10 Mai 2016
Uma foto tirada há dois dias retrata o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado vaticano, enquanto desembarca no aeroporto de Vilnius de um voo Ryanair. Convidado por Francisco na Lituânia como “legado pontifício” para o Congresso nacional da misericórdia – a viagem passará também pela Estônia e a Letônia – Parolin escolheu um voo low cost. Certamente, conhecendo o estilo de vida na insígnia da sobriedade do purpurado vicentino, a notícia não surpreende mais tanto.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por la Repubblica, 09-05-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Todavia, olhando bem, num momento no qual os escândalos, também financeiros e econômicos, não param de fazer falar de si sob a alta Cúpula, a escolha de Parolin acaba sendo significativa: Além Tibre há uma cúria que também em suas máximas cúpulas sabe trabalhar em silêncio e sem ceder nos excessos já denunciados por Francisco no discurso à Cúria romana de 22 de dezembro de 2014. Entre as 15 enfermidades espirituais elencadas estava também aquele acúmulo de bens materiais com os quais “o apóstolo procura preencher um vazio existencial no seu coração”. Não necessita deles, mas deste modo “sente-se mais seguro”.
A escolha de Parolin, dizem no Vaticano, é “pessoal”. E assim, precisamente por este motivo, significativa. Não havendo no mérito diretrizes gerais da parte da Santa Sé, o voo de Parolin se torna um sinal que ele dá a todos: também os cardeais, em substância, podem e devem dar o exemplo. De resto, assim fazia também o cardeal Bergoglio. Arcebispo de Buenos Aires, que voava sempre em classe econômica. E da mesma forma ele fez aos 27 de fevereiro de 2013, quando da Argentina chegou a Roma para o conclave. Do Vaticano lhe tinha sido enviado um bilhete de primeira classe. Mas ele o trocou com um de classe econômica, solicitando somente a cortesia de um lugar próximo à saída de emergência porque a ciática o atormentava por ocasião das viagens longas e ali havia um pouco mais espaço para as pernas.
Francisco não é um pauperista, nem que prelados e padres o sejam. Simplesmente, como disse o secretário da Pontifícia comissão para a América Latina, Guzmán Carriquiri à Radio Vaticana em julho passado, “é pastor que vê e se comove em cada encontro com os pobres”. Na consciência de que são eles que carregam “nas próprias chagas o que ainda falta à Paixão de Cristo”. Do lado dos pobres também sabe estar Parolin que, no seu longo serviço de núncio na Venezuela, não tinha deixado de valorizar os santos mais caros à população local: populares, empenhados com os pobres, proféticos com os regimes ditatoriais, como aquele José Gregorio Hernández Cisneros, médico e religioso do século vinte que viveu a cava lo e do qual, antes de partir, ele pregou pela beatificação.
Talvez também seja por este traço “popular” que Francisco escolheu Parolin como secretário de Estado aos 15 de outubro de 2013. Porque o sentia próximo ao seu modo de atua. Ele, Bergoglio, como atestam algumas fotos difundidas em rede nestes dias, se não tivesse sido eleito ao sólio de Pedro, teria escolhido habitar num pequeno quarto, espartano e essencial – vê-se uma cama, uma poltrona, um armário na parede e um ventilador de teto – no interior do “pensionato” junto à Casa sacerdotal de Buenos Aires “Monseñor Mariano A. Espinosa”. Já pouco antes de completar os seus 75 anos (17 de dezembro de 2011), havia escolhido o quarto número 13. Como escreve o site Il Sismografo, referindo uma declaração de uma religiosa da capital argentina, solicitou o quarto dizendo: Preferirei que não fosse num andar alto. Não quero estar em cima de ninguém, portanto encontre-a antes num andar de baixo”.
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Parolin voa a Vilnius com o avião low cost. A última virada na Cúria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU