27 Mai 2017
"A festa da Ascensão enfatiza como a natureza humana que decaiu com Adão hoje se renova em Cristo. Um dos tropários canta isso de forma sublime: 'Ao renovar, ó Deus, a natureza de Adão, que desceu ao mais profundo da terra, agora a fizeste ascender contigo. Tendo-a amada, permitiste que sentasse junto a ti, pois tiveste compaixão e a uniste a ti; tendo-a unida a ti, com ela padecestes: mas, tendo padecido apesar de seres impassível, permitiste que fosse contigo glorificada. Os anjos disseram: Quem é este, este belo homem? Não só homem porém, mas Deus e homem. Portanto os anjos, envoltos em vestes, voaram até os discípulos, dizendo: Homens galileus, aquele que dentre vós se foi, este Jesus, homem e Deus, novamente como homem Deus voltará'", escreve o teólogo e padre Manuel Nin, professor do Pontifício Colégio Grego, de Roma, em artigo publicado por L'Osservatore Romano, 24-05-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Ascensão do Senhor é celebrada no quadragésimo dia depois da Ressurreição, e é uma das grandes festas do calendário litúrgico de todas as Igrejas cristãs. Em alguns textos das celebrações matinais da festa na tradição bizantina, atribuídos a João Damasceno e José de Tessalônica, emergem três aspectos que apresentam pontos em comum: a carne de Cristo, glorificada em sua ressurreição, ascendeu aos céus; o Senhor Jesus sobe até o Pai em glória; e, por fim, com sua ascensão o Senhor renova e restaura a natureza humana que havia decaído com Adão.
Estes são aspectos que acompanham o versículo do Salmo 23, ecoado pelo coro dos anjos: "Erguei as portas antes de Cristo, nosso Rei". Vários tropários do cânone enfatizam a ascensão ao céu da carne glorificada do Cristo Senhor, e dessa forma estreitam o vínculo entre a Encarnação do Verbo de Deus e a ascensão na carne gloriosa do Senhor ressuscitado: "Admirados ficavam os coros dos anjos, vendo no alto dos céus, com a carne, o Cristo mediador entre Deus e os homens, e em júbilo entoavam um hino de vitória. Para o Deus que apareceu no Monte Sinai e deu a Lei ao vidente Moisés, e que do Monte das Oliveiras ascendeu em carne, a ele nós todos cantamos, porque ele tornou-se glorioso".
Na ascensão, na presença dos anjos, o Senhor eleva a natureza humana antes mortal e que agora se torna imortal: "Ascendeste ao Pai, ó Cristo que dás a vida, e exaltaste a nossa estirpe, ó amigo dos homens, em tua inefável compaixão. As legiões dos anjos, ó Salvador, vendo a natureza mortal ascender junto a ti, incessantemente celebravam teu nome, repletas de admiração". A carne glorificada de Cristo será, portanto, aquela com que comparecerá no final dos tempos: "Os anjos aproximaram-se dos teus discípulos, ó Cristo, clamando: Da mesma forma que vistes ascender a Cristo, assim também será com a carne, justo Juiz de todos”.
Em alguns tropários também é feito um paralelo, quase como fosse uma sua prenunciação, entre a ascensão de Elias e a ascensão de Cristo: "Extraordinário teu nascimento, extraordinária tua ressurreição, extraordinária e sublime, ó doador da vida, tua divina ascensão do monte: prefigurando-a, Elias subia ao alto com uma carruagem de quatro cavalos, celebrando a ti, ó amigo dos homens".
A ascensão de Cristo ao Pai na glória é a renovação, a recriação da natureza humana que caiu com Adão: "Ressurgiste novamente no terceiro dia, tu que por natureza és imortal, então ascendeste ao Pai, ó Cristo, levado por uma nuvem, ó Criador do universo. Davi, o inspirado, brada com clareza em seus salmos: Ascendeu aos céus o Senhor entre aclamações e alcançou o Pai, fonte de luz. Ó Senhor, após ter renovado com a tua paixão e ressurreição o mundo envelhecido pelos muitos pecados, ascendeste aos céus, levado pelas nuvens: glória à tua glória".
O paralelo entre a encarnação de Cristo e sua ascensão é também corroborado com imagens tomadas das parábolas evangélicas como a do Bom Pastor e a ovelha desgarrada: "Depois de procurar por Adão que havia se perdido por causa do engano da serpente, ó Cristo, por ele revestido ascendeste ao céu, e sentaste à direita do Pai, partícipe do seu trono, enquanto os anjos exaltavam louvores a ti. Levando sobre teus ombros, ó Cristo, a natureza que havia se perdido, subiste aos céus, e a apresentaste a Deus Pai".
Um dos tropários dedicados à Mãe de Deus com uma bela imagem traça um paralelo entre o ventre cheio de Maria e o Hades esvaziado de todos aqueles que lá estavam: “Bem-aventurado o teu ventre, ó imaculada, pois inexplicavelmente foi digno de conter aquele que prodigiosamente esvaziou o ventre do Hades: suplica-lhe que nos salve, nós que a ti exaltamos louvores”.
Por fim, os textos da tradição bizantina enfatizam a presença dos apóstolos à ascensão do Senhor, tornando-se testemunhas: "Jesus, o doador da vida, levou junto a si aqueles que amava. Ó todo-poderoso Jesus, ascendeste à glória diante dos olhos de teus veneráveis discípulos que exultaram vendo hoje o Criador elevar-se aos céus". Um dos tropários, de Romano, o Melodista, destaca a ascensão do Senhor ao céu e sua permanência sempre presente na vida da Igreja: "Tendo cumprido o plano salvífico sobre nós, e reunido as criaturas terrestres às celestes, ascendeste ao céu em glória, Cristo nosso Deus, sem contudo te afastares de nós, mas permanecendo conosco clamas aos que te amam: Eu estou convosco e ninguém prevalecerá contra vós!".
A festa da Ascensão enfatiza como a natureza humana que decaiu com Adão hoje se renova em Cristo. Um dos tropários canta isso de forma sublime: "Ao renovar, ó Deus, a natureza de Adão, que desceu ao mais profundo da terra, agora a fizeste ascender contigo. Tendo-a amada, permitiste que sentasse junto a ti, pois tiveste compaixão e a uniste a ti; tendo-a unida a ti, com ela padecestes: mas, tendo padecido apesar de seres impassível, permitiste que fosse contigo glorificada. Os anjos disseram: Quem é este, este belo homem? Não só homem porém, mas Deus e homem. Portanto os anjos, envoltos em vestes, voaram até os discípulos, dizendo: Homens galileus, aquele que dentre vós se foi, este Jesus, homem e Deus, novamente como homem Deus voltará".
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Nos textos litúrgicos da tradição bizantina. No céu a natureza humana desgarrada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU