10 Julho 2017
As vans brancas se encontram no bairro de Ostiense. Na sede das ACLI (Associações Cristãs dos Trabalhadores Italianos), Lidia Borzì entrega aos voluntários do programa "O pão para quem precisa 2.0" um mapa com dezenas de pontos vermelhos. São as padarias que fornecem o pão que sobra no final do dia. Em poucas horas ele estará nas mesas de refeitórios, albergues e cantinas de associações em Roma que atendem os necessitados. "Para combater o desperdício de alimentos mapeamos fornos e organizações que precisam de ajuda", explica Borzì enquanto indica num mapa os "laços de solidariedade a quilômetro zero".
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 09-07-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
De migalha em migalha, como o Pequeno Polegar, em um ano foram recuperados 200 milhões de euros e agora o modelo de Roma, premiado pelo "compromisso da entidade para o bem comum" no Festival da Doutrina Social em Verona, é exportado pela ACLI para Gênova e Bolonha. "Organizamos um circuito virtuoso de Bem-Estar de baixo para cima, colocando em contato a realidade da luta contra a pobreza com a responsabilidade social das empresas", acrescenta. À recuperação do pão soma-se a sensibilização através de reuniões, conferências e apresentações em feiras, escolas, municípios e redes sociais para "promover novos modelos educacionais e sociais" e "educar para a prevenção e o estilo de vida sóbrio".
Em Roma a iniciativa da ACLI e Sant'Egidio para combater o desperdício de alimentos. Almoço de Natal com os pobres na Basílica de Santa Maria in Trastevere, em Roma (Foto: Comunidade de Santo Egídio)
Dessa forma, relata Borzì, supera-se o assistencialismo e cria-se um efeito multiplicador de solidariedade graças ao desenvolvimento de uma rede de realidades que contrastam a pobreza. Em torno da redução do desperdício desenvolve-se um movimento de voluntariado que se estende a outras categorias de produtos: de refeições nos dormitórios para indigentes à distribuição de saquinhos de comida na estação Termini e ao longo da Via della Conciliazione. Uma ajuda veio da lei 166 que há um ano introduziu subsídios e incentivos fiscais para as empresas que doam alimentos. "Agora os produtos de padaria podem ser doados dentro de vinte e quatro horas da saída do forno e isso acaba recuperando grandes quantidades de pão fresco que não foi vendido", observa Borzì.
Desperdício e carência de alimentos se encontram nos centros e nos refeitórios para os pobres de Sant'Egidio. Em 2007, um em cada dez hóspedes era italiano, hoje a proporção é de três a cada dez. "Durante a crise triplicou o número de italianos carentes que frequentam as nossas mesas” ressalta Roberto Zuccolini, porta-voz da Comunidade. “Em uma década, mesmo em nossos centros de distribuição de alimentos e vestuário os italianos triplicaram. Trata-se, principalmente, de pessoas com mais de 65 anos. Apenas no centro de Trastevere distribuímos cinco toneladas de alimentos por semana (alimentos de diferentes tipos, massas, açúcar, tomate) num total de 40.000 cestas por ano".
As refeições distribuídas no refeitório de via Dandolo foram 92.000 em 2016. No mesmo ano, as refeições oferecidas na rua pela Sant'Egidio ultrapassaram as 112.000 em 21 bairros de Roma e em 5 municípios da província (Civitavecchia, Fiumicino, Nettuno, Santa Marinella, Tivoli). Além de Roma, a distribuição de cestas alimentares ocorre em muitas outras cidades italianas (especialmente em Gênova e Messina) somando cerca de 200 toneladas de alimentos em 2016. O 10% é o resultado da recuperação de frutas e legumes através de convênios com mercados de hortifrutigranjeiros. Outra parte vem de supermercados e armazéns, das doações de alguns comerciantes e, em certas épocas do ano, de coletas realizadas por voluntários, como na campanha "um quilo de solidariedade", ou seja, a proposta feita aos clientes na porta dos supermercados para comprar um quilo a mais de alimentos para os necessitados.
Uma campanha extraordinária de coleta é realizada no Natal: no último 25 de dezembro foram servidas refeições para mais de 40 mil pessoas pobres na Itália (o evento mais conhecido acontece na basílica romana de Santa Maria in Trastevere). Estima-se que mais de 4 milhões de italianos precisam de ajuda com alimentos diariamente ou ocasionalmente. Destes, 1,2 milhões são crianças. "Além do grande desperdício na distribuição de alimentos, existe também o das famílias: o segredo para combatê-lo é fazer uma rede, ressalta Zuccolini. Só assim se explica o fato de que os nossos almoços de Natal com os pobres são totalmente autofinanciados, com doações em espécie ou dinheiro para comprar a comida e organizar as mesas. As pessoas querem ajudar, mas muitas vezes não sabem o que fazer com o próprio excedente e quem procurar. Quando encontram uma resposta, participam com grande satisfação dessa rede de solidariedade".
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O pão recuperado para as mesas dos pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU