4º domingo do Advento – Ano C – Na espera e na esperança

20 Dezembro 2024

"No evangelho deste domingo a comunidade de Lucas nos narra um dos encontros mais inspiradores da Sagrada Escritura. Os passos apressados de Maria, que carrega em seu ventre o Salvador, partem para a casa de sua prima Isabel, que gesta o precursor do Senhor, para ali ser presença de afeto e de serviço. Duas mulheres cuja visita de Deus foi portadora de boa notícia e de vida nova, não somente para si, mas para todas as gerações representadas nelas. A maturidade de Isabel e a juventude de Maria se encontram num abraço de júbilo e cuidado mútuo, de reconhecimento das maravilhas que Deus opera nos corações abertos à dádiva da sua graça. “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (v. 42), proclamou Isabel, saudação esta que o Povo de Deus continua a ecoar na oração da Ave-Maria".

A reflexão é da Raquel de Fátima Colet, FC. Ela é religiosa da Congregação Filhas da Caridade, Província de Curitiba. Irmã Raquel é doutora, mestra e bacharela em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). É assessora provincial da Pastoral Escolar Vicentina.

Leituras do dia

1ª Leitura: Miq 5,1-4ª
Salmo 79 (80)
2ª Leitura: Heb 10,5-10
Evangelho: Lc 1,39-47

Eis a reflexão.

Celebramos neste final de semana o quarto domingo do Advento, concluindo, assim, nosso itinerário de alegre e ativa espera pelo Natal do Senhor. Nesse tempo em que, como Igreja, estamos às portas da abertura do Jubileu 2025 – Peregrinos de Esperança, meditemos juntos sob esse signo – de espera e de esperança – a liturgia que nos é proposta.

Na primeira leitura (Mq 5,1-4a),  o profeta Miquéias  nos fala que aquele que “apascentará com a força do Senhor e com a majestade do nome do Senhor seu Deus” (v. 3) virá de “Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá” (v. 1). A pequenez e a humildade, que marcam a geografia de origem do Salvador, são, igualmente, o sinal que acompanha sua vinda. Na imagem da mãe que dá à luz e faz o olhar dos irmãos voltarem-se para os filhos de Israel (v. 2) está a manifestação que Deus não relegou seu povo ao abandono, mas que da ruína fez emergir a salvação. A “casa do pão” torna-se a “casa da esperança”, onde reinará a paz na vinha plantada e protegida pelo Senhor, como cantada no salmo 79.

No evangelho deste domingo a comunidade de Lucas nos narra um dos encontros mais inspiradores da Sagrada Escritura. Os passos apressados de Maria, que carrega em seu ventre o Salvador, partem para a casa de sua prima Isabel, que gesta o precursor do Senhor, para ali ser presença de afeto e de serviço. Duas mulheres cuja visita de Deus foi portadora de boa notícia e de vida nova, não somente para si, mas para todas as gerações representadas nelas. A maturidade de Isabel e a juventude de Maria se encontram num abraço de júbilo e cuidado mútuo, de reconhecimento das maravilhas que Deus opera nos corações abertos à dádiva da sua graça. “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (v. 42), proclamou Isabel, saudação esta que o Povo de Deus continua a ecoar na oração da Ave-Maria. “Bem-aventurada aquela que acreditou” (v. 45) exalta Isabel, reconhecendo e reverenciando a fé fecunda de Maria, que preparou seu coração para acolher, com generosidade, a ação de um Deus amoroso que sempre cumpre suas promessas.

Em Maria e Isabel estão representadas a humanidade visitada por Deus e geradora de vida. É o encontro das vidas em gestação, de vidas que ambas sabem que não lhes pertencem, mas que são dádivas de profecia e de salvação para todos. Nesse encontro vemos ressoar a fidelidade à vontade de Deus enaltecida pela segunda leitura, tirada da Carta as Hebreus (10, 5-10). O “aqui estou para cumprir a tua vontade” (v. 9) reverbera o “Faça-se” (Lc 1, 38) dito pela jovem de Nazaré à visita de Gabriel. Nem vítimas, nem sacrifícios, nem holocaustos: o coração fiel encontra sua referência na diaconia que é, por excelência, uma escola de esperança.

Aprendentes da esperança, que não decepciona (cf. Rm 5,5) e que é solidária, seguimos também nós. Nós que também habitamos em meio à pequenez de Belém ou de Ain-Karim; nós que, como Maria, avistamos caminhos montanhosos que interpelam nossos passos missionários; nós que, como a Mãe do Salvador e a mãe do precursor, acreditamos que todo encontro é um abraço de vidas transformadas e transformadoras; nós que reconhecemos, pela fé, que o Emanuel está entre nós, no cotidiano de nossas vidas e que participa de nossas esperas.

“Eis que venho” (cf. Hb 10, 7).
Maranatá! Vinde, Senhor Jesus!

- Educa nosso olhar para vislumbrar tua presença salvadora nas geografias da humildade e da pobreza, que embalam a profecia e que, como no ato da criação, ordenam o caos e dão nome aos seres.

- Educa nossos passos para a missionariedade do cuidado, a fim de que nossos pés não se atrofiem diante do relevo montanhoso levantado por nosso desânimo, egoísmo e indiferença.

- Educa nossos abraços para envolver e servir as vidas que foram abraçadas pela tua graça, que são benditas e abençoadas porque visitadas pela tua Providência amorosa.

- Educa nossos corações para a diaconia da esperança, que abre portas e gera hospitalidade, que sustenta nossa vocação de peregrinos e peregrinas.

Vinde, Senhor Jesus! Em nossas esperas, nós te esperamos, pois és tu nossa verdadeira e única esperança!

Assista também

Leia mais