12 Mai 2016
Uma assistente social indiana, a primeira asiática liderar a Congregação das Irmãs de Notre Dame, convidou as superioras das comunidades religiosas femininas do mundo todo a pararem de “teologizar” sobre as necessidades dos pobres e, em vez disso, ir trabalhar nos lugares mais necessitados.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por Global Sisters Report, 10-05-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em 10 de maio, num encontro da União Internacional das Superioras Gerais, a Irmã Mary Sujita disse a 900 religiosas representantes das aproximadamente 500 mil irmãs espalhadas pelo mundo que elas não podem mais “reduzir a missão delas a alguns ministérios tradicionais e a boas ações caridosas”, mas sim devem trabalhar por transformações profundas e estruturais ao redor do mundo.
“Qual a minha verdadeira identidade? Será que estou sendo aquela que afirmo ser na qualidade de religiosa?”, perguntou. “Quem está se beneficiando dos meus votos? A minha vida vai fazer alguma diferença nas vidas dos mais necessitados?”
Sujita, que presidiu a sua ordem religiosa na sede em Roma entre os anos de 1998 a 2011, disse também que as congregações não deveriam focar suas energias em problemas como a diminuição de candidatas que se apresentam para a vida religiosa, mas sim em servir aqueles que se encontram às margens da sociedade.
“O futuro da vida religiosa será decidido nas periferias onde Cristo está em agonia”, disse a religiosa na assembleia trienal da UISG, sigla para União Internacional das Superioras Gerais. “Ele não vai ser decidido baseado nos números de irmãs que temos. Vamos ser claras aqui”.
“Irmãs, nós, que temos tudo e, em geral, estamos entre as mulheres mais privilegiadas do mundo, do que temos medo?”, Sujuta indagou logo em seguida. “Qual a origem da nossa covardia e do nosso medo?”
“A forma como escolhemos responder a este momento vai decidir o futuro da vida religiosa ministerial”, disse. “Não temos muito tempo. Como Jesus, somos desafiadas a agir com ousadia, inspiradas pelo divino. Nós estamos sendo cuidadosas demais. Jesus era ousado em seu amor. Será que estamos prontas para isso?”
“O tempo está se esgotando”, declarou a religiosa. “Ou vivemos uma vida profética (…) ou desapareceremos como uma realidade irrelevante”.
A assembleia da UISG começou na segunda e vai até sexta-feira (9 a 13 de maio) em Roma, com o tema “Tecendo a Solidariedade Global para a Vida”.
Durante cinco dias de sessões plenárias e encontros, incluindo uma audiência privada com o Papa Francisco na quinta-feira, as líderes religiosas discutirão questões perenes relativas ao papel da vida religiosa no mundo à luz de problemas globais atuais, em particular as contínuas crises econômicas e ambientais.
Na terça-feira, Sujita focou a sua alocução na extrema pobreza em que muitas pessoas no mundo vivem, citando estudos segundo os quais 800 milhões de indivíduos passam fome e que 01 criança morre de doença relacionada com a água a cada 20 segundos.
“O nosso compromisso sincero com a justiça é parte irrevogável na maneira de vivermos a nossa fé e o nosso discipulado ”, disse.
“Hoje, há muita teologização e escritas sobre a opção radical pelos pobres e necessitados”, continuou a religiosa. “Ainda que eu possa me sentir bem quanto a isso no nível conceitual, pergunto: Onde estou em minha prática, em minha solidariedade pé no chão, junto aos pobres?”
“Imaginemos se cada religiosa estendesse a mão a algumas poucas pessoas marginalizadas. As margens em que elas se encontram iriam se tornar em ilhas de esperança!”.
Segundo ela, “nós não somos um grupo sem esperanças. Somos uma força motriz de transformação”.
Nesta semana, religiosas dos cinco continentes estão participando na assembleia da UISG; as discussões estão sendo traduzidas para 11 idiomas, incluindo japonês, coreano, vietnamita e chinês.
O evento conta com uma ou duas apresentações por cada dia apenas, o que permite ter momentos para refletir em grupos menores a partir dos tópicos apresentados.
Sujita é uma das palestrantes da assembleia. Na abertura dos trabalhos segunda-feira, a irmã americana Carol Zinn (da Congregação de São José) advertiu as demais contra a aceitação da ideia de que não há relação entre pobreza e a destruição ambiental.
Zinn, que foi presidente da Conferência de Liderança das Religiosas (Leadership Conference of Women Religious), disse que a vida consagrada vem tendo um “estilo de vida de primeiro mundo”, o que “pode criar consciências apáticas e uma cegueira do coração através das quais podemos facilmente ver não a dor, mas aquilo que queremos ver”.
Entre as demais palestrantes na assembleia plenária estão a irmã brasileira Márian Ambrosio (da Congregação da Divina Providência) e a irmã italiana Grazia Loparco (da Congregação Filha de Maria).
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As religiosas devem trabalhar pelos marginalizados, pela transformação estrutural - Instituto Humanitas Unisinos - IHU