19 Outubro 2016
"Sempre desconfio de frases que começam com 'mas'. Muitas vezes isso indica que tudo o que foi dito antes não deve ser levado a sério, como: 'Eu realmente gosto da rua roupa, mas eu não usaria'. Assim, quando Jesus faz esta declaração, creio que ele estava dizendo: 'Sim, Deus vai responder às vossas orações, mas o que realmente importa não são os pedidos e a resposta divina, mas sim se vocês têm a atitude de fé'", escreve Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, em artigo publicado por New Ways Ministry, 16-10-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
A leitura do Evangelho deste domingo, 16 de outubro, descreve uma situação que pode ser familiar aos católicos apoiadores de temas LGBTs. Em Lucas 18,1-8, ouvimos a parábola de uma viúva que ficava clamando a um juiz local desonesto para que lhe fizesse justiça. O juiz, que se descreve como alguém não temia a Deus nem respeitava homem algum, irá lhe dar uma decisão justa somente se ela parar de aborrecê-lo com os seus pedidos.
Jesus explica que Deus, que é plenamente justo, certamente faria justiça, e mais ainda do que o juiz desonesto, dizendo: “E Deus não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele?”
Como um alguém que se vê clamado a Deus há décadas por justiça às pessoas LGBTs, essa resposta de Jesus fornece um certo conforto: Deus, de fato, irá nos ouvir e proteger os nossos direitos também.
Mas adivinhem? Até agora, Deus não ouviu. E há tempos eu tenho clamado. Conheço um monte de pessoas que vem clamando há bastante tempo do que eu ainda. E o que isso quer dizer?
Penso que Jesus nos dá uma resposta a essa pergunta na conclusão do Evangelho de hoje. Depois de assegurar aos seus ouvintes que Deus responderá às suas orações, ele termina com uma pergunta:
“Mas, o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra?”
Sempre desconfio de frases que começam com “mas”. Muitas vezes isso indica que tudo o que foi dito antes não deve ser levado a sério, como: “Eu realmente gosto da rua roupa, mas eu não usaria”. Assim, quando Jesus faz esta declaração, creio que ele estava dizendo: “Sim, Deus vai responder às vossas orações, mas o que realmente importa não são os pedidos e a resposta divina, mas sim se vocês têm a atitude de fé”.
Sei que, em grande parte de meu clamor a Deus, eu muitas vezes não tenho esse elemento de fé. Clamo a Deus porque estou um tanto sem esperança, e carente de opções, e as minhas orações têm um tom de desespero mais presente do que qualquer outra coisa. Penso que, no evangelho de hoje, Jesus nos lembra não só clamar a Deus desesperadamente, mas de termos fé. Devemos nos aproximar de Deus em oração com a confiança de que Ele irá responder, mesmo se não consigamos ver exemplos concretos em nossas vidas. Como São Paulo instrui em sua Carta aos Hebreus (11,1):
“A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se veem”.
Além dos benefícios puramente espirituais de orar com fé, há um benefício prático importante. Quando oramos com fé, é como receber novos olhos para ver o mundo através da lente da fé. Esta nova visão ajuda a ver coisas que poderíamos não ter visto no passado. Podemos começar a ver onde está sendo ocorrendo um progresso em questões LGBTs, e onde um trabalho ainda precisa ser feito. Podemos começar a ver como Deus já deu uma resposta às nossas orações, mas talvez não da maneira que esperávamos. Podemos ver mais claramente que, muito embora não tenhamos alcançado os nossos objetivos de igualdade e justiça, Deus está tão intimamente próximo de nós, amando-nos, fortalecendo-nos, na medida em que continuamos o nosso trabalho.
Esta abordagem não nos pede para “olhar para o lado positivo” das coisas apenas, ou a vê-las com lentes cor de rosa. Ela nos pede para reconhecer uma realidade que é maior que nós e do que os nossos próprios desejos particulares.
Portanto, em vez de nos perguntar por que parece que Deus não tem respondido às nossas orações, talvez precisamos de olhar novamente para o mundo com os olhos da fé para ver que Deus realmente está ouvindo o nosso clamor, e que está ajudando a alcançar os nossos objetivos, pouco a pouco.
E... mantenhamo-nos clamando!
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E se Deus não estiver respondendo às nossas orações? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU