11 Agosto 2016
Mais de 5.600 religiosas dos Estados Unidos enviaram, nesta segunda-feira, uma carta aos diversos candidatos para a presidência do país – dos Partidos Democrata, Republicano, Verde e Libertário – na qual pedem “civismo em nosso discurso público e decência em nossa interação política”.
A reportagem é de Cameron Doody e publicada por Religión Digital, 10-08-2016. A tradução é de André Langer.
A carta foi escrita pela Conferência de Liderança das Mulheres Religiosas (LCWR) – associação que agrupa quase 80% das irmãs professas dos Estados Unidos – e é subscrita por mulheres que, além de se ocuparem do seu ministério, também servem à comunidade em vários serviços de saúde, educação e outros trabalhos pastorais.
O “civismo” e a “decência” no discurso público reivindicados por elas é essencial, segundo afirmam, não apenas para promover o bem comum e o diálogo construtivo, mas também para situar o país na linha tanto dos “princípios e valores” sobre os quais foi fundado, como do zelo do Papa Francisco de que na política se defenda e conserve, acima de tudo, a dignidade de todos os cidadãos.
“Infelizmente”, afirmam as religiosas na carta, “vivemos em tempos em que a nossa política está marcada pelo interesse próprio e pela retórica degradante”. Como remédio para tal situação de “extremismo ideológico” e “hiper partidarismo” – e como maneira de evitar que se colem na vida pública os apelos aos “instintos mais vis” de medos e receios – as irmãs que subscrevem a carta instam os candidatos e seus partidos a abandonarem “as respostas fáceis” para abrirem-se à “escuta atenta” e ao “diálogo construtivo”.
“Pedimos simplesmente que todos os que buscam liderar se abstenham da linguagem que não respeita, desumaniza ou demoniza o outro”, solicitam as religiosas, com a finalidade de que as diferenças de cada setor da sociedade se transformem em uma vasa para o país e não em um solvente “que destrói os laços que nos mantêm unidos”.
Para quem será o “voto católico”?
O manifesto das 5.671 irmãs da Conferência de Liderança representa a última intervenção da Igreja na corrida para a Casa Branca: caminho que, pelas deficiências que percebem nos diferentes candidatos, está se transformando, para muitos, em uma espécie de eleição impossível.
Por um lado, e como exemplo, está o apoio ao aborto manifestado pela candidata democrata Hillary Clinton; por outro, a xenofobia rampante do aspirante republicano, Donald Trump. Quem, então, os católicos deveriam apoiar com seu voto?
Tal dilema não foi abordado pela Igreja com a atenção que teriam desejado muitos cristãos porque, como recordou a Conferência Episcopal dos Estados Unidos em março de 2015, as normas do Serviço de Impostos Internos do país (IRS) – a Fazenda estadunidense – proíbem expressamente que as organizações sem fins lucrativos, categoria em que entra a Igreja, se intrometam na atividade política.
No entanto, e como orientação para as eleições previstas para novembro deste ano, os bispos estadunidenses publicaram no ano passado em sua página na internet o documento Formando a consciência para ser cidadão fiel.
Embora este manual para o eleitor recorde ao católico que sempre deverão primar na sociedade os princípios da dignidade da pessoa humana, o bem comum, a subsidiariedade e a solidariedade – para que cada secular contribua para que “a lei divina fique gravada na cidade terrena” (Gaudium et Spes, 43) –, o subsídio sofre não apenas da proscrição do IRS de que não aumente as divisões partidárias, mas também por ter sido republicada, na íntegra, em sua versão de 2007. Dessa maneira, não leva em conta nem as vitórias de Clinton e Trump em suas respectivas primárias, nem o clima atual de medo e ódio que as irmãs da LCWR denunciam em sua carta desta semana.
É por isso que, em grandes linhas, cada vez mais católicos hispânicos nos Estados Unidos apóiam a candidata Hillary Clinton frente à postura racista de Donald Trump, na qual votariam até 77% dos eleitores deste grupo, de acordo com uma pesquisa realizada em junho pelo Pew Research Center. E embora segundo esta mesma sondagem 50% dos católicos brancos inscritos nas listas para votar o fariam em Trump – para castigar Clinton pelo desdém pela vida humana que percebem nela – entre este grupo demográfico está se difundindo cada vez mais a intenção de abstenção.
Nesta eleição, portanto – na qual não fica claro para quem vai o “voto católico”, e frente aos conselhos da Igreja que se centram mais em quem o católico não deve votar –, os fiéis poderiam acabar votando não por uma consciência “bem formada”, mas pelo instinto.