01 Novembro 2017
De modo formal, o Vaticano prefere manter uma linha de prudência sobre a cúpula dos dias 10 e 11 de novembro, dedicada ao desarmamento nuclear desejado pelo Papa Francisco com representantes da ONU, da Otan e 11 prêmios Nobel da Paz.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 31-10-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No entanto, a expectativa de que surja a possibilidade lançar as bases para “uma nova fórmula de mediação entre a Coreia do Norte e outros Estados para garantir a paz e o bem-estar ao mundo inteiro” não está excluída. Quem afirmou isso foi Silvano Tomasi, delegado do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, sobre o desarmamento nuclear, para quem, embora neste momento não haja uma negociação “particular” – assim também confirmou a Sala de Imprensa da Santa Sé –, existe “uma linha, eficaz e coerente, que vem desde os tempos de Pio XII até hoje” e que “adverte a todos os países sobre o fato de que o uso da energia atômica, ou mesmo da sua posse apenas, pode ter consequências humanitárias inaceitáveis”.
O próprio Francisco, por sua vez, acompanha com preocupação, e não de hoje, os riscos de conflito na Coreia e está ciente de que, para chegar a uma solução, é preciso pôs sobre a mesa “a questão do desarmamento, mas também a da fome e da participação na comunidade internacional”.
Bergoglio é constantemente informado sobre a evolução da situação pelo secretário de Estado vaticano, Pietro Parolin, e pelo prefeito do dicastério que organiza o evento, o cardeal Peter Turkson. Notícias diretas também chegam dos muitos missionários envolvidos na Coreia do Sul, o país com uma das porcentagens de católicos (10% da população) mais altas do continente asiático, com exceção das Filipinas e do Timor-Leste.
Em uma entrevista concedida à revista La Civiltà Cattolica, foi o presidente da Conferência Episcopal da Coreia e arcebispo de Gwangju, Hyginus Kim Hee-Joong, que explicou que foi enviado, em maio passado, ao Vaticano pelo novo presidente da República coreana, Moon Jae-in, para entregar ao papa uma carta na qual ele lhe pedia “ajuda e oração” apenas alguns dias antes da sua audiência com o presidente Trump, ocorrida no dia 24 de maio.
No entanto, na época como hoje, continuou havendo uma certa prudência da Santa Sé sobre essa questão, pelo fato de que nem todas as notícias que chegam são claras. O próprio Francisco disse isso ao voltar da Colômbia em setembro passado: “Digo-lhe a verdade”, afirmou ao jornalista que havia lhe perguntado sobre Trump e a Coreia, “eu não entendo, realmente. Porque não entendo esse mundo da geopolítica. É muito forte para mim. Mas eu acho que, lá, há uma luta de interesses que me escapam, não posso explicar, realmente”.
O Papa Bergoglio repetidamente falou sobre a urgência de eliminar todas as bombas atômicas, de encontrar uma modalidade nova para garantir a segurança dos Estados, baseada no desenvolvimento da confiança recíproca, na boa vontade, no respeito pelas leias e pela jurisprudência internacional.
Mas, acima de tudo, recordou Tomasi mais uma vez, baseada no “respeito e na garantia de todos os direitos humanos: a sociedade não precisa mais usar a violência para defender interesses ou princípios. Não é uma opinião abstrata, mas é a estrada concreta que leva à manutenção da paz”.
Sem dúvida que, na cúpula, Francisco se referirá à crise coreana, mas, “mesmo que não o faça por nome, reiterará que devemos evitar as crises atuais e tomar uma estrada mais humana e mais coerente, que é a do diálogo, o único método seguro para garantir paz”, concluiu o prelado vaticano.
A esse respeito, Bergoglio também quis falar nessa segunda-feira, durante uma visita feita justamente à sede do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral: “A humanidade corre o risco do suicídio”, disse ele, reiterando, depois, a sua denúncia de todo comércio de armas, um comércio “que estimula e que mantém vivos esses focos de conflito”.
“Estamos em uma verdadeira guerra”, lembrou. E, de acordo com o que foi relatado pela Radio Vaticana, “falando das armas nucleares – que são uma ameaça que, infelizmente, está presente há décadas, mas que, de tempos em tempos, torna-se mais aguda como nos momentos atuais –, o papa falou justamente de ‘suicídio da humanidade’, desse risco do suicídio da humanidade. Ele pronunciou palavras muito fortes”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A condenação de Francisco: ''Com a energia nuclear, a humanidade corre o risco do suicídio'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU