Por: João Flores da Cunha/IHU | 23 Agosto 2016
O presidente do México, Enrique Peña Nieto, plagiou quase um terço de seu trabalho de conclusão do curso de Direito na Universidade Panamericana, apresentado em 1991. A acusação foi feita no dia 21-08-2016 por meio de uma reportagem do sítio Aristegui Noticias.
Uma pesquisa realizada por uma equipe de acadêmicos e especialistas descobriu problemas em 197 dos 682 parágrafos do trabalho – ou 29% do texto. De acordo com a investigação, Peña Nieto copiou citações de outros autores sem colocá-las entre aspas ou atribuir a fonte. Ou seja, ele reproduziu trechos alheios como se fossem seus.
O Aristegui Noticias, que encomendou a pesquisa, é coordenado por Carmen Aristegui, jornalista que revelou o escândalo da Casa Blanca – uma mansão de 7 milhões de dólares na Cidade do México que a primeira-dama, Angélica Rivera, havia adquirido de uma empresa que mantém contratos com o governo. Casos de conflito de interesses como esse contribuíram para a queda na popularidade de Peña Nieto, que está em seu pior momento desde a posse, em 2012.
O mandatário ainda não respondeu pessoalmente à acusação de plágio. Um porta-voz da presidência da República tratou o caso como “erros de estilo”. Recentemente, Peña Nieto pediu desculpas pelo escândalo da Casa Blanca.
Da la vuelta al mundo reportaje sobre plagio de EPN https://t.co/PDctMpNQ9c
— Aristegui Noticias (@AristeguiOnline) 22 de agosto de 2016
O trabalho de conclusão de Peña Nieto, intitulado “O presidencialismo mexicano e Álvaro Obregón”, tem trechos copiados de dez autores, de acordo com a reportagem. Entre eles, estão o historiador Enrique Krauze e Jesús Orozco Henríquez, que hoje integra a Corte Interamericana de Direitos Humanos – CIDH.
O “plágio mais escandaloso”, segundo o Aristegui Noticias, foi com Miguel de la Madrid Hurtado, presidente do México nos anos 1980, e do mesmo partido de Peña Nieto, o Partido Revolucionário Institucional – PRI. Há 20 parágrafos inteiros retirados de um livro de Hurtado no trabalho, e seu nome não é citado sequer nas referências.
No capítulo em que conta a biografia de Álvaro Obregón – um general na Revolução Mexicana que foi presidente do país entre 1920 e 1924 –, 35 dos 36 parágrafos são plagiados, segundo a investigação. Nesses trechos, Peña Nieto não utilizou aspas nem mencionou a origem das informações.
Peña Nieto não é o primeiro político acusado de plágio em um trabalho acadêmico. Na Alemanha, a ministra da Educação, Annette Schavan, perdeu seu título de doutora e pediu demissão do cargo, em 2013, após problemas de plágio em sua tese serem expostos.
Dois anos antes, o ministro da Defesa do mesmo país, Karl-Theodor zu Guttenberg, havia renunciado pelo mesmo motivo. No Peru, o deputado fujimorista Lucio Ávila foi acusado de ter obtido dois doutorados com um mesmo trabalho. Ele é o presidente da Comissão de Educação do parlamento peruano.
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Presidente do México é acusado de plágio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU