09 Setembro 2016
Anunciar o Evangelho é uma questão de coração. A ênfase é da nova carta da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, intitulada "Anunciai: aos consagrados e às consagradas, testemunhas do Evangelho entre as nações" (Cidade do Vaticano, Livraria Editora Vaticana, setembro de 2016, 160 páginas).
A reportagem é de Nicola Gori, publicada no jornal L'Osservatore Romano, 07-09-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com esse texto, depois dos três anteriores editados pelo dicastério e já publicados – marcados pelos três verbos "alegrai-vos", "perscrutai", "contemplai" –, conclui-se o ciclo relativo ao Ano da Vida Consagrada, que encerrou no dia 2 de fevereiro passado.
A carta recorda que o coração dos consagrados deveria ter, por sua natureza, uma dimensão essencialmente em saída, isto é, dirigida aos outros. Por sua vocação, eles são os especialistas da missão, do anúncio de Cristo ao próximo, identificado com cada homem e cada mulher que encontram cotidianamente no seu caminho. Eles são chamados a não passar pelo outro lado com indiferença, mas a se interessar nele, nas suas necessidades e nas suas expectativas. Por causa dessa atitude de abertura aos outros, eles são os primeiros a terem uma tensão contínua ao exterior, ou seja, usando a expressão muito cara ao Papa Francisco, a estar "em saída".
Um dos principais elementos do texto é o premente convite a mudar a mentalidade, a fazer uma espécie de conversão ad extra. Nesse sentido, são repropostos alguns pensamentos do pontífice voltados, em particular, aos religiosos e às religiosas.
Francisco pede com força um novo impulso, uma coragem que não recua diante das dificuldades, uma tenacidade no cumprimento da missão que Deus confiou a cada consagrado. Em particular, ele quer que eles reencontrem o carisma das origens dos respectivos fundadores, quer que as comunidades religiosas sejam cada vez mais semelhantes à Igreja primitiva, a dos apóstolos, que não tinham medo de sair pelas estradas para anunciar o Senhor.
A vida consagrada é chamada a desempenhar a sua missão "do lado de fora da porta e ao longo do rio". Aqueles que a seguem têm a vocação específica de estarem presentes nas "situações de miséria e de opressão, de dúvida e de desconforto, de medo e de solidão, mostrando que a ternura de Deus não tem limites".
Tudo isso requer energias, oração, sacrifício e firmeza, para que a "periferia" não permaneça apenas como uma palavra abstrata, mas seja uma realidade cotidiana em que é preciso verificar, a todo o momento, a própria própria vocação.
Cristo quer que os consagrados vão além, sem medo, prontos para colaborar com cada pessoa de boa vontade, para que a Palavra chega aos confins da terra. Com o compromisso de tirar da humilhação e das situações de descarte e de marginalização aqueles que o preconceito, a indiferença e a injustiça condenam sem apelação. Na prática, trata-se de encontrar novas modalidades de caminhar com os pobres, com os mais necessitados, acompanhando-os na sua cotidianidade.
A carta convida vigorosamente os consagrados a mudarem de ponto de vista, com as próprias palavras do Papa Francisco: "Estar na periferia ajuda a ver e a entender melhor". Olhando o mundo a partir das periferias, encontra-se a coragem de enfrentar novos desafios, experimentando soluções e lógicas diferentes.
É mais fácil despertar o mundo se estamos acostumados com as periferias, quaisquer que elas sejam, porque facilitam a atitude de se dirigir a destinatários não escolhidos com base em considerações de comodidade, mas em critérios ditados pela compaixão e pelo ardor.
Não que os consagrados não estejam acostumados a viver na linha de frente e em estreito contato com os habitantes das periferias, porque o seu objetivo é a tutela da dignidade da vida humana. Isso nasce da união com Cristo, do humanismo cristão que os impulsiona à opção preferencial pelos pobres. Uma escolha ditada não por uma moda ou por um fervor passageiro, mas que se torna autêntica forma de vida, porque, como afirma São Gregório Magno, "servir os pobres é um ato de evangelização".
Além disso, como confirma a carta, a familiaridade com os pobres sempre foi a característica de cada novo início e de reforma. Sem esquecer que as periferias não são apenas um lugar físico, mas também uma situação moral, de desconforto cultural e social.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Carta do dicastério para os consagrados: um convite a estar "do lado de fora da porta e ao longo do rio" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU