16 Março 2017
O sociólogo espanhol Manuel Castells afirmou, hoje, que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, busca reconverter a globalização à medida de seu país e ainda que critique esse processo, segue obtendo benefícios pessoais do mesmo.
A reportagem é publicada por Sin Embargo, 15-03-2017. A tradução é do Cepat.
Castells falou deste assunto em sua magistral conferência “A globalização é reversível?”, pronunciada na Bolívia, em um ato organizado pelo vice-presidente do país, Álvaro García Linera.
O intelectual disse que, na realidade, Trump não busca acabar com a globalização, mas, ao contrário, transformá-la, “reconvertê-la de acordo com os interesses dos Estados Unidos”, com a construção de uma hegemonia “implacável”, usando seu poder político, econômico e militar.
Destacou que o governo de Trump se retirou do Acordo Transpacífico (TTP), está denunciando o acordo comercial da América do Norte, com México em especial, e deteve as negociações para o comércio pelo Atlântico com a Europa.
Os Estados Unidos também estão pedindo a reorganização da Organização Mundial do Comércio (OMC) para não cumprir suas regras, e também arquitetam um conflito comercial com a China, ainda que, neste caso, realmente não têm feito nada, destacou Castells.
Apontou, no entanto, que à margem da retórica, a organização empresarial Trump pediu ao governo chinês, há alguns dias, 38 licenças para criar empresas na China e as obteve.
“Estamos em uma situação na qual o presidente dos Estados Unidos está jogando, ao mesmo tempo, com o nacionalismo xenófobo de base e com seus interesses pessoais para reorganizar a globalização de acordo com a sua medida política e a sua medida pessoal, econômica”, afirmou.
O intelectual também destacou o fato de Trump incentivar transformações para afetar a globalização comercial, mas não tocar na questão da globalização financeira.
Acrescentou que na Europa também há grupos de extrema-direita, nacionalistas e xenófobos que estimularam o processo do Brexit para promover a saída do Reino Unido da União Europeia, e destacou que há vários movimentos parecidos em outras nações europeias.
Enumerou vários casos em que essas correntes se organizaram politicamente ao redor de propostas para fechar fronteiras aos imigrantes, fazer a denúncia de tratados comerciais e promover o corte das ajudas internacionais para as nações pobres.
O sociólogo diferenciou essas correntes dos movimentos sociais e de resistência, que costumam ser chamados antiglobalização, mas que não questionam a essência do processo. Disse que estes protestos são, na realidade, para exigir uma globalização mais justa e ampla, que incorpore direitos humanos, ecologia, igualdade de gênero e democracia global para todos.
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Trump busca reconverter a globalização conforme os interesses dos Estados Unidos, analisa Manuel Castells - Instituto Humanitas Unisinos - IHU