08 Julho 2017
"A trama permite perceber processos que desencadeiam debates airados tanto sobre a ação missional dos jesuítas no Japão como sobre questões associadas a fé e seu valor na definição de lugar do outro no cristianismo e em outras culturas religiosas. Debates que inclusive tornam possíveis certas comparações com outras experiências missionárias e sua representação pelo cinema", escrevem Dr. Artur Henrique Franco Barcelos, mestre e doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica – PUC-RS e professor de Arqueologia da Universidade Federal do Rio Grande – FURG e Dr. Carlos D. Paz – FCH-UNCPBA – Argentina, em resumo que publicamos a seguir.
O Dr. Artur Henrique Franco Barcelos, da Universidade Federal do Rio Grande – FURG e o Dr. Carlos D. Paz, da FCH-UNCPBA – Argentina, estarão na Unisinos no dia 15 de setembro de 2017 (sexta-feira), debatendo o filme "O Silêncio" (2016), a partir das 18h.
A atividade integra o II Congresso Internacional de Estudos Históricos Latino-americanos - II CI-EHILA, que tem por objetivo criar um espaço de discussão e debate transdisciplinar, congregando pesquisadores de todo o Brasil e do exterior interessados em estabelecer um diálogo sobre o tema Historiografia: temas, desafios e perspectivas.
O Congresso ocorre entre 13 e 15 de setembro no Campus de São Leopoldo, Auditório Central. Para mais informações, acesse o site do evento.
O recente filme Silêncio (2016), dirigido por Martin Scorsese, apresenta a um público geral um evento pontual; uma operação de “resgate” de um sacerdote, o padre Ferreira SJ, que deixou de dar notícias desde um Japão atribulado por uma guerra de unificação na qual os cristãos eram perseguidos e martirizados. Ali, no centro da cena, replicando alguns tópicos próprios da escrita inaciana, se localizam dois jovens missionários. Garpe SJ e Rodrigues SJ são aqueles que se lançam em busca de Ferreira, seu professor de quem se suspeita de haver apostatado. Na busca por Ferreira os jovens jesuítas encontram em seu caminho inúmeros obstáculos que, ao mesmo tempo que fazem com que ambos questionem permanentemente sua fé, com maior intensidade Rodrigues, mobilizam as paixões e ânimos do público. A trama permite perceber processos que desencadeiam debates airados tanto sobre a ação missional dos jesuítas no Japão como sobre questões associadas a fé e seu valor na definição de lugar do outro no cristianismo e em outras culturas religiosas. Debates que inclusive tornam possíveis certas comparações com outras experiências missionárias e sua representação pelo cinema.
Silêncio (2016) é uma adaptação de um livro homônimo escrito por Shusaku Endo em 1969. Endo, falecido em 1996, foi um dos mais conhecidos escritores japoneses, com títulos traduzidos e publicados em vários países. A versão cinematográfica de 2016 não foi a primeira que levou o romance Silêncio as telas. Em 1971, Masahiro Shinoda dirigiu Chinmoku (título original do livro). O livro de Shusaku Endo recebeu três edições no Brasil (1979,2011 e 2016) e uma na Argentina (2017). Nossa intenção é colocar em conversação/debate não apenas as tramas discursivas presentes em ambos filmes de 1971 e 2016, mas também questões textuais e paratextuais, na perspectiva de Gérard Genette, presentes nas diferentes edições do livro de Endo no Brasil e na Argentina. Junto a estes enfoques, apresentaremos para o debate aspectos vinculados a fé dos protagonistas, a universalidade de Deus, bem como a emotividade veiculada pela trama entre o público em geral.
Estas questões se constituem como o agente que permite colocar em tensão debates históricos, impulsionados por distintas historiografias, com aquelas reflexões promovidas pela Public History e sua ênfase por uma ampla difusão do conhecimento histórico. E se pretende fazê-lo por três matrizes distintas, a literatura, o cinema e a historiografia, em um diálogo não isento de contradições e oposições de narrativas e com distintos alcances de público.
Filmes
Chinmoku (Silence) (1971) Japón – 129 minutos
Direção: Masahiro Shinoda
Roteiro: Masahiro Shinoda
Silence (2017) USA – 2 horas 42 minutos
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Martin Scorsese / Jay Coks
Edições de O Silêncio no Brasil
1979. 1a Edição. Editora Civilização Brasileira, Circulo do Livro.
Prefácio: Tradução do prefácio de Willian Johnston para a 1a edição em inglês (1969) pela Sophia University Press, Tókio. Tradução de Edyla Mangabera Unger.
2011. 2a Edição (1a. da Planeta do Brasil). Traduzida direto do inglês (1969) por Mario Vilela. Contem um prefácio de Martin Scorsese e o prefácio de Wilian Johnston.
2016. 3a Edição (2a. da Planeta do Brasil) É editada pela Tusquets Editores, de Barcelona, com autorização da Planeta, pois são do mesmo grupo. Contém os mesmos prefácios da edição de 2011.
Edições de Silencio na Argentina
2017. 1ª Edición. Edhasa; de la traducción del japonés al inglés, Jaime Fernández y José Miguel Vara; de la presentación, Jaime Fernández.
Bibliografia básica
BOXER, Charles. Deus Destroyed. The Image of Christainity in Early Modern Japan. By George Elison. Harvard East Asian Series No. 72. Harvard University Press, Cambridge, Mass., 1973.
BOXER, Charles. A Igreja Militante e a expansão ibérica 1440-1770. Companhia das Letras, São Paulo, 2007.
CIESLIK, Hubert, SJ, “The case of Christovão Ferreira” en Monumenta Nipponica; Vol. 29; Nro. 1 (Spring, 1974); 1-54.
CROWLEY, Roger. Conquistadores. Como Portugal forjou o primeiro império global. Ed. Planeta. São Paulo, 2016.
Dossiê História Pública. Revista Estudos Históricos. Vol. 27, N.54. Jul-dez 2014. Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, 2014.
LIDDINGTON, Jill. O que é história pública?. In: ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (orgs.). Introdução à história pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011.
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O “Silêncio” de Deus diante da voz dos historiadores. Possibilidades heurísticas a partir da Public History - Instituto Humanitas Unisinos - IHU