02 Agosto 2016
Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Sant’Egídio: pela primeira vez num domingo as igrejas se encheram de imãs mas também de simples muçulmanos.
A entrevista é de Flavia Amabile, publicada por La Stampa, 01-08-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
“Foi um sinal importante. É hora de parar de dizer aos muçulmanos que devem dissociar-se. A sua presença durante a Missa de hoje foi muito importante ante tantas outras convenções organizadas nestes anos para fazer entender que o Islã é uma religião que pode e quer conviver com os outros”.
Infelizmente é um gesto que chega após muito, talvez demasiado tempo. “Cada mundo tem os seus tempos. Creio que haja um grande pavor em nós. Para exorcizá-lo se transformam os muçulmanos em inimigos, se criam muros, barreiras, limites, mas a realidade é muito mais complexa. Isto não é uma guerra, é terrorismo. Não há fronteiras, o terror está no meio de nós e é enfrentado de diversas maneiras”.
Como?
Requerem-se nervos sadios, conduta civil e política, vigilância que é requerida também aos muçulmanos ante os seus correligionários, para que não se repita a indulgência perante o companheiro que erra. E depois, é preciso voltar a falar das nossas cidades, das nossas periferias. Preocupam-nos tanto cérebros em fuga, mas não nos damos conta do fato que tantos jovens sejam afastados da sociedade. Requer-se firmeza e maiores intervenções de polícia, mas serve também um discurso sobre a sociedade, a sociedade civil deve absolutamente ressurgir. Infelizmente, não me parece que esteja ocorrendo muita ação neste sentido.
De que modo é preciso intervir na sociedade?
A comunidade islâmica está inserida e integrada e os jovens devem assumir um papel de protagonistas e as comunidades religiosas devem dialogar entre si. Sob estes aspectos me pergunto qual possa ser o empenho das instituições. Construímos uma sociedade de adultos que não querem envelhecer e não se colocam o problema de transmitir o seu saber aos jovens. Talvez tenha razão Jean Marie Colombiani, ex-diretor de “Le Monde”, ao solicitar um serviço civil obrigatório como instrumento de coesão e integração dos jovens.
Na França se discute sobre a necessidade de prever uma patente para os Imãs, um modo para distinguir quem é pela paz de quem não o é.
O verdadeiro problema é a relação entre o Islã e a cultura italiana. É preciso fazer de modo que as religiões possam confrontar-se, mas não me parece que nestes últimos anos se esteja fazendo algo. É importante que o Estado dê as licenças que correm o risco de ser uma forma de repressão, mas é necessário que haja integração. Somente através da coesão se pode vencer esta batalha. Hoje temos colocado a palavra fim sobre os outros a considerar como infiéis”.
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“As religiões devem confrontar-se, os outros não são infiéis” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU