12 Dezembro 2016
Os camponeses são, para o Papa, aqueles que cuidam da mãe Terra “com ternura”. Por isso, sua situação é ainda mais dolorida a Francisco, que, ao receber a Associação Internacional Rural Católica (ICRA) denunciou que o mercado e os lucros sacrificam os ritmos da vida agrícola, clamou contra a “iníqua aquisição de terras” e pediu aos agricultores que não fiquem à margem das decisões políticas.
A reportagem é de José Manuel Vidal e publicada por Religión Digital, 10-12-2016. A tradução é de André Langer.
Na manhã de sábado, 10 de dezembro, o Papa Francisco recebeu na Sala do Consistório os participantes da Reunião da Associação Internacional Rural Católica (ICRA) que, como notou o Santo Padre, analisaram os problemas do mundo rural e, sobretudo, a realidade daqueles que trabalham na agricultura com um compromisso diário.
“Um trabalho, às vezes, muito cansativo – destacou –, realizado com a consciência de fazer alguma coisa para os outros; o cultivo da terra para garantir os frutos, acompanhando os ciclos das estações do ano; as dificuldades enfrentadas por causa das mudanças climáticas, muitas vezes agravadas pela negligência humana.”
“Vivemos o paradoxo de uma agricultura que não é mais considerada como setor prioritário da economia, mas que mantém uma evidente relevância nas políticas de desenvolvimento, nos desequilíbrios da segurança alimentar, assim como também na vida das comunidades rurais. Em algumas áreas geográficas, de fato, o desenvolvimento agrícola permanece a principal resposta possível à pobreza e à escassez de alimentos. Isto, porém, significa remediar a carência dos aparelhos institucionais, a iníqua aquisição de terras cuja produção é subtraída aos legítimos beneficiários, os injustos métodos especulativos ou a falta de políticas específicas, nacionais e internacionais.”
Dessa maneira, assinalou diversos problemas, como a iníqua aquisição de terras cuja produção é subtraída aos legítimos beneficiários, assim como a especulação e a falta de políticas específicas.
Francisco, citando a Encíclica Laudato Si’, convidou os participantes para não serem “testemunhas mudas de gravíssimas desigualdades” como quando se obtêm lucros “fazendo pagar o resto da humanidade, presente e futura, os altíssimos custos da degradação ambiental”.
E contribuir, enquanto ONG, com as instituições internacionais, construindo pontes, “não se limitando a participar dos processos em andamento”, mas “trabalhando para mudar projetos e estratégias”.
O Pontífice enfatizou que, olhando para o mundo rural hoje em dia, emerge diante de nós o primado da dimensão do mercado, “que orienta as ações e as decisões”. “Em primeiro lugar, o lucro, acrescentou, mesmo ao preço de sacrificar os ritmos da vida agrícola, com os seus momentos de trabalho e de tempo livre, de repouso semanal e do cuidado da família”.
Para todos aqueles que vivem a realidade rural isto significa constatar que o desenvolvimento não é igual para todos, como se a vida das comunidades rurais tivesse menos valor. A própria solidariedade, amplamente invocada como remédio revela-se insuficiente se ela não for acompanhada pela justiça na distribuição das terras, nos salários agrícolas ou no acesso ao mercado.
Francisco se interrogou: o que se pode fazer? Mencionando a história da ICRA, o Papa demonstra que é possível conjugar o ser cristão com o agir como cristãos na realidade do mundo agrícola, onde o significado da pessoa humana, a dimensão familiar e social, o sentido de solidariedade são valores essenciais mesmo em situações de maior subdesenvolvimento e pobreza.
“As relações com as grandes organizações internacionais são o modo pelo qual é possível, para uma ONG de inspiração cristã como a de vocês, reagir aos desafios e responder às necessidades. Mas, para isso, pede-se a vocês um suplemento de humanidade, feito antes de tudo de opções corajosas e de competência constantemente renovada, para cooperar com as instituições estatais e internacionais na tarefa de predispor as técnicas e em dar soluções aos problemas, sempre em chave humana.”
Portanto, um papel propositivo que ajude o mundo rural a não ficar à margem das decisões políticas, dos planos normativos ou da ação nos diversos setores da vida social e da economia.
“Permitam-me contar-lhes uma história pessoal – acrescentou. Há mais de um mês conversei com um camponês. Ele me contava como podava as oliveiras. Um camponês simples, que cultivava azeitonas. E quando me contava como o fazia, garanto-lhes que eu via a ternura com que fazia isso; ele tinha essa relação com a natureza. E podava suas árvores como se fosse seu pai, com ternura... Que não se perca esta relação com a natureza, com a criação. Isto garante dignidade a todos.”
“Eu abençoo de coração os esforços de vocês – terminou – e rezo com vocês ao Senhor para que cuide de todos os trabalhadores da terra, os lares rurais e todos aqueles que trabalham no mundo agrícola. E peço-lhes que, por favor, se lembrem de mim em suas orações, porque necessito delas. Obrigado.”
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O Papa denuncia o lucro e os preços que sacrificam “os ritmos da vida agrícola” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU