18 Novembro 2016
Exceto por breves referências em alguns relatórios das comissões, o documento Amoris Laetitia, de abril deste ano, com ensinamentos do Papa sobre o casamento e a vida familiar, recebeu muito pouca atenção na reunião anual do outono dos bispos norte-americanos.
A reportagem é de Dennis Coday, publicada por National Catholic Reporter, 16-11-2016. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Numa conferência de imprensa em 15 de novembro, logo após sua eleição para presidente da conferência, foi perguntado ao Cardeal Daniel DiNardo, de Galveston-Houston, se havia sido planejada uma discussão ou conferência nacional sobre a implementação da exortação papal "The Joy of Love", cujo título em latim é Amoris Laetitia.
"Acredito que não", disse DiNardo.
Francisco emitiu Amoris Laetitia em resposta a dois Sínodos Episcopais sobre a família em 2014 e 2015, precedidos por consultas locais que instigaram o grande interesse no tema.
Convocar um sínodo sobre a família foi uma das primeiras ações de Francisco, mas desde o início causou controvérsia e debates, principalmente em relação ao acesso aos sacramentos para casais em "situações irregulares", como define tradicionalmente a Igreja Católica, particularmente as pessoas que se divorciaram e voltaram a casar civilmente sem uma anulação.
Este verão, o Arcebispo da Philadelphia, Charles Chaput, membro da Sínodo dos Bispos sobre a família de 2015, foi nomeado para liderar uma comissão ad hoc para estudar a implementação da exortação em todo o país.
Chaput finalizou o estudo e apresentou um relatório em conjunto com a comissão administrativa da conferência dos bispos em setembro. O relatório, que analisou as respostas ao documento em 59 dioceses e 18 organizações nacionais, está disponível no site da Conferência Episcopal.
O relatório constatou "bastante vigor e interesse nos Estados Unidos em relação ao avanço do casamento e do ministério da vida familiar à luz do rico encorajamento pastoral do Santo Padre em Amoris Laetitia".
Também observou que "bispos e líderes nacionais identificaram algumas áreas para as quais recursos adicionais - alguns talvez derivados da conferência dos bispos - poderiam ser úteis", incluindo "um livreto de perguntas e respostas" e a "identificação de boas práticas" para determinadas áreas do ministério .
Na conferência de imprensa do dia 15 de novembro, Dom Christopher Coyne de Burlington, Vermont, confirmou que a comissão administrativa dos bispos compartilhou o relatório de Chaput entre todos os bispos, mas ele não tinha conhecimento de quaisquer outros planos de ação. Ele disse que o tema não estava na pauta da sessão do executivo para a reunião do outono.
DiNardo afirmou que o fato de o Amoris Laetitia não estar sendo discutido publicamente na conferência dos bispos, não significava que não havia uma ampla discussão pública sobre o tema.
Ele e Dom José Gomez de Los Angeles, que tinha acabado de ser eleito para vice-presidente da conferência, disseram à imprensa que haviam publicado artigos sobre o documento em seus jornais e promovido fóruns em suas respectivas arquidioceses.
"Acredito que se poderia multiplicar isso por todos os Estados Unidos", disse DiNardo. "Se há discussão pública? Pode apostar que sim. Estamos discutindo isso com os nossos sacerdotes? Com certeza. A questão do que quer que aconteça em relação à conferência, ela contribui para que os bispos o façam em suas próprias dioceses, mas eu acredito que há uma grande discussão sobre o Amoris Laetitia."
"Tive uma reunião com os meus sacerdotes e esse assunto veio à tona. Nós discutimos sobre isso na ocasião e continuaremos discutindo. Trata-se, como se sabe, de um documento muito complexo. O Papa nos recomendou estudá-lo cuidadosamente", disse o cardeal.
No entanto, pelo menos uma pessoa gostaria que a Conferência dos Bispos o implementasse de uma forma mais coordenada: o Cardeal nomeado Kevin Farrell, que foi bispo de Dallas e membro da Conferência dos Bispos dos EUA até setembro, quando se tornou prefeito do Dicastério do Vaticano para os Leigos, a Família e a Vida.
Farrell contou ao NCR , no mês passado, que a exortação possivelmente será a base de seu trabalho no novo dicastério.
Farrell declarou ao Catholic News Service, em 15 de novembro, que a implementação de Amoris Laetitia "tem que ser feita em comunhão com nossos bispos".
Antes de os bispos emitirem orientações individualmente, ele disse, "Eu acho que seria mais sensato esperar a reunião da conferência de bispos, onde todos os bispos dos Estados Unidos ou de um país sentariam para discutir estas questões".
Coyne, presidente do comitê de comunicações da Conferência Episcopal, falou ao NCR, em 15 de novembro: "Na verdade, nós não temos um local para discutir isso". Apresentações em congressos nacionais, por exemplo, tem um tempo limite de 15 a 20 minutos, o que não é suficiente para discutir o documento, disse Coyne.
Ele também acrescentou que "haveria uma certa divisão sobre" o documento, porque em um fórum aberto seria muito difícil que não acontecesse de "alguns quererem lê-lo de uma maneira e outros, de outra forma".
Citando um relatório de Roma, em 14 de novembro, em que quatro cardeais pediram ao Papa Francisco para esclarecer alguns ensinamentos na exortação apostólica - especialmente sobre a comunhão a divorciados e civilmente recasados - Coyne disse: "É uma conversa difícil de se ter nesse momento".
Em agosto, o jornal do Vaticano L'Osservatore Romano publicou um artigo que sugeria que Amoris Laetitia era um ensinamento autoritário, um exemplo do "magistério ordinário" - ensinamento papal - ao qual os católicos são obrigados a dar sua "submissão religiosa da vontade e do intelecto".
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Pouca atenção à 'Amoris Laetitia' na reunião dos bispos americanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU