17 Janeiro 2017
Dar alguns passos é algo que a maioria das pessoas assume como certo. É um processo que parece bastante fácil à primeira vista. É só colocar uma perna na frente da outra. Mas os mecanismos físicos para começar uma jornada são muito mais complexos. Dezenas de músculos devem se expandir enquanto outros se contraem, criando várias tensões no corpo, que nos impulsionam para a frente. Embora muitas vezes vista como algo que deve ser contornado, através de massagens, por exemplo, a tensão é, na verdade, um sinal de que estamos vivos.
O comentário é de Michael O'Loughlin, publicado por América, 23-01-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Se a Igreja funciona como um corpo humano, como afirma São Paulo, por conseguinte deve haver tensões dentro dela.
Desde os primeiros dias de seu pontificado, em 2013, o Papa Francisco tem lidado com muito mais do que a sua cota de tensão na Igreja da qual foi eleito líder. Essas tensões se acentuaram nos últimos meses, à medida que Francisco tenta descentralizar o catolicismo mundial de Roma para as periferias e implementar reformas que os seus apoiadores consideram muito tardias.
Enquanto papas do passado distante exerceram um poder temporal de maneira tão eficaz quanto qualquer rei, a ferramenta mais potente do Papa Francisco é o seu exemplo. As pessoas que ele nomeou como cardeais e bispos são modelos dos tipos de pastores que o Papa considera necessários para a Igreja. Suas muitas entrevistas e conferências de imprensa demonstram sua insistência na questão de que os líderes da Igreja devem se conectar com os católicos. E sua decisão de trazer temas tabus para a discussão demonstra que ele quer que a Igreja enfrente seus desafios, em vez de continuar ignorando-os em prol de uma noção equivocada e simplista da unidade.
O Papa convidou seu rebanho a andar ao seu lado enquanto ele busca renovar a Igreja. Dar os primeiros passos do que promete ser uma longa jornada significa que as tensões na Igreja não cessarão tão cedo. Mas Francisco não tem medo, segundo pessoas próximas a ele, pois confia que Deus está guiando-o nesta jornada, assim como a todos os fiéis.
Em uma fria manhã de novembro, 17 homens envoltos em vestes vermelhas brilhantes estavam em pé diante do imponente altar da Basílica de São Pedro. Juntos, eles se comprometeram a ser "constantemente obedientes à Santa Igreja Romana Apostólica e a São Pedro na pessoa do Sumo Pontífice".
Cada homem aproximou-se de Papa Francisco para receber um chapéu vermelho, um anel e uma bênção. Eles trocaram um beijo como parte do ritual com o Papa e voltaram aos seus lugares, agora como integrantes do corpo mais exclusivo e poderoso da Igreja Católica. Os novos cardeais, em seguida, cumprimentaram dezenas de outros cardeais que assistiram à cerimônia de perto. O ritual é construído a fim de enviar uma mensagem inequívoca: Em Pedro somos todos um.
Mas dias antes da cerimônia quatro cardeais deixaram claro que a unidade da Igreja foi, no papado de Francisco, um tanto complicada. Estes homens, dois dos quais estão na faixa dos 80 anos e não mais em ministério ativo ou elegíveis para participar da votação para o próximo papa, haviam escrito, em setembro, uma carta semelhante a uma passagem do Evangelho ao Papa Francisco.
Professor, pareciam perguntar, se um homem se divorciar de sua esposa e a mulher se casar novamente, criar uma família e continuar praticando sua fé, ela deve ser bem-vinda à comunhão, como parece sugerir sua carta pastoral "Amoris Laetitia", ou devemos seguir as regras estabelecidas pelo seu predecessor, João Paulo II, que a impediriam de participar do sacramento?
A carta, chamada de dubia, contém cinco perguntas fechadas. Foi escrita para problematizar ideias que o Papa Francisco promulgou após um processo de dois anos de consulta com os bispos de todo o mundo, que terminou em outubro de 2015.
O Papa não respondeu diretamente aos cardeais, o que incomodou alguns tradicionalistas da Igreja, mas ele também não ignorou suas preocupações. Em uma homilia, a algumas semanas do consistório - a cerimônia em que novos cardeais são nomeados -, o Papa lamentou a rigidez de alguns clérigos, o que muitos interpretaram como uma cutucada não tão sutil aos que criticaram suas reformas.
"Vamos orar por nossos irmãos e irmãs que pensam que sendo rígidos estão seguindo o caminho do Senhor", pregou Francisco. "Que o Senhor faça-os sentir que Ele é nosso Pai e que Ele ama a misericórdia, a ternura, a bondade, a mansidão, a humildade. E Ele poderá nos ensinar a todos a percorrer o caminho do Senhor com estas atitudes."
A oração foi a maneira de o Vaticano dizer "Deus te abençoe", uma expressão pronunciada com um sorriso por muitas pessoas do sul quando confrontadas em algum encontro tenso.
Depois, três dias antes do Natal, falando à Cúria Romana, Francisco novamente defendeu a reforma, considerando-a "antes e acima de tudo um sinal de vida, de uma Igreja que avança em seu caminho de peregrina". E ele rebateu as críticas, observando que a "ausência de reação é um sinal de morte!".
Quase quatro anos depois de tornar-se papa e logo após seu 80º aniversário, em dezembro, Francisco continua usando uma mescla de deliberações consultivas, decisões firmes e apelos diretamente aos fiéis católicos para conduzir sua agenda. Há indícios hoje de que talvez ele não consiga reformar a Igreja - tradicionalistas e religiosos de dentro da Igreja estão empoderados por causa de esforços como a dubia -, mas Francisco parece mais determinado a avançar com a Igreja do que nunca.
A sinodalidade, ampla consulta com o maior número de pessoas de diversas regiões da Igreja, é a chave para a compreensão da liderança de Francisco.
O Papa Paulo VI instituiu o Sínodo dos Bispos de 1965, uma instituição destinada a continuar o ethos de colaboração entre líderes religiosos surgido durante o Concílio Vaticano II, que remete aos primeiros dias da Igreja. Mas na década de 80 os sínodos haviam tornado-se ineficazes e corriqueiros, com pouco trabalho ou diálogo real que rompesse com a burocracia notoriamente rígida do Vaticano.
O clima na sala do Sínodo começou a ficar mais solto em meados da década de 2000, em parte graças ao Papa Bento XVI, que introduziu happy hours após o encerramento das cansativas sessões plenárias. Os Bispos começaram a se abrir uns com os outros enquanto tomavam alguma bebida.
O Cardeal Joseph Tobin, arcebispo recém-nomeado de Newark, que trabalhou no Vaticano por vários anos durante o papado do Papa Bento XVI, declarou que os sínodos anteriores muitas vezes não conseguiram fazer jus ao seu suposto objetivo de promover o diálogo. O Cardeal Tobin, que recentemente recebeu o chapéu vermelho das mãos de Francisco, participou de três sínodos no papado de João Paulo II e de dois no papado de seu sucessor.
"Era um processo muito claro que não permitia real reflexão ou questionamento", disse ele à América, em entrevista na casa geral da ordem redentorista em Roma. "Em vez disso, por mais que possa ser exagerado dizer isso, as pessoas tinham de chegar a uma conclusão à força."
O Papa Francisco anunciou, menos de um ano depois de sua eleição, que ele convocaria um Sínodo especial aos bispos.
Eles discutiriam a vida familiar, e nada ficaria de fora. No outubro seguinte, em 2014, cerca de 200 bispos de todo o mundo foram a Roma para a primeira parte do Sínodo. Eles foram incumbidos de elaborar ideias para fortalecer as famílias e passaram a maior parte de seu tempo refletindo sobre isso.
Mas eles também falaram sobre a dor vivenciada pelos católicos divorciados e recasados, que se sentem desligados da vida paroquial. Eles ponderaram sobre como os gays e lésbicas católicos e suas famílias, por vezes, sentem-se julgados e envergonhados. E refletiram sobre as complexidades que os jovens casais enfrentam quando decidem sobre quando casar e quantos filhos ter - tudo com o encorajamento do Papa.
Não foi como de costume.
Embora a maioria dos cardeais mantivesse um semblante de unidade ao falar com a mídia, eles não conseguiam esconder as tensões que apareciam na sala do Sínodo. Uma primeira versão do documento com as deliberações do Sínodo, que continha alguns dos discursos mais surpreendentemente positivos do Vaticano sobre as pessoas homossexuais, vazou para a imprensa a fim de minar as deliberações. Assim, a noção de que católicos divorciados e recasados poderiam receber a comunhão tornou-se uma linha divisória entre reformistas e tradicionalistas.
O sínodo foi concluído sem um consenso claro sobre os temas mais sensíveis e o Papa pediu que os participantes retornassem para casa e refletissem cuidadosamente sobre o que havia acontecido. Outra rodada de deliberações aconteceria em um ano. Para não fechar o diálogo, Francisco evitou abrir seus planos.
Quando os delegados voltaram, as altas tensões permaneceram. No início da reunião, 13 cardeais assinaram uma carta dirigida ao Papa sugerindo que seu sínodo havia sido planejado para levar a uma conclusão pré-determinada ao invés de promover o diálogo aberto. Alguns bispos sentiam que o processo tinha saído do controle.
"Depois de meio caminho andado, eu acreditava que o Sínodo havia se tornado uma completa e absoluta bagunça", disse o arcebispo Mark Coleridge, da Arquidiocese de Brisbane, na Austrália, e delegado do Sínodo à revista América, em uma entrevista recente. "Eu não conseguia ver onde ele estava indo ou como chegaria lá."
O Arcebispo Coleridge, que havia trabalhado no gabinete de secretaria de Estado do Vaticano no papado de João Paulo II, disse que, embora tenha considerado algumas partes do sínodo "angustiantes", ele nunca duvidou de que o Papa Francisco tinha um plano.
Seis meses depois, em abril de 2016, o Papa lançou o "Amoris Laetitia", que resumiu as conclusões do processo sinodal.
Além de descrever a beleza da vida familiar e da necessidade de a Igreja apoiar as famílias de maneira mais eficaz, o Papa também sugeriu uma forma de avançar na questão da Comunhão.
Ele pareceu sugerir que, através de um processo de discernimento e de penitência, em consulta com um padre, os católicos divorciados e recasados que desejavam receber a comunhão pudessem ser readmitidos ao sacramento. O Papa buscou avançar sobre o assunto em uma nota de rodapé, um sinal de que este ensinamento não era a principal questão da carta. O fato de que uma única nota de rodapé em um documento de 325 parágrafos sobre a vida familiar está recebendo o maior destaque do documento é angustiante para alguns católicos.
Helen Alvare, advogada e assessora de conferência dos bispos dos EUA que muitas vezes escreve sobre casamento e família, disse à América que a atenção descomunal à questão do divórcio e a falta de atenção a outras questões importantes da família é "de partir o coração". Além disso, segundo ela, "esta cobertura baseada em 'quem está por cima e quem está por baixo' nas respostas dos Bispos à AL significa perder a oportunidade de torná-la a Carta Magna de um novo foco do matrimônio para a Igreja".
Ainda assim, a questão do divórcio tem abalado a Igreja e é uma pista de onde o Papa pretende levar os fiéis. Em setembro do ano passado, quando bispos da Argentina lançaram uma estrutura mais concreta do processo de abertura da Comunhão, que posteriormente encontrou um aceno papal positivo, foi a indicação mais clara até agora de que através da sinodalidade Francisco quer remodelar as estruturas da Igreja.
"A ideia é que no mundo todo, na Igreja global, haja uma maior disposição para a liderança, de uma forma menos centralizada, em tensão criativa com o centro", disse o cardeal Tobin.
Fazer perguntas difíceis, decidir com o maior número de mentes possível e então tomar uma decisão. Dar mais um passo ao longo do caminho. Papa Francisco pode não saber para onde o processo vai levá-lo ou levar a Igreja, mas está confiante de que ficar no mesmo lugar não é uma opção.
A mais de 6.000 milhas do Vaticano, na ensolarada San Diego, na Califórnia, cerca de 125 católicos passaram os últimos meses do verão do ano passado estudando a "Amoris Laetitia" e questionando como o documento poderia ser melhor aplicado à diocese de quase um milhão de católicos.
Esta tarefa foi dada por Dom Robert McElroy, que ficou reconhecido como um especialista sobre esta política na hierarquia dos Estados Unidos. Ele passou a maior parte de sua carreira sacerdotal na sua terra natal, São Francisco, antes de ser nomeado líder da diocese de San Diego pelo Papa Francisco em 2015.
O bispo McElroy é o tipo de líder que o Papa Francisco afirma querer como bispo: um pastor que não ceda à tentação de lutar contra a cultura, mas sim se concentre em pregar a amplitude do ensinamento social católico em praça pública.
Reconhecendo que algo novo estava acontecendo em Roma durante os dois Sínodos dos Bispos, Dom McElroy decidiu seguir o exemplo do Papa e realizar uma reunião semelhante em casa.
"Ao ver o Papa falar tanto sobre a sinodalidade, pensei que esta poderia ser uma maneira de deliberar na diocese e fazer o planejamento pastoral de uma forma focada e que integre os leigos de forma substancial no processo", disse o bispo McElroy à América durante uma entrevista sobre a reunião dos bispos dos EUA, em novembro, em Baltimore.
Tendo prometido aos delegados que seu tempo não seria desperdiçado e que, com exceção dos erros doutrinais, suas ideias seriam implementadas, o bispo McElroy estava um pouco preocupado em relação aos caminhos do sínodo. Os delegados leram o "Amoris" e refletiram sobre a maneira como suas lições se aplicam aos católicos locais. O resultado surpreendeu o bispo.
Considere famílias em situação de separação, por exemplo. Os militares têm forte presença em San Diego, e, em função disso, muitas famílias na diocese vivenciam longos deslocamentos, que mantêm cônjuges e pais separados por longos períodos. O "amoris" fala sobre famílias fragmentadas, é claro, mas não necessariamente dessa forma. Situando a mensagem universal do Papa, os católicos de San Diego disseram que a Igreja tem que melhorar e oferecer recursos para famílias separadas pelos deslocamentos militares.
Também havia as questões LGBT ponderadas nos sínodos de Roma, mas reinterpretadas através de uma lente local na Califórnia, que aceita bem as pessoas homossexuais.
As pessoas homossexuais não foram consideradas ameaças ao casamento pela maioria dos delegados sinodais de San Diego.
Em vez disso, eles disseram que as preocupações com gays e lésbicas devem ser pensadas em um quadro mais amplo de espiritualidade familiar; surpreendentemente, um ponto de partida no tom de grande parte da conversa católica sobre as questões LGBT nos últimos anos.
E enquanto os delegados tentavam compreender as questões do divórcio e de novos casamentos - alguns não estavam confortáveis com a ideia de abrir a comunhão -, um dos teólogos indicou o modelo criado pelos bispos argentinos e aprovado pelo Papa. Os delegados disseram que queriam algo semelhante em San Diego, mas também que a diocese deve educar os católicos locais de forma mais ampla sobre a tradição católica da consciência, que vai muito além da questão do divórcio.
O bispo McElroy aceitou suas recomendações e, nos próximos meses, as estruturas administrativas da diocese serão reorganizadas e os sacerdotes serão treinados para acompanhar os que estão impedidos do sacramento da Comunhão em direção à reconciliação.
"Nós vamos fazer o que o Papa nos pediu, e certamente pretendo fazê-lo porque as pessoas nos pediram", disse ele.
McElroy reconheceu que há tensões na Igreja, criadas pelo estilo de liderança do Papa, mas disse que no fundo trata-se de um problema maior e que não é novo na Igreja.
"É uma questão eclesial que vai direto no coração de tudo o que Francisco tenta fazer: será que todas as decisões têm que ser centralizadas?", ele explicou. "É aí que reside uma enorme disputa."
"A questão fundamental é: tudo tem que ser centralizado para que seja uniforme?", questionou ele. "A minha resposta é não”.
Em pé no telhado, em cima dos escritórios da revista jesuíta italiana La Civiltà Cattolica, Antonio Spadaro, S.J., olha para a cúpula da Basílica de São Pedro, com o sol do final da tarde baixo no céu. Nos últimos meses, o padre Spadaro teve uma agenda frenética, utilizando todos os meios de comunicação disponíveis para defender o Papa de ataques de dentro e de fora da Igreja.
Ambos Papa Francisco e Padre Spadaro são jesuítas e a ênfase da ordem no discernimento orienta o estilo de liderança do Papa. Isto pode ser desorientador para as pessoas que estão acostumadas a um modelo mais autoritário ou que ainda seguem o famoso ethos de Augustine: "Roma falou; a causa está encerrada".
"Se o processo é real, não se sabe o final," disse o Padre Spadaro à América.
Enquanto caminhava pelo terraço, ansioso por apontar os vários marcos romanos lá fora, o padre Spadaro comparou o estilo do Papa a um passeio ventoso por caminhos de pedra em uma cidade antiga. Por mais que as pessoas hoje dependam de seus dispositivos de GPS para guiá-los aos seus destinos, sem curvas sinuosas ou aventuras surpreendentes, o Papa Francisco opta por uma abordagem à moda antiga.
"Você conhece a rua e sabe como caminhar nela pela inspiração e orientação de Deus", disse o padre Spadaro. "Mas o Papa Francisco não sabe exatamente para onde está indo. Ele aprende e entende as coisas passo a passo".
Cada etapa pode causar tensão para as pessoas preocupadas com a nova rota que ele está tomando.
No encerramento do Sínodo dos Bispos de 2014, Francisco falou sobre a discordância dentro da sala do Sínodo. Em vez de expressar decepção, no entanto, ele disse que se sentiu animado porque os bispos se sentiram livres para se expressar.
Na verdade, o Papa teria ficado "muito preocupado e entristecido" caso os bispos tivessem escolhido uma "paz falsa e quietista" ao invés de um diálogo sólido.
O Arcebispo Coleridge apontou para observações feitas pelo Papa em uma cerimônia de 2015 do Vaticano, em comemoração aos 50 anos dos sínodos na Igreja pós-conciliar. Nesse discurso, Francisco repetiu seu desejo de que a consulta e o diálogo fossem a norma na Igreja. Ele disse que essas palavras o ajudaram a ver como a sinodalidade pode guiar a Igreja hoje. O arcebispo disse que Francisco quer desmistificar o papado, o que atingiu grandes proporções no papado de João Paulo II, a quem alguns consideravam "como uma espécie de oráculo que podia dar a última palavra sobre qualquer questão".
"O Papa Francisco é mais parte de uma grande conversa que pertence a toda a Igreja", disse ele.
"Às vezes, há um tipo diferente de autoridade quando se permite que a discussão avance em direção a uma nova etapa", acrescentou. "Mas eu acho que isto não diminui em nada o exercício do ministério petrino. Se tem alguma diferença, é que mostra sua verdade, poder e beleza mais claramente."
Em outra entrevista para divulgar suas ideias, desta vez com o jornal católico belga Tertio, em dezembro, Francisco descreveu sua visão sinodal da Igreja.
Ele disse: "Ou há uma Igreja piramidal, na qual se faz o que Pedro diz, ou há uma Igreja sinodal, na qual Pedro é Pedro, mas ele acompanha a Igreja, permite que ela cresça, a escuta, aprende a partir desta realidade e a harmoniza, discernindo o que vem da Igreja e restaurando-a."
Francisco afirmou que sempre haveria movimento e diálogo em uma Igreja sinodal, mas com o papa sempre no comando.
"Mas há uma frase em latim que diz que as Igrejas estão sempre cum Petro et sub Petro", continuou. "Pedro é quem garante a unidade da Igreja. Ele é o fiador."
Avançar nunca é fácil. Pode desacomodar os que estão acostumados ao modo como as coisas são e foram. Assim, não é de se surpreender que Francisco esteja enfrentando resistência. Ainda assim, o padre Spadaro declarou que as críticas ao Papa recebem muita atenção. Afinal, quase todos os cardeais, exceto alguns poucos, têm apoiado Francisco. A maioria dos católicos, segundo padre Spadaro, não se envolve com conflitos internos da Igreja.
"Se lermos 'Amoris Laetitia', fica bastante claro o que o Papa queria fazer: instalar o discernimento dentro dos processos da Igreja", disse ele à América. "Ele está tentando dizer aos pastores: o seu trabalho não é apenas aplicar regras, como se fosse matemática ou alguma teoria. Seu trabalho é olhar para a vida de seu povo, ajudá-los a descobrir Deus e ajudá-los a crescer na Igreja, sem excluir, sem separar ninguém do Evangelho e da vida da Igreja."
Padre Spadaro pondera a respeito de uma questão sobre os objetivos mais abrangentes do Papa e admite que não há nenhum plano principal. "Ele decide o que fazer observando os acontecimentos e orando, o que significa que ele não faz grandes planos", disse ele. "Ele vai passo a passo."
Cada uma dessas etapas, é claro, é mais complexa do que o Papa gostaria, revelando tensões ao longo do caminho. Mas isso não preocupa o Papa, disse o padre Spadaro. "Ele está ciente dos riscos, é claro; mas se o caminho é guiado por Deus, não há por que ficar preocupado ou ansioso."
Para quem ainda tem dúvidas sobre o estilo que Papa Francisco escolheu para liderar a Igreja, padre Spadaro aconselha: "É preciso seguir a direção indicada por Pedro à Igreja."
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Caminhando com Pedro. Um Papa confiante estabelece novo exemplo de liderança da Igreja. - Instituto Humanitas Unisinos - IHU