23 Junho 2017
Lideranças e representantes da etnia Guarani Kaiowá participaram de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A reportagem é de Debora Brito, publicada por Agência Brasil, 22-06-2017.
Adolescentes e jovens indígenas entregaram ontem (21) à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados um manifesto com denúncias de violações de direitos contra o povo Guarani Kaiowá. A etnia se concentra principalmente na área da fronteira do estado de Mato Grosso do Sul com o Paraguai e representa a segunda maior população indígena do país.
Delegação está em Brasília para falar da realidade difícil de crianças e jovens de várias aldeias da etnia. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasi)l
Segundo o líder Guarani Kaiowá Eliseu Lopes, a delegação da juventude veio à Brasília para falar da realidade difícil das crianças e jovens de várias aldeias da etnia. “Estamos buscando os direitos das crianças e adolescentes. Eles vivem debaixo de lona, bebem água suja, contaminada por agrotóxico, e sofrem ameaças de paramilitares. As crianças também são os que mais sofrem atropelamentos no Mato Grosso do Sul, porque são expulsas da terra”, relatou Lopez.
O grupo de jovens faz parte do Projeto Direitos e Cidadania de Crianças e Adolescentes, que atende, desde 2014, cerca de 300 jovens em cinco comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul. O objetivo do projeto é desenvolver metodologias de empoderamento e participação de crianças e adolescentes indígenas.
Reivindicações
Uma das principais reivindicações da liderança jovem é a melhoria da assistência médica e o fim da violência e mortes causadas por conflitos pela terra. “Estamos sendo muito massacrados, violentados, nossos direitos, garantidos em 1988, não estão sendo cumpridos. O genocídio tem sido frequente. Não utilizamos a terra como mercadoria, a terra é nossa mãe, onde a gente cultiva. Sem a terra não tem educação, não tem saúde, sem terra não há vida”, afirmou o líder dos jovens Guarni Kaiowvá Jânio Rocha.
A líder Gionara Gomes acrescentou que é comum o desaparecimento de corpos, invasão de aldeias por pistoleiros, e reclamou que a aliança entre os fazendeiros e as autoridades locais levam à impunidade dos agressores. “Não é fácil viver numa área retomada, porque você não dorme direito, as crianças têm medo, porque toda hora tem tiro em cima. Isso não é vida pra gente” afirmou.
Leila Rocha e Janio Avalo, lideranças da etnia Guarani Kaiowá, participam de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Os parlamentares da comissão subscreveram o documento e afirmaram que vão encaminhar as denúncias para as autoridades competentes. Houve também o pedido para inclusão das lideranças indígenas no programa de proteção de defensores de direitos humanos.
O secretário-executivo do Ministério dos Direitos Humanos, Johaness Eck, disse lamentar que os desafios enfrentados pelo povo indígena ainda não tenham sido superados nos últimos 30 anos sob a vigência da Constituição Federal, e disse que o projeto tem apoio da pasta.
“Assim como estamos apoiando esse projeto, o importante é que essas novas gerações, junto com as atuais, mantenham seus valores tradicionais e sejam empoderadas a participar da formação e da implementação de políticas públicas por parte do Estado”, afirmou Eck.
Leia mais
- Impunidade e denúncia na ONU: um ano do massacre contra Guarani Kaiowá em Caarapó, no MS
- Operação de guerra é mobilizada no MS, destrói acampamento Guarani Kaiowá e apreende duas armas de brinquedo
- ‘É a Palestina brasileira’, diz diretor de documentário sobre massacre Guarani-Kaiowá
- Governo brasileiro não vê suicídios dos Guarani-Kaiowá como crise, diz jornal canadense
- Aqui a terra treme
- Recebido sob protesto no MS, presidente da Funai promete destravar territórios Guarani Kaiowá
- Guarani e Kaiowá exigem demarcação de suas terras e revogação da Portaria 80 do Ministério da Justiça
- Com "probabilidade de mortes", Justiça Federal suspende despejos contra comunidades Guarani Kaiowá
- Fome entre os Guarani e Kaiowá: "Criança chora, não aguenta mais. Sofrimento mesmo. Quase comendo terra"
- “Ruralistas assinam o massacre de Guarani Kaiowá no MS”
- Povos indígenas na mira de um governo ilegítimo
- O ‘Grito pela Terra’. Entrevista com Ladio Verón
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Adolescentes e jovens indígenas denunciam na Câmara violação de direitos contra os Guarani Kaiowá - Instituto Humanitas Unisinos - IHU