9º domingo do Tempo Comum – Ano B – A missão de promover o bem, a vida, a liberdade e a justiça

31 Mai 2024

"O texto do Evangelho segundo Marcos proposto para a liturgia deste domingo inclui dois episódios. O primeiro episódio narra os discípulos colhendo espigas de trigo no sábado, enquanto o segundo descreve um confronto com os fariseus quando Jesus cura uma pessoa na sinagoga também em dia de sábado. Marcos nos convida a entender o ensinamento de Jesus sobre a interpretação correta do sábado judaico: o sábado foi instituído para o bem do ser humano, para promover a vida, a liberdade e a justiça."

A reflexão é de Izabel Patuzzo é religiosa pertence à Congregação Missionárias da Imaculada. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção. Doutora em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Leituras do dia

1ª leitura: Dt 5,12-15
Salmo: Sl 80(81),3-4.5-6ab.6c-8a.10-11b (R. 2a)
2ª leitura: 2Cor 4,6-11
Evangelho: Mc 2,23-3,6

Eis a reflexão.

A liturgia deste domingo nos fala da importância do dia do Senhor, o sábado para os judeus e o primeiro dia da semana, o domingo, para os cristãos. O dia consagrado a Deus faz memória da obra da criação, e o domingo, da obra redentora de Jesus Cristo.

A primeira leitura (Dt 5,12-15), extraída do livro do Deuteronômio, fala sobre o estabelecimento do sábado na vida do povo escolhido. O texto recorda que o sábado é um tempo para lembrar as grandes obras de Deus em favor de seu povo; é o dia reservado para lembrar o amor de Deus e as muitas vezes em que mostrou sua presença no meio do povo. No Antigo Testamento e certamente também agora, um dos grandes desafios é o esquecimento. A segunda leitura ( 2Cor 4,6-11), retirada da segunda carta aos Coríntios, faz afirmações realmente fortes; primeiro, ouvimos de Deus: “Das trevas resplandecerá a luz, e Ele fez a luz brilhar em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo”. Em seguida, ouvimos isso: “Nós, que vivemos, somos constantemente entregues à morte por causa de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal”. Para o apóstolo Paulo, as fragilidades humanas não comprometem a mensagem evangélica, pois ela é obra de Deus. Seguindo a mesma temática, o texto do Evangelho segundo Marcos (Mc 2,23-3,6) nos alerta acerca dos perigos de uma interpretação rigorista acerca do descanso sabático. Jesus nos convida a recuperar o verdadeiro sentido do descanso sagrado, que é o serviço e o amor aos mais necessitados. O dia do Senhor não é simples preceito, mas tempo propício para nos aproximarmos mais de Deus e dos irmãos.

1ª leitura (Dt 5,12-15)

O livro do Deuteronômio, em sua forma atual, é o resultado de um longo processo de desenvolvimento. A redação do Decálogo, como apresentada nesta liturgia, é bem posterior ao evento da entrega da Torá no monte Sinai, durante a jornada do povo pelo deserto. O texto final do Deuteronômio que ouvimos neste domingo se divide em três grandes seções, compostas pelos discursos de Moisés. A primeira leitura de hoje está na parte inicial do livro, referindo-se ao mandamento sobre o dia consagrado ao Senhor, o sábado. Deus se dirige à assembleia reunida, declarando que o sábado deve ser guardado para a santificação da comunidade dos fiéis.

Como o sábado é dedicado ao Senhor, não deve ser um dia comum de trabalho. A sua observância é crucial para preservar a identidade do povo escolhido. O repouso sabático tinha uma função religiosa e espiritual, pois era o dia em que o povo se reunia para louvar a Deus. Além disso, tinha uma função social, promovendo a justiça e garantindo o direito ao descanso para todas as categorias sociais, incluindo escravos e estrangeiros.

O fundamento teológico da observância do sábado está ligado ao evento da libertação do Egito. Todo o livro do Deuteronômio enfatiza a memória histórica da escravidão de Israel no Egito, destacando a libertação como a grande intervenção divina que transformou radicalmente a vida do povo. Deus transformou um grupo de escravos em um povo livre para servi-lo. Assim, o preceito do sábado simboliza os deveres do povo para com Deus, o libertador de Israel.

2ª leitura (2Cor 4,6-11)

O ponto central da segunda leitura é a descrição autobiográfica do apóstolo Paulo. Seus oponentes viam suas provações e tribulações como inconsistências com sua reivindicação de ser apóstolo. Para eles, essa fraqueza não poderia transmitir o poder salvador de Deus. Em resposta, Paulo afirma que o sofrimento é uma parte essencial do verdadeiro apostolado e da vida cristã. Seus sofrimentos refletem os de Jesus Cristo e permitem-lhe mostrar a verdadeira humanidade que Jesus encarnou.

A imagem simbólica do tesouro do ministério em vasos de barro destaca o contraste entre os perigos da morte física e a riqueza do Evangelho pregado. Para Paulo, a vida e a morte de Cristo estão presentes em várias situações da existência, inclusive nas tribulações. Isso é especialmente importante porque o discurso do apóstolo ocorre no contexto da defesa de seu ministério contra aqueles que tentam desacreditá-lo perante a comunidade. No entanto, ele reforça que não prega a si mesmo, mas a glória de Deus, que se reflete no rosto de Cristo. Sua mensagem visa mostrar que Cristo está vivo e presente em seu ministério, mesmo nas fragilidades que encontra em sua missão de proclamar o Evangelho.

Evangelho (Mc 2,23-3,6)

O texto do Evangelho segundo Marcos proposto para a liturgia deste domingo inclui dois episódios. O primeiro episódio narra os discípulos colhendo espigas de trigo no sábado, enquanto o segundo descreve um confronto com os fariseus quando Jesus cura uma pessoa na sinagoga também em dia de sábado. Marcos nos convida a entender o ensinamento de Jesus sobre a interpretação correta do sábado judaico: o sábado foi instituído para o bem do ser humano, para promover a vida, a liberdade e a justiça.

Os fariseus viam os discípulos como violadores da lei do sábado, pois colher grãos para saciar a fome era considerado trabalho, o que era proibido no sábado. Segundo os fariseus, isso significava que os discípulos estavam desobedecendo ao preceito e pecando. No entanto, essa interpretação da Lei mosaica era equivocada. Jesus, então, redefine o verdadeiro significado da observância do sábado, associando-o ao serviço da vida.

Quanto à controvérsia sobre a autoridade de Jesus para perdoar pecados e realizar curas no sábado, os dois exemplos deixam claro que a observância desse preceito deve ser guiada pela prática do bem e pelo atendimento às necessidades humanas básicas, como saciar a fome e curar enfermidades. É importante notar que Jesus não diminui a importância do sábado como um dia consagrado ao Senhor, mas redireciona seu propósito e finalidade. Ele ensina seus discípulos a abordarem com liberdade as diversas interpretações da Lei mosaica ao longo da história do povo escolhido.

Pistas para a reflexão

As três leituras nos ajudam a entender o que significa a observância do dia de sábado e por que Jesus diz que esse dia consagrado foi feito para o ser humano, e não o contrário. Observar o sábado não consiste apenas em obedecer rigidamente às leis e permanecer na quietude e na dedicação à meditação da Palavra, mas também em fazer o bem aos outros e buscar sempre viver no amor de Deus.

Essa compreensão nos lembra que é preciso reservar tempo para estar com Deus. Apenas ir à igreja no domingo, celebrar a santa missa no dia do Senhor, não é suficiente. Além de nos encontrarmos com Deus, de sermos alimentados pela sua Palavra e pela Eucaristia, é necessário dedicar tempo para as obras de caridade. Dessa forma, chegamos a conhecer o amor de Deus mais completamente e a viver como Jesus fez, seguindo seu caminho em direção ao Pai.

 

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