05 Junho 2017
Depois que vários meios de comunicação informaram que o cardeal recém-eleito Jean Zerbo, o primeiro de Mali, mantinha contas bancárias secretas na Suíça, o secretário geral da Caritas para a região afirmou que Zerbo irá promover a paz e o diálogo inter-religioso no país.
O cardeal recém-designado Jean Zerbo, de Bamako, Mali, o primeiro prelado do país da África ocidental a receber tal título, irá usar a sua nomeação para aliviar as crises múltiplas que a região subsaariana enfrenta, disse um assessor próximo a ele, apesar das acusações na imprensa que o associam a um escândalo financeiro.
A reportagem é de Jonathan Luxmoore, publicada por Crux, 03-06-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Theodore Togo, secretário geral da Caritas Mali, disse que o sucesso do novo cardeal designado na edificação das relações inter-religiosas e na ajuda em aliviar as tensões na região – tensões entre o governo e forças rebeldes – tem sido positivo para o país de 17 milhões de habitantes.
“Mas os nossos próprios problemas estão relacionados com a crise que se desenvolve na região, e nós fazemos parte do contexto mais amplo. O que os cristãos podem fazer pela paz e a justiça aqui também tem consequências em outros lugares”, declarou Togo.
O recém-designado Cardeal Zerbo irá receber o barrete cardinalício em um consistório no dia 28 de junho no Vaticano.
Em entrevista ao Catholic News Service em 1º de junho, Togo afirmou que o anúncio do primeiro cardeal de Mali feito pelo papa em 21 de maio foi “recebido com alegria”, representando uma oportunidade para a Igreja ser “mais eficiente e dinâmica em sua missão”, e para o novo cardeal avançar em seu longo “engajamento na reconstrução e reconciliação nacional”.
A alegria da nomeação, no entanto, foi manchada no dia 31 de maio por reportagens publicadas no jornal francês Le Monde e em outros, acusando o cardeal designado, de 73 anos, de manter contas bancárias secretas na Suíça.
O Le Monde afirmou que sete contas, abertas pela conferência episcopal de Mali junto ao banco inglês HSBC em 2002, foram creditadas com U$ 13.4 milhões em 2007. Segundo o jornal, os depósitos, revelados por um consórcio de jornalistas – o SwissLeaks –, formavam um “grande sistema de evasão fiscal” e estavam ligados ao cardeal designado Zerbo e a Dom Jean-Gabriel Diarra, bispo de San.
A acusação de que os líderes eclesiásticos malienses tinham “desviado fundos dos fiéis católicos” foram negados pela conferência dos bispos do país em um comunicado, que afirmou, em 1º de junho, que o dinheiro da Igreja era controlado por uma comissão interdiocesana estabelecida em 1988 para coordenar o trabalho pastoral, caritativo e catequético, sendo “usado com total transparência”.
“A Igreja em Mali cumpre a sua missão de evangelização com dignidade. Ela não pode usar dinheiro sujo para proclamar o Reino de Deus”, lê-se no comunicado.
Rebeldes da etnia tuareg que buscam estabelecer um Estado em separado tomaram conta da maior parte da região norte do Mali em 2012, atuando juntamente com insurgentes islâmicos supostamente associados com a Al-Qaeda.
Em janeiro de 2013, a França interveio com ataques aéreos para travar a marcha dos rebeldes sobre Bamako, e mais tarde entregou a responsabilidade pela segurança a forças do governo maliense e a uma missão militar da ONU.
Sob um acordo de paz firmado em junho de 2015 com o governo do presidente Ibrahim Boubacar Keita, devem-se eleger assembleias regionais, com combatentes rebeldes integrando as forças de segurança nacional.
No entanto, desde o acordo os ataques continuaram, atrasando o retorno de 140 mil malienses deslocados que haviam ido para os países vizinhos de Níger, Mauritânia e Burkina Fasso.
Nascido na Espanha em 1943, o cardeal designado Zerbo ordenou-se em 1971, mais tarde estudando em Lyon, na França, e de 1977 a 1981 no Pontifício Instituto Bíblico de Roma.
Depois de passar seis anos no ministério paroquial e na docência em seminários, Zerbo foi ordenado bispo auxiliar de Bamako em 1988, e nomeado bispo de Mopti em 1994. Em junho de 1998, foi designado para suceder o arcebispo de Bamako Dom Luc Auguste Sangare. O religioso tem sido elogiado por fomentar o diálogo cristão-muçulmano bem como por ter participado, em 2012, das negociações entre os governantes militares de Mali e os partidos oposicionistas.
Em nota, Keita descreveu a elevação do novo cardeal como uma “grande honra para toda a Igreja Católica na África”, e disse que desejava ao cardeal “a saúde e o discernimento necessários” para a sua novel missão.
Togo contou ao Catholic News Service que as lideranças religiosas têm elogiado o cardeal designado Zerbo por uma fala conciliatória proferida durante a inauguração do governo de Keita, em novembro de 2013, e por conseguir fazer com que a Caritas do Mali se tornasse a primeira organização católica da região a agir como observador oficial nas eleições.
“Muito embora Mali não seja um país cristão, e que a nossa comunidade católica seja pequena, ele encoraja a todos, dos seus irmãos bispos para baixo, a se envolverem no diálogo e na reconciliação do país”, afirmou Togo.
“Ainda que as suas principais contribuições para a paz vão continuar sendo sentidas aqui, ele certamente também irá participar dos assuntos internacionais da Igreja, dependendo das tarefas que o papa lhe atribuir”, acrescentou. “Zerbo é uma pessoa aberta, que sabe que é possível avançar numa direção certa, caso os valores corretos estejam em vigor”.
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O primeiro cardeal de Mali deverá promover a paz e a compreensão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU