começa a greve anual dos servidores técnico-administrativos das universidades federais. Um dos maiores tiros no pé do momento político. Se, usualmente, já joga contra, agora chega a ter traços suicidas. E pior que pode prejudicar até funcionários públicos que não estão em greve, mas estão sob ataque cerrado da mídia e do governo.
Um dos argumentos que mais ouvimos é o de que os funcionários públicos são privilegiados. O que só em parte é verdade. E, estranhamente, todas as medidas ventiladas não atingem os mais privilegiados (que não estão no Executivo).
A resposta deveria apontar onde estão e onde não estão os privilégios. Mostrando o que funciona e o que pode ser feito para fazer funcionar o que não funciona.
Ao invés disso, a mensagem subliminar que a greve passa é: somos privilegiados mesmo. Afinal, que outra categoria de trabalhadores pode fazer greve com tão poucos riscos?
Quando é que a esquerda vai cair na real e deixar de usar PIB como métrica econômica?
- Desanima não. Ainda vai piorar mais antes que melhore.
- Então vai melhorar? Quando?
- Pelos meus cálculos, levando em conta a acidificação dos mares e a inércia térmica dos oceanos, daqui a 50 mil anos.
- ...
- Sendo otimista como eu sou, é claro!
Eliseu Quadrilha ficou chateado por terem pego os 51 milhões de Geddel e pediu pra Temer trocar o diretor da PF por um amigão de Sarney.
Após dois anos do ecocídio provocado pela lama da Samarco, foi instituída, por força legal, uma Fundação, a Renova, para executar ações delineadas por órgãos colegiados (com representação da sociedade civil, empresa, governos), mas sempre sob comando da Samarco. No ES, o governo do Estado e municípios impactados terceirizaram seu papel público para a Fundação Renova. Suas ações são meramente protocolares.
Enquanto isso, a Renova criou um roteiro para ser repetido diariamente nas mentes populares através de seus técnicos e suas parafernálias digitais. Se existe algo relevante a se fazer TAMBÉM é monitorar todos os rastros digitais da Fundação, dirimindo qualquer artimanha retórica que a empresa possa utilizar para prejudicar o povão.
Extrai todos os posts e comentários de outubro e novembro da página da Fundação no Facebook. A palavra mais frequente em seus posts é "reparação", tratada como oposta a 'impacto'. Tentando sair de uma agenda negativa (a realidade do impacto), a Samarco estabelece uma agenda positiva (a reparação, por enquanto, um branding).
Já, nos comentários desses posts, as palavras mais frequentes são indenização, água e 'rio doce', termos que fazem funcionar a contra-tática narrativa (ainda fragmentada) da população. A narrativa da reparação tende sempre a se enfraquecer quando contraposta a da indenização (sempre muito midiatizada).
Por curiosidade, fiz o mapa das páginas que a Renova busca monitorar no Facebook. É um retrato do que a fundação identifica como relevante para ser "vigiada de perto". Basicamente, os alvos do monitoramento da Fundação giram em torno de veículos locais e nacionais de imprensa, órgãos ambientais de controle, ongs ambientalistas e universidades. Não há nenhuma página ligada aos afetados pela barragem que é do interesse explícito da Fundação. É como se a Renova tivesse que regular apenas as instituições que possuem acesso à opinião pública, dando a mínima para as demandas populares (que se expressam em muitos canais digitais).
Em geral, sempre cartografo a força dos movimentos (e com isso colaboro na difusão de suas vozes), porém, no caso do desastre no Rio Doce, não tenho dúvida que o melhor é fotografar todos os passos da Samarco, numa espécie de contra-controle sobre os seus enunciados.
Estamos começando!
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Breves do Facebook - Instituto Humanitas Unisinos - IHU