O caminho desobediente de Thoreau e o despertar da vida

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Por: Ricardo Machado | 31 Agosto 2017

Atento ao tempo, Thoreau encontrou no caminhar um modo de se relacionar com o mundo, uma forma de existência, uma filosofia de vida. O Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em sua caminhada de quase 17 anos, pela primeira vez realizou um evento no campus Porto Alegre da Unisinos, em um movimento que encontra eco na expansão da universidade para a capital gaúcha. Na terça-feira, 29-8-2017, iniciou-se o VII Colóquio Internacional IHU. Caminhando e desobedecendo – Thoreau 200 anos, com a conferência presencial do professor Kelly Dean Jolley, seguido da teleconferência da professora e tradutora de Thoreau no Brasil, Denise Bottmann, e do professor doutor Flavio Williges. A programação do evento teve continuidade na quarta-feira, 30-8-2017, com as conferências sendo transmitidas via streaming na página inicial do sítio do IHU.

Ainda na terça-feira à noite, depois da fala de abertura de Kelly Dean Jolley, intitulada "Aqui estou": Experiência, Deliberação e Economia em Thoreau, os participantes puderam assistir ao painel O apelo da Natureza, com Denise Bottmann e Flavio Williges.

No fundo, Denise e Flavio em teleconferência no VII Colóquio Internacional IHU (Foto: Ricardo Machado/IHU)

Do incognoscível ao fenomenológico

Denise Bottmann chamou atenção para a obsessão observadora de Thoreau em encarar a vida. E foi justamente a partir dessa perspectiva que a conferencista partiu para uma análise teórica sobre como o escritor entendia o mundo. 

“O númeno, a coisa em si, não é possível de se conhecer, porque não temos inteligência para isso. É somente o fenômeno que somos capazes de perceber. O empirismo, e Thoreau entra aí, vai se debruçar sobre a forma como as coisas aparecem para nós, mas isso não significa que aquilo que percebemos e sabemos é verdadeiro. Tudo o que sabemos é que o mundo vem estabelecido nas categorias com as quais o observamos”, pontua Denise

Em convergência ao empirismo, está o unitarismo. Enquanto o primeiro está para a filosofia, o segundo está para a teologia. “No Brasil, devido à nossa tradição católica, é muito difícil penetrar no que seria o unitarismo protestante dos EUA, pois pertencemos à tradição trinitária. Isso tudo vai aparecer em Thoreau a partir de uma constelação histórica em que há o desenvolvimento das filosofias empiristas em conexão com o unitarismo em termos teológicos”, explica Denise.

Nos bosques com Thoreau

Flavio Williges destacou que é preciso, também, ver o sentido ético da obra de Thoreau. Apesar dos textos do escritor serem retomados filosoficamente, sobretudo a partir de Cavell, ele nunca foi um tratadista filosófico. “Thoreau tem muitas palestras e anotações de diários que são muito mais exortativas e provocadoras do que a apresentação de proposições teóricas. Ele dizia que ater-se ao presente é uma maneira de ter uma vida boa, integral”, frisa Williges.

Caminhar, para Thoreau, nunca se tratou de um gesto ligado à saúde física, mas um ato profundamente existencial. “Para ele, caminhar é um método de cognição moral. A transformação maior envolve uma experiência, o que Thoreau está disposto a dizer é que o corpo não é um intermediário, mas a própria experiência moral está contida na relação corpo-mente-ambiente”, ressalta o professor. “Os juízos morais são mediados por reações afetivas”, complementa.

Despertar

O pensamento de Thoreau, longe da simplicidade aparente de seus escritos, é um sofisticado exercício de pensamento crítico sobre si próprio e sobre o mundo. Distante dos cânones acadêmicos e totalmente imerso no espírito libertário de seu tempo, o convite da literatura profundamente filosófica de Thoreau é um convite à aurora da existência. 

Não à toa, Thoreau encerra o livro Walden (Porto Alegre: LP&M, 2015) com a seguinte frase. “Só amanhece o dia para o qual estamos despertos. O dia não cessa de amanhecer. E o Sol é apenas a estrela da manhã.” 

Conferencistas

Denise Bottmann (Foto: arquivo pessoal)

Denise Guimarães Bottmann é graduada em História pela Universidade Federal do Paraná - UFPR, mestra em História pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, onde também iniciou o doutorado sem concluí-lo. Atua na área de tradução de obras de literatura e humanidades desde 1984 e dedica-se a pesquisas sobre a história da tradução no Brasil. Denise apresentou o painel O apelo da Natureza, dentro da programação do VII Colóquio Internacional IHU – Caminhando e desobedecendo. Thoreau 200 anos.

Flavio Williges (Foto: arquivo pessoal)

Flavio Williges é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria, mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria em convênio com a Universidade de São Paulo - USP e doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. É professor no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria. Atualmente, Flavio faz estudos nos Estados Unidos onde dá continuidade às investigações sobre Thoreau e de onde falou na terça-feira à noite, juntamente com Denise Bottmann no painel O apelo da Natureza.

Kelly Dean Jolley (Foto: Susana Rocca/IHU)

Kelly Dean Jolley é professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Auburn, nos Estados Unidos. Centra seus estudos em questões relacionadas à psicologia filosófica, metafilosofia, filosofia do século 20 e filosofia antiga. Além disso, fora da academia, escreve poesias e é ávido leitor de literatura. Suas produções podem ser acessadas em kellydeanjolley.com.

 Assista à conferência de Denise e Flavio na íntegra

 

Assista à conferência de Kelly Dean Jolley na íntegra

 

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