30 Agosto 2016
Um bispo do "fazer", com ideias inovadoras, pensamento estratégico e palavras santas. Ele é Giovanni D'Ercole, bispo de Ascoli, o prelado que, na homilia para o funeral das vítimas do terremoto na Itália, perguntou a Deus: "Senhor, onde estás?".
A reportagem é de Antonello Caporale, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 29-08-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
D'Ercole estava há cinco anos em L'Aquila, enviado pelo Vaticano para sustentar a diocese destruída, ajudar os fiéis feridos, as almas abaladas e levar conforto e estímulo – também material – para a reconstrução.
Concreto, determinado, preciso: "Estamos nos especializando agora no diagnóstico de engenharia", disse-me, quando eu o encontrei para lhe perguntar sobre a sua atividade de sócio e presidente do conselho de administração da Aquilakalo’s, uma sociedade anônima que tinha o objetivo de realizar um plano estratégico de restauração e refuncionalização do centro histórico.
A Cúria tinha o seu plano mestre; a Igreja, os seus técnicos e os seus muros a defender, consolidar ou reconstruir. "Quase todo o patrimônio artístico é de nossa propriedade", disse-me. E assim era. De fato, não só igrejas, mas também lojas e casas e terrenos eram a propriedade fundiária de L'Aquila à qual Dom D'Ercole teve que dar respostas e, presumivelmente, também inscrevê-los no orçamento.
A sua sociedade (por seis meses, ele foi o seu presidente; depois, delegou um sacerdote de confiança) também tinha como objeto social vender e construir imóveis, pedir financiamentos e concedê-los. Lotear, expropriar, participar de negócios com outras sociedades, receber contribuições estatais, também utilizando a instituição da concessão e realizar, em última análise, atividades de "global service".
Ele explicou: "Eu ainda tenho 13 milhões de euros da Cáritas para gastar, e a prefeitura não me explica, não indica onde, não me dá a possibilidade de investi-los pelo bem da comunidade. Eu dei um ultimato: até junho, eles devem me dar a autorização". Era 2010.
Como prelado sincero e pessoa exigente e pragmática, ele reagiu à publicação do artigo com estas palavras: "A criação da sociedade anônima tem como único objetivo permitir que a diocese se ocupe exclusivamente das almas, delegando à sociedade o cuidado dos aspectos materiais. Somos uma comunidade de serviço e não uma sociedade de negócios".
Para as desmentidas mais delicadas – referentes, por exemplo, aos artigos sobre a identidade e a consistência de um próprio "círculo mágico" de L'Aquila – ele se confiou aos seus advogados, que, em nome de Sua Excelência, especificaram, contrariaram, excluíram, desmentiram e, por fim, denunciaram o clima de suspeitas artificiosas que acompanhou a sua obra pastoral na cidade do terremoto.
Com o prefeito de L’Aquila, sempre em desacordo; com o governo berlusconiano, sempre em ótimas relações. Tão compenetrantes que a organização sem fins lucrativos Solidarietà e Sviluppo, também de inspiração episcopal, foi destinatária dos fundos para a família. Carlo Giovanardi, então subsecretário justamente das políticas sociais, escolheu a organização sem fins lucrativos e não a prefeitura como destinatária dos fundos. A Procuradoria da República fez dela objeto de investigações, que começaram com a prisão do secretário-geral da organização e, depois, com a incriminação do bispo por fraude. Acusação da qual D'Ercole saiu com uma absolvição completa.
Sessenta e nove anos, prelado caminhador, ótimo orador, ex-vice de Joaquín Navarro Valls no escritório de imprensa da Santa Sé, depois chamado pelo cardeal Casaroli à Secretaria de Estado, é um comunicador profissional. No canal Raidue, começou com o programa "Prossimo tuo", depois "Millennium" e, por fim, "Terzo Millenio" e, ainda hoje, mantém a série "Sulla via di Damasco".
Há dois anos, tomou posse da Cúria de Ascoli na catedral de Santo Emídio, padroeiro das vítimas do terremoto. Há dois dias, proferiu a homilia pelas vítimas do terremoto de Marche. Perguntou a Deus onipotente: "Senhor, onde estás?".
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O bispo de L'Aquila, hoje em Ascoli: pastor em meio a dois terremotos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU