"Populismo, palavra maltratada": o choque do papa revolucionário

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

15 Novembro 2016

Nem mesmo o choque da eleição de Trump nos poupou do tédio conformista de colunistas e comentaristas diversos que lidavam com a epocal rejeição às elites dominantes. Entre os poucos que se destacaram desse descontado pântano de ideias, as mesmas há já cinco anos, foi, como de costume, o Papa Francisco, um dos inovadores já do pensamento político global.

A reportagem é de Fabrizio D'Esposito, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 14-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

E não nos referimos tanto à entrevista scalfariana da última sexta-feira no La Repubblica, mas sim ao novo livro do pontífice, que recolhe mensagens, discursos e homilias de quando ele era arcebispo de Buenos Aires.

No volume intitulado Nei tuoi occhi è la mia parola [Nos teus olhos está a minha palavra], há uma conversa com o fiel Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltà Cattolica, em parte antecipada pelo Corriere della Sera da quinta-feira, 10 de novembro, e que passou para o segundo plano por causa do clamor do sucesso trumpiano nos Estados Unidos.

Lá, defende Bergoglio: "Há uma palavra muito maltratada: fala-se muito de populismo, de política populista, de programa populista. Mas isso é um erro". Textual. O Papa Francisco é um revolucionário, como muitos o definem, incluindo Scalfari, que acolhe o populismo na sua acepção contemporânea, no ano do Senhor de 2016.

É a resposta ou, melhor, um solapão clássico às doutrinas políticas àqueles que (incluindo Lenin) defenderam a incompatibilidade histórica entre revolução e populismo, ao longo da atávica fratura entre direita e esquerda.

Sem dúvida, apesar da sacudida do papa, há o seu conhecimento do peronismo ou justicialismo argentino. Não por acaso, Bergoglio muitas vezes foi acusado de ser um populista por ser peronista. Ao mesmo tempo, porém, Francisco também é o pontífice que agrada à esquerda vermelha antiga e não se envergonha em nada da comparação entre comunistas e cristãos sobre os pobres, sobre os fracos e sobre os excluídos.

Povo, em uma única palavra. Entendida como categoria não mística, mas "histórica e mítica": "O povo se faz em um processo, com o compromisso em visto de um objetivo ou um projeto comum. A história é construída por esse processo de gerações que se sucedem dentro de um povo. É necessário um mito para entender o povo".

E uma grande visão, modelo Aristóteles, em vez do "politiquês, as disputas pelo poder, o egoísmo, a demagogia, o dinheiro". Eis a receita para um populismo saudável e vencedor. Palavra de Bergoglio. Viva o Papa. Viva o povo ou, melhor, el pueblo.

Leia mais: