Por: André | 06 Mai 2016
O Papa Francisco receberá o Prêmio Carlos Magno. Contamos, neste artigo, quais são os valores que sua mensagem transmite e sua importância para a Europa e para o mundo.
A reportagem é publicada por Deutsche Welle, 05-05-2016. A tradução é de André Langer.
Desde 1950, uma associação da cidade alemã de Aachen concede o Prêmio Carlos Magno às personalidades que se distinguem no âmbito europeu em seus esforços pela paz. Entre os ganhadores encontram-se políticos de alto nível, chanceleres, um presidente estadunidense, os habitantes de Luxemburgo, o euro e também um papa.
Em 2004, obteve o prêmio o Papa João Paulo II, já enfermo, por seu papel exercido durante a queda do regime comunista no Leste da Europa. O Prêmio Internacional Carlos Magno da Cidade de Aachen goza de grande renome em todo o mundo, já que é o prêmio político em nível europeu mais antigo da Alemanha, e reúne cada ano um círculo de políticos e figuras destacadas.
O criador do prêmio
O comerciante têxtil Kurt Pfeiffer, um dos primeiros prefeitos da cidade depois da Segunda Guerra Mundial, teve a ideia de criar um prêmio que honrasse a unificação europeia. Fundou uma associação e conseguiu o apoio de muitos cidadãos de Aachen. As forças de ocupação britânica não estavam muito de acordo com a ideia, porque Pfeiffer e alguns de seus companheiros de luta tinham sido membros do Partido Nacional Socialista Operário Alemão (NSDAP), o partido nazista. No entanto, Pfeiffer demonstrou que não havia nada a temer escolhendo personalidades ilustres e despertando interesse fora da sua cidade natal.
O nome do prêmio
O imperador Carlos Magno era, para os criadores do prêmio, o pai da unificação da Europa. Carlos Magno fundou – apesar de fazê-lo pela força das armas e com guerras sangrentas, por exemplo contra os saxões pagãos – um reino europeu ocidental com uma administração eficiente. Criou com isso o fundamento da identidade europeia. Aachen era a sede imperial, e essa cidade está ligada a Carlos Magno de diversas maneiras. Foi sede da coroação dos reis alemães até o século XVI. Kurt Pfeiffer escolheu batizar dessa maneira o prêmio para construir uma ponte entre o passado e o futuro.
A eleição
Os 17 membros da comissão da Associação Carlos Magno escolhem por voto secreto o candidato tendo em conta as propostas enviadas por cada um deles e sem que venham à tona os critérios pelos quais os escolhem nem os debates anteriores à eleição. As atas permanecem sob chave durante pelo menos 30 anos. Os partidos da ala esquerda de Aachen sempre criticaram a escolha sobretudo de políticos conservadores para o prêmio.
Os chanceleres socialdemocratas Willy Brandt e Helmut Schmidt não foram designados para receber o Prêmio Carlos Magno, ao passo que todos os democrata-cristãos, inclusive a chanceler Angela Merkel, foram agraciados com ele. Houve inclusive protestos em frente à prefeitura de Aachen durante a cerimônia de entrega do prêmio, por exemplo, contra Henry Kissinger, responsável como ministro de Exteriores pela Guerra do Vietnã.
O agraciado
O Papa Francisco receberá o Prêmio Carlos Magno por sua “destacada autoridade moral, que nos recorda, a modo de advertência e ao mesmo tempo como mediador, que a Europa tem a tarefa e a obrigação, sobre a base dos ideais de seus pais fundadores, de tornar realidade a paz, a liberdade, o Estado de direito e a democracia, a solidariedade e a conservação da criação”. Esse é o argumento da comissão do Prêmio Carlos Magno.
Durante o seu discurso no Parlamento Europeu, o Papa Francisco referiu-se em tom admoestador ao estado de fragilidade em que se encontra a União Europeia. Criticou com palavras e obras a falta de compaixão da política europeia diante da chegada de refugiados. Visitou os refugiados em Lampedusa, em 2013, e, há pouco, em Lesbos. E levou 12 refugiados com ele para o Vaticano.
“O Papa Francisco é alguém que, atualmente, trabalha pela unidade europeia, que pronunciou um discurso notável no Parlamento Europeu e que disse aos europeus que conservem seus valores e não voltem a cair no nacionalismo. Justamente na crise dos refugiados disse palavras sumamente importantes para a Europa. Esse é o motivo pelo qual acredito que é merecedor do Prêmio Carlos Magno”, disse Armin Laschet à Deutsche Welle.
Laschet nasceu em Aachen, foi eurodeputado e ministro da Integração da Renânia do Norte-Westfália. Pertence à CDU e faz parte da comissão do Prêmio Carlos Magno, razão pela qual participou da escolha do Papa Francisco. Segundo ele, um católico praticante, Francisco poderia ser, como primeiro “Papa da globalização”, um exemplo para muitos europeus.
“Tenho a impressão de que sua forma de trabalhar ultrapassa todas as fronteiras confessionais, e que muitos veem nele a autoridade moral que estão buscando neste tempo. Por isso, tenho plena confiança em que o fato de que receba o Prêmio Carlos Magno fará com que sua mensagem volte a ocupar o centro das atenções”.
Marco Politi, jornalista especializado em temas eclesiásticos e íntimo conhecedor da política papal, disse à Deusche Welle que “com suas palavras sobre a situação geopolítica, o Papa demonstrou quanto silêncio há na Europa, que se dirige em uma espécie de sonambulismo para a dissolução”.
Segundo Politi, o Papa Francisco é realmente um “Papa da globalização”, uma vez que não nasceu em uma pequena aldeia da Baviera ou da Polônia, mas em Buenos Aires, uma grande metrópole de vários milhões de habitantes. Francisco tem uma visão diferente do mundo e pede que as pessoas se ocupem das necessidades dos demais.
“Creio que a melhor mensagem que se pode transmitir hoje à Europa é que os povos europeus têm de entender uma vez mais que é preciso esforçar-se para conseguir a unidade, e que só uma Europa unida pode enfrentar os problemas do mundo moderno”.
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Prêmio Carlos Magno será concedido ao “Papa da globalização” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU