08 Janeiro 2016
“Eu estava querendo complementar o artigo que eu escrevi sobre a misericórdia e a saga Star Wars (Guerra nas Estrelas) com alguns pensamentos sobre “O Despertar da Força” – o qual acredite ou não saiu há pouco mais de duas semanas atrás. Eu sei – parece que foi ano passado. (Na verdade, ao pensar sobre, isto também é verdade). Mas eu não queria estragar nada, então resisti. Até agora!”, escreve Jim McDermott, em artigo publicado pela revista America, 04-01-2016. A tradução é de Evlyn Louise Zilch.
O Poder da Repetição
Talvez a maior crítica que eu tenha ouvido sobre “O Despertar da Força” é que é apenas um novo arranjo do original “Star Wars”. Considere o enredo do filme em uma frase: sonhador solitário preso em um planeta deserto que escapa através do Millennium Falcon e Han Solo para se envolver em um movimento de resistência que inclui explodir um planeta killing, ops, planeta, mas ao custo do assassinato de uma figura paterna em frente ao sonhador pelo vilão.
Então sim, realmente é muito similar. E sinceramente, se eu pudesse apagar uma ideia do novo filme, seria toda a história do dispositivo de morte do Planeta Starkiller. Apenas jogaria fora. Quero dizer, sim, foi algo grande – mas também foi claramente secundário.
(Ainda, mais ou menos impossível de entender: eu li explicações dizendo que a explosão de Starkiller passa pelo hiperespaço então pode explodir coisas através do universo, mas então como todo mundo consegue ver os feixes? E desde quando a velocidade da luz é instantânea? E o que a explosão destes planetas significa? Não existe mais governo Republicano? Porque parece que isso faria Leia e seus amigos muito mais chateados do que parecem estar).
Então é, Starkiller – não foi a melhor escolha. Embora eu também diga, em uma repetida visão, que na verdade não é um grande problema. Eu não sei se isso é porque agora você sabe o que está por vir e pode ignorar ou porque apenas é algo que funciona melhor na segunda (ou terceira) (ou quarta – não me julguem) visualização.
Mas mesmo com Starkiller, “O Despertar da Força” definitivamente não é o mesmo filme que “Star Wars”. Apenas para citar o exemplo mais óbvio, tem o Finn, o stormtrooper desertor da Primeira Ordem. Não há nenhum equivalente do Finn na saga Star Wars. Ele é algo totalmente novo, e o filme é tanto sobre ele quanto sobre a Rey.
(Além disso, é minha suspeita de que ele, também, é um futuro Jedi. Ele é quem Kylo Ren percebe no planeta. Ele é quem de alguma forma consegue sair da programação da Primeira Ordem com todos os soldados. E Rey não tinha feito nada ainda quando o Comandante Snoke diz que houve um despertar. Portanto, entrem em um consenso, pessoal. Eles não podem ser todos Skywalkers).
A Rey por si só já gera análises interessantes. É verdade que, assim como Luke, ela é uma órfã presa em um inóspito e deserto planeta. Mas, diferentemente dele, ela não está desesperada para partir; está desesperada para ficar. Ela perdeu tudo e está vivendo em meio há ruinas da guerra (literalmente), e ainda assim ela tem a esperança de que reencontrará sua família. A história dela é tão mordaz quanto a de Luke, se não mais; mas também é totalmente diferente.
E este é o verdadeiro padrão de “O Despertar da Força” – muitos ecos de “Star Wars”, mas com alterações legais. Iniciamos com uma estrela destruidora preenchendo a tela, mas esta vez está entre nós e o planeta, criando aquela sensação de escuridão crescente. Temos um androide com planos que precisam retornar para os mocinhos, mas estes planos não são sobre explodir uma Death Star (Estrela da Morte), destruir um Império ou sequer matar um malvado Sith, mas sim sobre trazer o Jedi e sua bondade de volta a um universo que lentamente está se tornando mais frio. Nós temos um homem mal e assustador em uma máscara, mas ele é totalmente diferente de Vader.
No livro de Gênesis, as mesmas histórias básicas continuam repetindo-se de geração em geração: irmãos mais velhos e mais jovens competem e traem-se uns aos outros; as pessoas são tentadas e caem; sociedades decaem; e Deus elege indivíduos inesperados para ver a humanidade permanecer. E esta repetição é parte do ponto: não importa quando você está vivendo, as escolhas, as tentações e Deus são fundamentalmente os mesmos.
Mas, ao mesmo tempo, as alterações entre gerações lembram-nos de que não estamos presos em um loop infinito. As pessoas (e Deus) sempre podem tomar novas e surpreendentes decisões. Mesmo em meio à monotonia ou de um fim aparentemente interminável, sempre há também a possibilidade de mudança.
Para mim, esse é o ponto fundamental da repetição não apenas em "O Despertar da Força", mas em todos os filmes "Star Wars". A vida é sempre a mesma luta do bem contra o mal, e ainda assim é sempre também preenchida com surpresas, a possibilidade de uma nova esperança.
As Consequências da Misericórdia
Como eu escrevi há uns meses atrás, eu acho que o tema principal dos filmes originais "Star Wars" é o desafio de misericórdia. Todos em torno de Luke dizem que ele deve matar Vader, mas quando ele descobre que o homem na armadura é seu pai, ele se recusa a ir por esse caminho. Em vez disso ele sai para salvar seu pai e essa escolha não apenas ajuda Vader a recuperar sua alma, mas também lhe dá a coragem para destruir o Imperador. O amor de Luke literalmente salva todo o universo. É tudo muito gratificante e feliz para sempre.
Exceto em uma maneira Yoda e Ben estavam certos: Ser misericordioso é incrivelmente perigoso. Ser misericordioso é expor-se a dor, a traição ou pior. Na vida assim como nos filmes, fazer a coisa certa geralmente tem um alto preço.
Nesse sentido, o final de "O Retorno de Jedi" tem uma pitada de fraude; e eu acho que a maioria dos espectadores sentem em algum nível que algo está faltando no filme. Não é apenas que os Ewoks são fundamentalmente um emburrecimento do conceito de “Star Wars”; alguém importante deveria ter morrido ou algo importante deveria ter sido perdido. Imagine se Chewbacca ou Leia tivessem sido mortos na batalha em Endor; pense no gravitas que teria sido acrescentado.
Eu acho que este novo filme está tentando explorar esse outro lado da moeda, as consequências e os riscos da misericórdia. A situação é outra maravilhosa repetição-com-reversão do original: em vez do filho tentar trazer de volta o pai, aqui temos o pai, Han Solo, tentando trazer de volta o filho – que é apropriadamente chamado Ben. (Na verdade, Leia e Han terem dado a seu único filho esse nome é inteiramente bobo, nem teve qualquer contato real com Ben Kenobi. Mas é perfeito para a cena, então encaixa-se com ela).
E a cena acontece em formas que visualmente e emocionalmente ecoam tanto o momento Kenobi/Vader em "Star Wars" quanto o confronto Vader/Luke no final de "Empire" (Império). O momento Kenobi/Vader é o mais óbvio – assim como Ben é confrontado por Vader depois que ele terminou de desativar o tractor beam (raio trator), Han, depois de ter terminado a configuração das minas que ajudarão as forças da Resistência, confronta seu filho.
Mas logo temos a diferença de que Han procede em uma postura de misericórdia. Em "Star Wars", Obi-Wan há muito tempo desistiu de Vader. Ele o chama de "um mestre do mal" e refere-se a ele apenas como "Darth". Han, por outro lado, se recusa a chamar seu filho por seu estúpido nome de bandido, até mesmo faz com que ele tire sua máscara de Halloween de "Eu quero ser Darth Vader”. Ele está lá apenas para tentar ajudar o seu filho, exatamente como Luke, em "O Retorno de Jedi".
Mas ao contrário de Luke, ele paga o preço – que, em retrospecto, realmente tinha que acontecer. E é realmente o mais alto dos preços; ao contrário do Jedi, Han não deveria ter qualquer “vida fantasma após a morte” pela qual esperar. Ele se colocou lá fora, sabendo o risco, e ele perdeu tudo.
Se eu tivesse que adivinhar, eu suspeitaria que a jornada desses filmes, em comparação com a trilogia original, é como este sacrifício irá mudar tudo. É realmente a história de Jesus, se você pensar sobre isso. (Diga-me se você nunca pensou que Han Solo poderia ser uma figura de Jesus...). Ele dá tudo, falha completamente. E, no entanto, como resultado de sua vontade de amar não importando o custo, para ser honesto, o mundo é completamente mudado.
Ben Solo matou seu pai, a fim de acalmar o tormento em sua alma. (Para mim, a melhor parte dessa cena é como fundamentalmente verdadeira é a conversa entre Ben e Han. Ele está atormentado; ele quer a ajuda de seu pai. E seu pai não fará nada). Mas será que aquele assassinato fortalecerá suas más intenções ou irá corroê-las? Isso é o que vai ser interessante.
Na batalha subsequente entre Rey e Kylo, o filme também nos dá uma pequena dica para o perigo do caminho de Obi-Wan/Yoda de que "A única coisa a fazer com os caras maus é Whackqueálos". Não é uma coincidência que quando Rey sobe para o nível de Jedi durona e tem sua chance de matar Kylo, seu rosto torna-se pura raiva. Slashfilm.com teve acesso ao próprio script; aqui está como o momento é descrito:
Ela poderia matá-lo – agora, com um golpe cruel! Mas ela pára. Percebendo que ela está em uma borda maior do que até mesmo o penhasco – a borda do lado escuro. A terra treme. A terra se divide. Uma fenda se forma.
Aparentemente na novelização do filme, ela ouve uma voz em sua cabeça que diz "Mate-o", a qual o audio book sugere ser do Comandante Snoke.
Então sim – misericórdia versus vingança, até punições justificadas – estão presentes ao longo do filme, e ainda assim o território em que estamos entrando é completamente diferente. E quem sabe o que está por vir...
507 dias até o Episódio VIII.
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Misericórdia e Star Wars: ‘O Despertar da Força’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU