11 Novembro 2016
No seu apelo final aos eleitores na praça da Filadélfia, onde encerrou a campanha eleitoral junto com Barack Obama, Hillary Clinton usou a frase-mantra do Papa Francisco: "Construamos pontes, e não muros". É difícil dizer se Clinton "abusou" desse slogan, porque não se usa uma frase desse tipo a poucas horas da abertura das urnas eleitoras sem pedir a "permissão" ao copywriter. Ou não, se foi apenas uma coincidência. O fato é esse. Uma derrota diplomática indireta para a Santa Sé (e não só para o Papa Francisco).
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada no sítio Formiche, 10-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Naturalmente, o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, logo assegurou ao novo presidente Trump as suas orações, para que "o Senhor possa iluminá-lo e ajudá-lo no seu serviço à sua pátria", mas também "no serviço ao bem-estar e à paz no mundo".
No entanto, essas afirmações foram precedidas por uma fria premissa protocolar que diz tudo sobre o humor da Santa Sé logo depois da eleição de Trump: "Reconhecemos com respeito a escolha expressada pelo povo estadunidense", comentou Parolin laconicamente, às margens da inauguração do novo Ano Acadêmico da Universidade Lateranense. Durante o seu discurso, Parolin admitiu que a diplomacia papal "deverá encontrar novas fórmulas" no novo contexto global.
O papa (que, nessa quarta-feira, durante a audiência geral, não comentou de modo algum a eleição), em fevereiro, voltando da viagem ao México, tinha declarado, ao responder a uma pergunta sobre o magnata: "Quem constrói muros não é cristão".
Depois, houve um esclarecimento. O papa, no entanto, também fez um comentário semelhante durante o fim de semana passado, dois dias antes da votação presidencial estadunidense, durante o Encontro dos Movimentos Populares recebidos no Vaticano, onde também alertou contra o medo e a construção de muros.
Quanto ao muro com o México, Parolin disse que, para julgar, é preciso esperar. Isto é, é preciso suspender o julgamento e ver quais serão as escolhas concretas de Trump, já que sempre se diz que "uma coisa é ser candidato, outra é ser presidente, isto é, aquele que tem a responsabilidade". Uma observação que sublinha, no entanto, uma diferença de abordagem em relação aos meses anteriores, também em relação a pelo menos duas escolhas diplomáticas vaticanas de grande peso, que escaparam da maioria dos observadores, na sua relação com as iminentes eleições presidenciais.
A primeira decisão (certamente aprovada por Parolin) foi a iniciativa do núncio apostólico nos Estados Unidos, Christopher Pierre, de celebrar uma missa na fronteira com o México no dia 23 de outubro de 2016, ou seja, 15 dias antes das eleições, justamente no limite das cercas de segurança que dividem os dois países.
A segunda foi a nomeação a cardeal (no próximo consistório do dia 20 de novembro, mas anunciada no dia 9 de outubro) do arcebispo de Indianápolis, Joseph Tobin, que, no dia 10 de outubro passado, desafiou a proibição do governador Mike Pence (ou seja, o número dois de Trump e hoje vice-presidente eleito dos EUA) de estabelecer em Indiana os refugiados sírios.
Na segunda-feira, 7 de novembro, além disso, o papa destinou Tobin para Newark, como uma espécie de alter-ego (as duas dioceses são limítrofes, e Newark nunca tinha sido sede cardinalícia) do cardeal de Nova York, Timothy Dolan, considerado conservador demais, talvez justamente como antecipação de uma vitória de Hillary.
Depois da eleição de Trump, Tobin tuitou sem nenhuma referência ao novo presidente, citando Paulo que "nos convida a rezar pelos reis e por todos aqueles que têm posições de autoridade, para que possam levar uma vida tranquila e quieta, com toda a piedade e honestidade".
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Todas as tensões entre o Vaticano e Donald Trump - Instituto Humanitas Unisinos - IHU