27 Outubro 2017
"Somos Igreja de Jesus de Nazaré! Somos Igreja que nasce do Povo pela força do Espírito de Deus! Somos CEBs" escreve em artigo Frei Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia (UFG).
Como comuniquei no artigo anterior “A força principal das CEBs: a Fé em Jesus Cristo Libertador” (leia o artigo na Internet), de 20 a 22 deste mês de outubro, aconteceu na Paróquia Nossa Senhora da Terra (Jardim Curitiba III - Região Noroeste de Goiânia) o Encontro Mini-Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs do Regional Centro-Oeste (Goiás e Distrito Federal).
Participaram cerca de 170 pessoas (delegados e delegadas das Arquidioceses de Brasília e Goiânia; e das Dioceses de Uruaçu, Formosa, Luziânia, Ipameri, São Luís de Montes Belos, Itumbiara, Anápolis e Goiás; as Dioceses de Rubiataba-Mozarlândia e Jataí não enviaram representantes), que irão a Londrina - PR para o 14º Encontro Intereclesial das CEBs (23-27/01/2018). Participaram também do Encontro 7 suplentes, 8 padres (diocesanos e religiosos), 1 religioso, diversas religiosas e as pessoas das equipes de serviço e animação. Tivemos a presença do bispo da Diocese de Goiás, Dom Eugênio Rixen. Nos momentos abertos a todos e a todas tivemos ainda a alegria da presença de irmãos e irmãs das Comunidades que fazem a Paróquia Nossa Senhora da Terra.
O Encontro - preparado com tanto amor e extraordinária dedicação - foi muito bom em todos os seus momentos: Celebração de abertura (com a memória do Jubileu de Diamante da Arquidiocese de Goiânia), Hospedagem nas famílias, Oração comum, Celebração do domingo, Estudo participativo (com a assessoria de Alexandre Rangel), Celebração do Envio e Encerramento.
A experiência de Fé, que vivenciamos e partilhamos no Encontro com a alegria de irmãos e irmãs, faz-nos acreditar que os Encontros locais, diocesanos e regionais de CEBs (rumo ao 14º Intereclesial) são hoje um novo Pentecostes a partir da base na Igreja do Brasil inteiro.
Como nos outros Encontros de CEBs, estudamos e aprofundamos o tema do 14° Intereclesial “CEBs e os desafios do mundo urbano” e o lema “Eu ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3, 7).
Hoje, infelizmente, nossas Igrejas (sobretudo os padres e bispos) - em sua maioria - mostram-se indiferentes, desinteressadas e, às vezes, até cínicas em relação às CEBs. Sei de Igrejas que - em sua estrutura física - tinham um espaço para as CEBs e o CEBI (Centro de Estudos Bíblicos). Há tempo foram excluídos, ou melhor, descartados e tiveram que procurar outro lugar. É lamentável, mas compreensível!
Os poderosos e seus aliados “eclesiásticos”, os que moram em palácios ou mansões civis ou episcopais, os sinédrios “católicos” atuais e os que se fecham em sua auto suficiência clerical (o clericalismo, que - como diz o Papa Francisco - é “uma peste na Igreja” e “o pior mal da Igreja na América Latina”) não têm as mínimas condições de entender e, menos ainda, de vivenciar o jeito de ser Igreja das CEBs: uma Igreja “pobre, para os pobres, com os pobres e dos pobres”, mas aberta a todos aqueles e aquelas que - mesmo sendo ricos e ricas - se convertem, mudam de vida, praticam a partilha e aceitam seguir Jesus de Nazaré (como aconteceu com Zaqueu, o homem rico do Evangelho, no encontro com Jesus).
“Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelastes aos pequeninos” (Lc 10, 21).
Apesar de tanta indiferença, desinteresse e cinismo, as CEBs não morreram, como ironicamente muitos e muitas costumam dizer. Elas são muito vivas e cada vez mais fortes, sobretudo quando não são reconhecidas e quando - às vezes - são até perseguidas e obrigadas a viver nas catacumbas.
As CEBs são obra do Espírito Santo. “Descerá sobre vocês o Espírito Santo e Dele receberão força para serem minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra” (At 1, 8). As CEBs são “Igreja que nasce do Povo pelo Espírito de Deus” (1º Intereclesial. Vitória - ES: 06-08/01/1975).
As CEBs são Igreja de Jesus de Nazaré; são Comunidades que - apesar de suas limitações humanas - vivem no mundo de hoje a radicalidade do Evangelho; são “de base”, por serem encarnadas na vida do Povo.
Diz o Papa Francisco: “O Povo é sujeito. E a Igreja é o Povo de Deus a caminho na história, com alegrias e dores. Sentir com a Igreja é para mim, pois, estar neste Povo. E o conjunto dos fiéis é infalível no crer, e manifesta esta sua infalibilidade crendo (...)” (Pe. Antônio Spadaro, S.J., diretor da “Civiltà Cattolica”. Entrevista ao Papa Francisco, publicada simultaneamente em 26 Revistas sob a responsabilidade de Jesuítas, 19/08/2013). Que testemunho bonito de humildade! Sigamos o seu exemplo!
As CEBs - na diversidade dos carismas e ministérios - acentuam (como fazia o apóstolo Paulo) a condição comum a todos os cristãos e cristãs, renascidos e renascidas pela água e pelo Espírito: “santos e santas”, “eleitos e eleitas”, “discípulos e discípulas”, “irmãos e irmãs” (no Novo Testamento nunca aparece o termo “leigo ou leiga” e nem o termo “clero”).
"Deve-se - ensina o Concílio Vaticano II - reconhecer cada vez mais (reparem: cada vez mais) a igualdade fundamental entre todos e todas" (A Igreja no mundo de hoje - GS, 29). E ainda: “Reina entre todos e todas verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos e todas os e as fiéis na edificação do Corpo de Cristo" (A Igreja - LG, 32).
Somos Igreja de Jesus de Nazaré! Somos Igreja que nasce do Povo pela força do Espírito de Deus! Somos CEBs! Com o salmista cantamos: “Eles e elas (que dizem que as CEBs morreram) se curvam e caem; nós nos mantemos de pé” (Sl 20, 9). Unidos e unidas na caminhada!
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Novo Pentecostes a partir da base - Instituto Humanitas Unisinos - IHU