27 Mai 2016
O grande imã da universidade islâmica sunita, pela primeira vez no Vaticano, agradeceu a Francisco pelas suas palavras sobre o respeito devido às religiões e o convidou ao Cairo.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 24-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"O nosso encontro é a mensagem." Francisco acolheu com essas palavras, ao meio-dia dessa segunda-feira, 23, na biblioteca do Palácio Apostólico, o grande imã de al-Azhar, Ahmad Muhammad al-Tayyib, que, no fim da conversa, convidou o papa à universidade islâmica do Cairo.
O aperto de mão e, depois, o abraço fraterno entre o bispo de Roma e a mais alta autoridade do Islã sunita é um evento religioso que ocorre pela primeira vez no Vaticano. E vem depois de anos em que as relações tinham se tornado tensas.
O encontro é um evento destinado a ter consequências no mundo muçulmano: al-Tayyib é o imã que, mais decididamente, combate o fundamentalismo islamista dos pregadores do ódio, aquela ideologia que disfarça como religiosidade o terrorismo e a violência cometida abusando do nome de Deus.
Rejeição do terrorismo
No centro da conversa, que durou quase 30 minutos e que ocorreu em um clima muito cordial, estiveram o "compromisso comum das autoridades e dos fiéis das grandes religiões pela paz no mundo, a rejeição da violência e do terrorismo, a situação dos cristãos no contexto dos conflitos e das tensões do Oriente Médio e a sua proteção".
Francisco e al-Tayyib também "destacaram o grande significado desse novo encontro no marco do diálogo entre a Igreja Católica e o Islã".
Delegação "importante"
A breve viagem europeia do líder sunita, que, à tarde, partiu novamente para Paris – a cidade europeia mais atingida pelos atentados –, onde se encontrou com François Hollande no Eliseu e, nessa terça-feira, participou de um encontro promovido pela Comunidade de Santo Egídio junto com Andrea Riccardi, foi pensada e construída em torno dessa visita ao outro lado do Rio Tibre, na qual se trabalhava há muito tempo, mas que foi decidida no espaço de poucos dias.
Do aeroporto, al-Tayyib chegou ao Vaticano acompanhado por uma delegação de alto nível, definida como "importante" também no comunicado do porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi.
Com o grande imã, viajavam, dentre outros, o seu vice, Abbas Shouman; Mahmaoud Hamdi Zakzouk, diretor do Centro para o Diálogo de al-Azhar; o juiz Mohamed Mahmoud Abdel Salam, conselheiro de al-Tayyib. Também estava presente o embaixador do Egito junto à Santa Sé, Hatem Seif Elnasr.
O caso de 2011
O papa recebeu al-Tayyib com o cerimonial dedicado às autoridades religiosas. Não havia os piquetes de guardas suíços, e os dois começaram a dialogar um de frente para o outro, mas em um lado da mesa. O intérprete foi o secretário particular do pontífice, o padre egípcio Yoannis Lahzi Gaid.
Francisco e o imã se olharam nos olhos. Não houve nem a necessidade de repassar o que aconteceu nos últimos anos. O encontro, de fato, fechou uma fase de gelo, que começou em janeiro de 2011, depois de um sangrento atentado contra os coptas de Alexandria, quando Bento XVI falou da "urgente necessidade de que os governos da região adotem, apesar das dificuldades e das ameaças, medidas eficazes para a proteção das minorias religiosas". O Papa Ratzinger, obviamente, se referia aos governos locais. Mas as suas palavras foram mal traduzidas pelos meios de comunicação e, especialmente, pelas televisões do mundo árabe, que as apresentaram como um pedido de intervenção do Ocidente naquela região.
Seção árabe da Secretaria de Estado
A reação de al-Azhar e do Egito foi de considerar isso como uma inaceitável ingerência política. O embaixador junto à Santa Sé foi chamado de volta para o Cairo. Finalmente, quando se percebeu o que o papa efetivamente tinha dito, já era tarde demais.
E, assim, a universidade sunita decidiu, evocando também o discurso proferido por Ratzinger em Regensburg, cinco anos antes, suspender o diálogo com a Santa Sé. O Vaticano decidiu, a pedido dos bispos que participavam do Sínodo sobre o Oriente Médio, inaugurar uma seção árabe da Secretaria de Estado, de modo a fornecer rapidamente a tradução exata de todas as palavras e as intervenções papais, impedindo manipulações mais ou menos interessadas.
"O Isis não é o Islã"
Mas tudo isso é passado, superado ainda antes do aperto de mão e que permaneceu às margens da conversa. Os dois líderes trocaram pareceres e preocupações. Ambos desejam que as religiões preguem a paz, não ódio. Ambos querem que o nome de Deus não seja instrumentalizado por aqueles que incitam o ódio e o terror, também com a pregação nas mesquitas.
Por isso, Francisco repetiu que "o encontro é a mensagem". Al-Tayyib disse ao papa que o Isis não é o Islã. Ele agradeceu Francisco pelas suas mensagens, particularmente por aquilo que ele havia dito na entrevista no avião, em janeiro de 2015, depois do massacre do Charlie Ebdo, quando insistira sobre a necessidade de respeitar as religiões.
No fim da conversa, Francisco presenteou ao imã a encíclica ecológica Laudato si' e o medalhão da paz, que retrata uma oliveira que nasce da rocha.
Na sala adjacente, depois, ocorreu um encontro entre a delegação egípcia e a vaticana, liderada pelo cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso.
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O convite histórico de al-Tayyib ao papa: "Venha a al-Azhar" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU