Por: André | 10 Mai 2016
“Estamos assistindo (abril-maio de 2016) a um novo assalto à raiz do Evangelho, que o Papa Francisco quer oferecer, expor e animar com seu exemplo e doutrina como Papa: um Evangelho sem glosa, como dizia Francisco de Assis no século XIII... Um evangelho de liberdade cristã”, escreve Xabier Pikaza, em artigo publicado por Religión Digital, 08-05-2016. A tradução é de André Langer.
Fonte: http://bit.ly/1WlkMst |
Eis o artigo.
Estamos assistindo (abril-maio de 2016) a um novo assalto à raiz do Evangelho, que o Papa Francisco quer oferecer, expor e animar com seu exemplo e doutrina como Papa: um Evangelho sem glosa, como dizia Francisco de Assis no século XIII... Um evangelho de liberdade cristã.
Este é um “assalto da lei”, mas não da boa (disso que se chama “ouro da lei”), mas da pior; um assalto orquestrado por cardeais da cúria e por “novos curiais” ultramontanos que começaram a dizer coisas, tais como:
– este Papa não sabe teologia (sabe Evangelho!),
– está quebrando a Lei Natural (a que eles acreditam de sua natureza!),
– está destruindo a Igreja, de modo que é preciso que morra...
E dizem isso apelando à rejeição presente (não obedecer) e ao juízo futuro (que morra logo para voltar ao bom rumo do barco petrino...)... com um livro na mão (olhando para o livro, não para a vida, como parece fazer o cardeal Müller, em uma biblioteca, não na rua).
— Este é um assalto que provém da lei do medo, própria daqueles que não acreditam verdadeiramente no Evangelho da conversão, da nova forma de pensar e de agir de Jesus (Mt 1, 14-15), e se refugiam em um tipo de suposta “essência” das coisas, tanto no plano do amor sem amor (imposição externa) e do fortalecimento de um tipo de instituição eclesial. Eles têm medo da liberdade de Jesus e, por isso, seguem se aferrando a seguranças e imposições exteriores.
— Este é o assalto daqueles que têm medo da sua própria liberdade, da sua responsabilidade pessoal, a flor da vida (a favor da sua própria vida!) e, por isso, para garantir-se a si mesmos impõem sobre os outros as cargas que eles são incapazes de carregar (Lc 11, 46). Para libertar-se de seu medo (sem poder consegui-lo) impõem duras obrigações legais sobre os outros, em um nível de relações pessoais, da eucaristia sem eucaristia...
Buscam a lei do “curral” fechado, controlado, pois temem que os cristãos sejam livres e explorem a verdade da vida segundo o Evangelho, de maneira que eles, os “controladores da Igreja” percam sua função, fiquem na rua da vida (de onde não deviam ter saído).
— Nesse contexto, o novo Papa Francisco, como o Irmão de Assis, quis voltar ao “evangelho sem glosa”, ou seja, sem metafísicas doutrinárias à sua medida, sem interpretações que encerram novamente os fiéis em um tipo de “baú de normas exteriores”...
Ele quis oferecer um programa de restauração da Igreja caída, como o de Francisco de Assis, quando começou a reconstruir os muros de São Damião, para reconstruir depois e recriar toda a Igreja, desde o Evangelho sem glosa, em liberdade, fraternidade e pobreza (que é riqueza compartilhada).
Desde esse fundo de Evangelho, Francisco quis oferecer humildemente, sem estridências nem condenações, um programa de educação evangélica, que pode se condensado em três momentos, como nos esquemas de formação dos comprometidos do Evangelho, no Ver, Julgar e Agir.
Um cristão se educa para:
a) O cristão é um homem ou mulher que se educa para ver as coisas da vida, não apenas em um plano teórico (ajudado pelas diversas ciências), mas no plano da encarnação pessoal (em nível de liberdade criadora). O cristão deve ser um especialista da liberdade, olhar para os homens e os problemas atuais, para descobrir a dor e a opressão concreta das maiorias, para iniciar a partir delas um caminho de libertação pessoal. O que Jesus quer: que não nos enganem com princípios altissonantes (quanto mais alto soam mais falsos são), que nós mesmos saibamos “ver”. Isso é Evangelho: abrir os olhos, curar os cegos... Que vejam, que vejamos...
Fonte: http://bit.ly/1WlkMst |
b) O cristão é um homem que se educa para julgar, isto é, para discernir por si mesmo e distinguir o que é bom e o que é mau (como já sabia o Deuteronômio): “Ponho diante de ti o bem e o mal...”. Temos muitos impedimentos de normas externas, de poderes fáticos, de imposições... Pois bem, nesse contexto, trata-se de aprender a julgar por nós mesmos, para conhecer assim as formas e causas da nova opressão humana, para superá-las a partir do Evangelho.
Trata-se, pois, de conhecer o que há no fundo da vida e planejar o que vai na linha de Deus e realizá-lo de um modo efetivo, seguindo assim o exemplo de Jesus, que veio para proclamar o ano novo da Liberdade e da graça, como disse na Sinagoga de Nazaré (Lc 4, 18-19), que teve que deixar. Cardeais e pensadores de estilo não cristão querem meter-nos novamente em uma má sinagoga, para nos impor sua religião, não a de Jesus.
c) O cristão é um homem de ação: não é um simples teórico que traça planos e dita sentenças de cima para baixo, para manter uma ordem religiosa estabelecida segundo a lei; não é apenas alguém que olha e julga (opina), deixando as coisas como estavam, mas um homem ou mulher que se compromete fazendo, no campo concreto da vida e do sofrimento dos homens, para que vejam, para que caminhem, para que se amem, com a liberdade proporcionada pelo Evangelho, acima de todas as sinagogas do mundo, acima de todos os poderes estabelecidos... na linha do Evangelho, como segue dizendo Mt 25, 31-46.
Esta é a tarefa que nos propõe novamente o Papa Francisco, contra os “paisanos” da Velha Sinagoga de Nazaré ou das novas sinagogas dos poderes de fato de uma Igreja Estabelecida que quer manter-se a si mesma acima do Evangelho.
Continuarei falando do tema em novos posts, de um modo mais concreto. Hoje, limito-me a recolher os últimos números de um plano cristão-mercedário de Liberdade que já estabelecemos no México em 1992. Este é o final daquele documento que pode ser útil para aqueles que querem implicar-se no movimento da liberdade cristã.
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“Assistimos a um assalto à raiz do Evangelho, que o Papa Francisco quer oferecer”. Artigo de Xabier Pikaza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU