22 Outubro 2016
Muitas vezes, o Papa Francisco, com os seus discursos, surpreende quem o escuta, por causa da contínua referência à ternura que o cristão deve ter para com os pobres, os distantes, no diálogo ecumênico e inter-religioso, e na busca de novos e desafiadores caminhos de paz.
A reportagem é de de Mario Bandera, publicada no sítio Settimana News, 20-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa atitude humana e espiritual é uma das características do modo de ser dos latino-americanos. Não é por nada que Ernesto Che Guevara gostava de repetir aos seus homens: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás". O sentido da frase é que por mais que alguém, do ponto de vista físico e de caráter, faça de tudo para para ser "duro" (ou seja, um tenaz e verdadeiro revolucionário), nunca deve perder a ternura em relação a qualquer um. Não por acaso os dois personagens vêm da Argentina, terra de horizontes sem fim, de gaúchos e do tango.
Durante séculos, o Vice-Reino do Prata foi uma importante referência para a Coroa espanhola, uma terra em que só nos dois últimos séculos desembarcaram dificuldades e esperanças dos emigrantes europeus, entre eles milhões de italianos em busca de melhores condições de vida. Uma terra repleta de contradições, onde convivem bolsões de miséria ao lado de imensas áreas de riqueza.
Essa terra, magicamente iluminada por uma luz que encanta, que faz surgir aqueles pores-do-sol sugestivos do Rio da Prata, em que se refletem as longas noites sulinas, tem como pano de fundo o majestoso espetáculo da Cordilheira dos Andes.
Não por acaso, a bandeira nacional argentina reflete o cenário desse maravilhoso país do qual os argentinos se orgulham com razão. Eles dizem que justamente nas cores da sua bandeira se reflete a quintessência do ser argentino: o azul tenuamente prateado do Rio da Prata, o branco dos picos cobertos de neve da áspera cordilheira e o azul celeste do céu matinal da cidade de Rosario.
Foi justamente nessa cidade que o general Manuel Belgrano recebeu o encargo de "pai da pátria"; José de San Martín, de encontrar uma bandeira a ser dada em dotação às tropas que lutavam pela independência. Narram os historiadores que ele se ajoelhou diante da Virgem Maria antes da batalha decisiva e, contemplando a "Virgencita", teve a intuição genial de escolher as cores que caracterizariam para sempre a nascente nação.
E como esquecer a tenacidade e a ternura em relação à "pelota", ou seja, a paixão pelo futebol, que todos aqueles que nascem por estas partes têm como característica específica no seu DNA? Vejam-se os seus campeões, que também prestígio deram também ao futebol italiano, com Diego Armando Maradona, gênio e imprudência, que representa quase todos.
O jornal esportivo de Buenos Aires, no dia da eleição do Papa Bergoglio, saiu com uma manchete que dizia: "La otra mano de Dios" (A outra mão de Deus), relembrando o gol "manual" feito por Maradona contra a Inglaterra nas quartas de final da Copa do Mundo do México de 1986, enquanto estava muito afiada a tensão com o Reino Unido pelas Ilhas Malvinas (ai de quem as chame de Falkland por estas partes!), sobre as quais ambas as nações reivindicavam a soberania.
A ternura coletiva ou, melhor dizendo, a hospitalidade das pessoas, característica de países da América Latina, também se expressa com a partilha de um bom mate, a bebida típica dos países que se assomam ao Rio da Prata, como parte integrante do costume de vida dos seus habitantes, que o Papa Francisco – surpreendendo muito a Cúria romana – já levou para Roma.
Quem sabe, talvez em um futuro próximo, as reuniões dos cardeais serão feitas entre um sorvo e outro de um bom mate pontifício servido pelo Papa Francisco! Dada a ternura que ele tem pelo seu rebanho, as premissas estão todas feitas.
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A ternura pontifícia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU