02 Novembro 2017
O Ano da Reforma chega ao fim. Foi um ano em que se constatou uma cordial aproximação entre católicos e protestantes. Mas, para além da amizade e da participação, os resultados no campo ecumênico foram muito poucos. As diferenças doutrinais continuam sendo as de antes. Quais são essas diferenças?
Elas são indicadas pelo cientista político italo-alemão Thomas Jansen, membro do Circolo della Cultura e delle Arti de Trieste, na Itália, em artigo publicado no sítio Settimana News, 30-10-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma diferença profunda entre católicos e luteranos diz respeito, tanto antes quanto depois, à compreensão do ministério na Igreja. Sobretudo, é controversa entre as confissões a definição do ofício presbiteral. Protestantes e católicos, no entanto, compartilham a concepção do sacerdócio de todos os fiéis. Ambos afirmam que todos os cristãos, mediante o batismo, são partícipes do “sacerdócio de Cristo”.
De acordo com a concepção católica, entre esse sacerdócio comum dos batizados e os sacerdotes consagrados, no entanto, permanece não apenas uma diferença de grau, mas também qualitativa. O sacerdote consagrado, de acordo com a compreensão católica, age “in persona Christi”. Essa compreensão do ofício ministerial se expressa sobretudo na celebração da Eucaristia. O sacerdote consagrado, de acordo com as palavras do Concílio Vaticano II, realiza “in persona Christi o sacrifício eucarístico e o oferece em nome de todo o povo de Deus”. Os fiéis, por sua vez, participam da “oferta da Eucaristia”. “Eles exercem o sacerdócio recebendo os sacramentos, através da oração e do amor ao próximo.”
De acordo com a convicção protestante, não existe uma diferença qualitativa desse tipo entre consagrados e não consagrados, entre clérigos e leigos. Os protestantes não conhecem uma consagração. No entanto, isso não significa que, nas Igrejas luteranas, cada um possa fazer qualquer coisa. Entre eles também se distingue o sacerdócio de todos os fiéis daquele do “ofício ministerial ordenado”. A diferença aqui, porém, não é qualitativa, mas, em primeiro lugar, funcional. Do ponto de vista protestante, cada cristão tem a possibilidade de agir de forma significativa na orientação da comunidade e de expressar o seu próprio julgamento doutrinal. Mas, para alcançar essa maturidade, é necessário, primeiro, o anúncio e a instrução dos responsáveis ordenados.
Na base dessa concepção diferente do ofício ministerial está a diferença contida na expressão “sucessão apostólica”. Abaixo dela, está a concepção católica segundo a qual os bispos de hoje estão em uma ininterrupta e legítima sucessão dos primeiros apóstolos. O meio de conexão é a consagração episcopal legitimamente recebida. Tem uma importância particular aqui a imposição das mãos sobre o novo bispo por parte do bispo consagrante.
Os bispos protestantes, de acordo com essa definição, estão fora da “sucessão evangélica”, porque a cadeia consagratória foi interrompida com a Reforma.
A concepção do ofício do bispo também é substancialmente diferente: na Igreja Protestante, é uma escolha do ofício, mas dotada de poderes muito menores em comparação com a Igreja Católica. Os críticos protestantes repreendem a concepção católica pelo fato de conectar a reta transmissão da doutrina da Igreja e da Tradição apenas à imposição das mãos. Os teólogos católicos, ao contrário, defendem que esse gesto durante a consagração é um sinal que, sozinho, porém, não constitui uma garantia de pleno acordo com os apóstolos.
Os luteranos também conhecem uma “sucessão apostólica”, mas a entendem em sentido mais amplo como continuidade de toda a Igreja com os apóstolos. Eles se recusam a conectá-la com a consagração episcopal. No diálogo oficial luterano-católico, os luteranos explicaram que uma retomada da sucessão apostólica só tem significado se, antes, alcançar toda a comunidade.
A segunda diferença fundamental, estreitamente relacionada com as concepções do ofício ministerial, diz respeito à compreensão da Igreja. Até hoje, é determinante para o protestantismo o pensamento de Lutero segundo o qual a Igreja não é substancialmente uma instituição, mas se encontra onde os fiéis se reúnem para ouvir a Palavra de Deus. Lutero realiza uma drástica separação entre essa Igreja invisível e a visível na sua configuração histórica concreta. Embora hoje, também por parte dos evangélicos, muitas vezes não seja mais realizada uma separação tão estreita entre Igreja visível e invisível, continua havendo, no entanto, uma diferença substancial; de acordo com a doutrina católica, de fato, a Igreja visível, com os seus órgãos hierárquicos, está ligada de modo indissolúvel com a comunidade espiritual invisível. A Igreja, no entanto, não deve ser equiparada simplesmente à Igreja Católica na sua forma concreta, mas se realiza plenamente apenas na Igreja Católica. Fora desse quadro institucional, de acordo com a posição católica, só pode haver elementos de Igreja, mas nenhuma Igreja completa.
A diversidade de concepções do ofício ministerial e da Igreja também é, em última análise, a razão determinante pela qual a Igreja Católica atualmente não vê nenhuma possibilidade de uma intercomunhão, ou seja, da recepção recíproca da comunhão e da ceia eucarística entre católicos e protestantes. A ceia eucarística não pode ser reconhecida porque, de acordo com a doutrina católica, apenas um sacerdote ordenado pode celebrar a Eucaristia “in persona Christi”. E como a Eucaristia, de acordo com as palavras do Concílio Vaticano II, é “fonte e ápice de toda a vida cristã”, poder recebê-la por parte dos protestantes, de acordo com os católicos, só será possível quando se alcançar a plena unidade.
Menos determinantes e não mais fatores de divisão entre as Igrejas parecem ser, hoje, por sua vez, as diferenças na compreensão da mudança do pão e do vinho. Como os católicos, os luteranos também creem na presença real de Cristo durante a celebração da Eucaristia. De acordo com a doutrina católica, a substância do pão e do vinho, ao contrário da concepção protestante, é mudada total e permanentemente no corpo e no sangue de Cristo. Por isso, as partículas consagradas nas igrejas católicas são guardadas nos tabernáculos, ou sacrários.
O maior obstáculo no diálogo ecumênico é o próprio papa, afirmou Paulo VI com franqueza. Os protestantes rejeitam o primado de jurisdição e a infalibilidade do papa. De acordo com a concepção católica, o papado é uma instituição divina. Jesus estabeleceu Pedro como primeiro papa ao lhe dizer: “Tu és a rocha sobre a qual construirei a minha Igreja”. No entanto, hoje, essa instituição não é mais entendida em sentido histórico. Os luteranos poderiam reconhecer que Pedro, tanto no tempo de Jesus, quanto depois da sua ressurreição, teve um primado entre os apóstolos. No entanto, eles recusam um primado exclusivo de Pedro e um primado ligado à pessoa.
João Paulo II convidara a um diálogo sobre o primado do papa. Na sua encíclica ecumênica Ut unum sint, de 1995, ele manifestou a vontade de “encontrar uma forma de exercício do primado que, sem renunciar de modo algum ao que é essencial da sua missão, se abra a uma situação nova”. A esse respeito, diversas propostas foram formuladas pela parte católica. O então cardeal Joseph Ratzinger, em 1982, no diálogo com as Igrejas ortodoxas, propôs interpretar o dogma da infalibilidade do papa à luz da doutrina e da práxis do primeiro século, isto é, em uma época que ainda não conhecia a infalibilidade e o primado de jurisdição na forma atual.
O jesuíta Karl Rahner propunha que o papa se limitasse à sua competência jurídica e renunciasse ao poder. O teólogo de Tübingen Hans Küng é favorável a um “primado pastoral”. Isto é, o papa deveria renunciar amplamente às suas prerrogativas tradicionais e exercer o ministério petrino através de uma ação conforme ao Evangelho como supremo servo e pastor. Mas nenhuma dessas propostas é capaz de encontrar consenso na Igreja Católica.
No entanto, existem diferenças entre católicos e protestantes não apenas sobre os problemas de fundo. Há desunião também no objetivo final a que deve tender o diálogo ecumênico oficial, cuja meta é desejável alcançar. Do ponto de vista católico, o propósito de todos os diálogos deve ser, em última instância, a “plena unidade visível”. Isso não significa que os protestantes devam simplesmente renunciar a todas as suas tradições e ritos, e entrar na Igreja Católica. Mas significa que os católicos e os protestantes formam, também do ponto de vista institucional, uma Igreja. No entanto, continua em aberto o debate, também da parte católica, sobre como, na prática, essa unidade deve ser conjugada.
É sempre válido o que disse o bispo ecumênico alemão Gerhard Feige em 2014: hoje, no ecumenismo, ainda não temos uma ideia clara de como a plena unidade visível, concretamente, pode se manifestar. É óbvio, no entanto, que a unidade não significa simplesmente uniformidade.
Da parte dos protestantes, nos últimos anos, preferiu-se falar repetidamente de “diferença reconciliada” para descrever o propósito do diálogo ecumênico. Tal unidade seria concebível mesmo sem uma unidade visível.
As diversidades teológicas que atualmente dividem católicos e protestantes não são, de fato, apenas sutilezas acadêmicas. As suas consequências afetariam a vida cotidiana de ambas as Igrejas. Isso pode ser percebido por cada católico que participa de um serviço litúrgico protestante e por cada protestante que visita uma missa católica. Discute-se se e como essas diferenças teológicas hoje são insuperáveis e fator de divisão entre as Igrejas.
Karl Rahner já observou em 1973 que o diálogo ecumênico “no plano da alta teologia teológica”, atualmente, “não encontra pontos controversos insuperáveis que não permitam ao menos entrever como uma unificação poderá ser alcançada”. Mas Rahner também fez uma exceção: o problema do primado do papa.
Mas, mesmo que fosse assim, a alta teologia acadêmica é apenas um ator no diálogo ecumênico. E aqui também há vozes totalmente diferentes que não compartilham a avaliação confiante de Rahner. O Papa Francisco declarou-se mais cético do que Rahner sobre as perspectivas de sucesso dos diálogos da alta teologia acadêmica. “Se acreditamos”, disse, referindo-se ao ecumenismo, “que os teólogos chegarão a um acordo, a unidade chegará depois do juízo final.”
Com efeito, mesmo no plano hierárquico e na vida concreta de todos os fiéis, uma aproximação não é fácil. De fato, as diferenças teológicas também são diferenças na práxis de fé e na vida da Igreja. Um afastamento das posições confessionais em favor do ecumenismo teria consequências de grande porte. Se, por exemplo, a consagração sacerdotal na Igreja Católica não representasse mais uma diferença qualitativa em relação ao sacerdócio dos fiéis, então também seria questionado o atual desenvolvimento da celebração eucarística.
E vice-versa: quem poderia imaginar hoje uma Igreja Evangélica na Alemanha que reconhecesse o Papa Francisco mesmo que apenas como líder honorário ou porta-voz da cristandade?
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Reforma: as diferenças permanecem. Artigo de Thomas Jansen - Instituto Humanitas Unisinos - IHU