05 Outubro 2017
"Nas últimas décadas, a dramática realidade dos abusos sexuais contra menores estourou com toda a força na Igreja e emergiram fatos muito graves". Isso foi afirmado pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin na conferência sobre a "dignidade dos menores no mundo digital", que foi aberta nesta terça-feira na Pontifícia Universidade Gregoriana. A Igreja, disse Parolin, foi "progressivamente tornando consciência dos danos sofridos pelas vítimas, de seu sofrimento e da necessidade de ouvi-las para então atuar em diferentes frentes, com uma vasta gama de intervenções que devem ser postas em prática para sanar as feridas, restabelecer a justiça, prevenir os delitos e formar os educadores com vista a promover e consolidar uma cultura de proteção dos menores".
Um compromisso e um esforço para assegurar que "os direitos dos menores sejam protegidos e defendidos com muito mais atenção e eficácia do que vinha sendo feito no passado". Neste sentido o cardeal Parolin comentou sobre o caso de Mons. Carlo Alberto Capella, o diplomata do Vaticano sob investigação por posse de pornografia infantil no Canadá. "É um episódio doloroso, é uma grande prova para todos aqueles que estão envolvidos", disse o cardeal, "estamos tratando o caso com a máxima seriedade, com o máximo esforço e a máxima atenção. No restante, tudo corre em segredo, justamente para proteger a verdade e a justiça que, como em todos os casos judiciários, devem ser buscadas também neste caso".
A reportagem é de Michele Raviart, publicada por Radio Vaticano, 04-10-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segundo a Interpol, em 2016 os casos de abusos sexuais contra menores através da rede (distribuição de vídeo e imagens, aliciamento), atingiram cinco crianças por dia."Os fenômenos que observamos chegam a níveis chocantes de gravidade, a sua dimensão e velocidade de propagação superam a nossa própria imaginação", disse o cardeal Parolin. O mundo digital, de fato "não é uma área separada do mundo: é uma dimensão do nosso único mundo real e os nossos menores que crescem nele estão expostos a novos riscos, ou riscos antigos que encontram novas formas de se expressar". E isso é ainda mais verdadeiro em países onde o acesso às novas tecnologias não acompanha o desenvolvimento econômico e social.
"Centenas de milhões de crianças e jovens estão crescendo em um mundo digital, mas em um contexto ainda subdesenvolvido", continuou Parolin, com pais que não têm condições de ajudá-los a crescer com essas tecnologias e governantes que não sabem "por onde começar para protegê-los". "As periferias", de que fala continuamente o Papa Francisco "que se encontram também dentro de sociedades ricas, onde há muita pobreza humana e espiritual". "Não por acaso", afirmou o secretário de Estado do Vaticano, "muitas vezes, são os menores dessas periferias os objetos preferenciais das redes de exploração e violência organizada on-line em escala global".
A conferência sobre "a dignidade dos menores no mundo digital", organizada pelo "Centro de Proteção da Criança" da Gregoriana, WeProtect e Telefono Azzurro, propõe até sexta-feira uma debate entre 150 profissionais, políticos, cientistas, líderes religiosos e grandes empresas que operam na web. "Acredito que o valor desta reunião é o de tentar reunir aquelas que são as 'melhores práticas', justamente para lidar com esse fenômeno que está se tornando cada vez mais difundido e sempre mais grave", afirmou ainda o cardeal Parolin.
O objetivo é desenvolver uma estratégia coordenada e comum, para que, como falou Joanna Shields, fundadora da WeProtect, as futuras gerações não tenham que perguntar por que não fizemos mais. Os nativos digitais "dormem menos, saem menos, se relacionam menos e manifestam atraso nos comportamento que durante décadas marcaram a transição para a vida adulta", em um mundo como o da Internet, que acreditamos intrinsecamente bom, mas ao qual tem acesso todo tipo de pessoa.
"Creio que realmente seja necessária uma compreensão, uma leitura desse perigo em âmbito global", declarou a ministra da Educação italiana, Valeria Fedeli, "já estamos operando nisso e vamos continuar a implementar ações específicas que são para a formação, a educação digital para os docentes e para os jovens, porque precisam estar preparados para saber o que pode ser encontrado na rede. Assim, todas os instrumentos para combater o que pode ser encontrado na rede não só em relação ao cyberbullying, mas também sobre a pedofilia, porque este é um outro elemento muito profundo e, infelizmente, global".
Na próxima sexta-feira os delegados apresentarão a declaração final da conferência ao Papa Francisco, que os receberá em audiência.
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Parolin: "Emergiram fatos muito graves a respeito do abuso de menores na Igreja" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU