22 Fevereiro 2019
"Jesus aconselha a comunidade a não julgar, não condenar e perdoar sem limites. Ele acentua que a vontade e o desejo de Deus é que a comunidade viva relações de igualdade. O Sermão da Planície ou Sermão da Montanha, desde o seu começo, leva os ouvintes a fazer uma escolha, uma opção, a favor dos pobres e excluídos. Em atitude discipular, perguntemo-nos: Nós contemplamos e respeitamos as pessoas com a mesma atitude de Jesus? Cantar o salmo da liturgia de hoje, o Senhor é bondoso e compassivo, requer atitudes bem concretas: viver e testemunhar a misericórdia. Realizar a vontade de Deus em nossas palavras e ações. Sigamos com alegria, esperança e fé, tornando nossas comunidades lugares de encontro, convivência fraterna, comunhão e reconciliação. “Amai-vos mutuamente com amor fraternal. Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram” (Rm 12,10-15).
A reflexão é de Maria Aparecida Barboza, religiosa da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria e conselheira geral da Animação Missionária. Ela é mestra em Teologia Bíblica e pós-graduada em Pedagogia Catequética, professora de Sagrada Escritura nos cursos de Pós-Graduação em Pedagogia Catequética na PUC-Goiás e na Faculdade Católica de Santa Cantarina (Facasc) e membro do Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética da CNBB (Grebicat) e da Comissão arquidiocesana de Iniciação à Vida Cristã da Arquidiocese de Porto Alegre. Também colabora nas assessorias sobre Animação Bíblica da Pastoral e Iniciação à Vida Cristã, em diversas Dioceses.
1ª Leitura: Sm 26, 2.7-9. 12-13.22-23
Salmo 102 (103)
2ª Leitura: 1º Cor 15, 45-49
Evangelho: Lc 6, 27-38
“Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36)
A liturgia deste 7º Domingo do Tempo Comum pode ser considerada como um grande paradigma para a fé cristã. A comunidade que se alimenta das duas mesas, Mesa da Palavra e Mesa da Eucaristia, não pode ficar indiferente com a realidade que o cerca. No Cristo Palavra e no Cristo Pão partilhado, somos novas criaturas.
Jesus nos propõe um caminho pedagógico e mistagógico de um aprendizado diário. No exercício do amar e ser amado o cristão é desafiado a crescer nas relações humanas e humanizadoras.
As três leituras, juntamente com o Salmo, nos mostram que não vivemos isolados. Somos e fazemos parte da grande teia da vida. Nesta rede de convivência é que se constroem as relações. O Evangelho nos convida a responder aos desafios propostos pelos encontros e desencontros: fazer o bem ou mal. O Papa Francisco nos alerta para crescer tecendo a rede do bem, a rede da solidariedade, da partilha, da justiça e da paz. Ser misericordioso é testemunhar a bondade e a compaixão. Por isso, a Igreja vai adiante para testemunhar que a bondade Deus nos liberta da escravidão da morte. O testemunho é o que atrai e faz a Igreja crescer.
A primeira leitura (Sm 26, 2.7-9. 12-13.22-23) nos mostra que a justiça e lealdade são características do próprio Deus, das quais os cristãos são convidados a testemunhar. No mundo da crescente intolerância, violência e guerra, a construção da cultura, do diálogo e da paz se faz necessária.
Davi recusa-se a eliminar o seu adversário. Absai disse a Davi: Deus, entrego hoje em tuas mãos o teu inimigo. E Davi respondeu: “Não o mates! Pois quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune?”. O primeiro mandamento da Lei de Deus, não matar. A vida criada por Deus precisa ser preservada.
Ao abandonar a lança, que representa instrumento de guerra, Davi deixou o exemplo de perdoar os inimigos, os adversários. Deus espera do ser humano atitude de vida e não violência. Davi, tendo a possibilidade de fazer o mal, faz a escolha de fazer o bem. A pergunta que nos cala: O que pode ser feito quando se tem o poder nas mãos? Qual a finalidade do poder?
Na segunda leitura (1ª Cor 15, 45-49) apóstolo Paulo dirige-se à comunidade de Corinto com uma bela catequese sobre a ressurreição de Cristo. Em Cristo, o Crucificado-ressuscitado, somos novas criaturas. Para concretizar sua catequese, Paulo estabelece uma relação entre Adão e Cristo Jesus: o primeiro homem, Adão foi ser vivo. O Segundo Adão é um espírito vivificante.
Quando Paulo fala em alma vivente, não pensa em termos da filosofia platônica, dualista, mas sim no termo correspondente do Antigo Testamento que utiliza a expressão néfesh. Néfesh é alma, sopro de vida. A força da vida é dada ao ser humano pelo Deus da vida. No livro do Gênesis diz: quando Deus criou o ser humano, ele soprou nas narinas e o ser humano tornou-se um ser vivente.
Em Cristo, o novo Adão, a humanidade ganha um novo sopro de vida. O Pneuma, o Espírito. Este Espírito que é liberdade e vida e abre a perspectiva do futuro. Cristo, o segundo Adão, é Espírito vivificante, que dá vida! Receber este espírito é estar sob a graça e o amor de Cristo (cf. Rm 5.2).
O Evangelho de hoje (Lc 6, 27-38) está emoldurado na 2ª parte Sermão da Planície. Na primeira parte (Lc 6,20-26), Jesus se dirigia aos discípulos (Lc 6,20). Na segunda parte (Lc 6,27-49), ele se dirige “a vocês que me escutam”, isto é, a comunidade cristã, formada por uma imensa multidão de pobres e doentes, vinda de todas as regiões (Lc 6,17-19). E a esta comunidade Jesus propõe:
a) Amar os inimigos (Lc 6, 27-30): O evangelista acentua que o seguimento de Jesus se traduz em atitudes concretas. As palavras que Jesus dirige aos discípulos e ao povo são exigentes e complexas: amar os inimigos, fazer o bem aos que vos odeiam e bendizer os que vos amaldiçoam. Jesus propõe uma nova cultura no jeito de ser e agir da comunidade. Viver como Jesus viveu requer maturidade na fé, audácia e sensatez no agir. Jesus indica ações que envolvem a construção de novas relações. Estas novas relações fazem a diferença no mundo e caracterizam os discípulos do Mestre. A comunidade discípula missionária de Jesus precisa aprender com o Mestre o modo de comportar-se no mundo. O encontro com Jesus Cristo muda a vida e dá sentido ao ser e agir de quem é cristão. O Evangelho passa a ser o critério decisivo para o discernimento, para a vivência da ética do relacionamento.
b) Na prática, imitar Jesus (Lc 6, 31-36): Duas frases caracterizam o agir cristão segundo as exigências de Jesus: "Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles” (Lc 6,31). E: "Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso" (Lc 6,36). Nestas duas frases percebemos que Jesus propõe uma mudança no modo de ser e agir do cristão. Ele estabelece uma nova relação, uma relação fundamentada na fraternidade que é uma característica marcante do Cristianismo.
c) Viver a Misericórdia e a gratuidade (Lc 6, 37-38): “Não julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado” (Lc 6,37). Jesus aconselha a comunidade a não julgar, não condenar e perdoar sem limites. Ele acentua que a vontade e o desejo de Deus é que a comunidade viva relações de igualdade. O Sermão da Planície ou Sermão da Montanha, desde o seu começo, leva os ouvintes a fazer uma escolha, uma opção, a favor dos pobres e excluídos. Em atitude discipular, perguntemo-nos: Nós contemplamos e respeitamos as pessoas com a mesma atitude de Jesus? Cantar o salmo da liturgia de hoje, o Senhor é bondoso e compassivo, requer atitudes bem concretas: viver e testemunhar a misericórdia. Realizar a vontade de Deus em nossas palavras e ações. Sigamos com alegria, esperança e fé, tornando nossas comunidades lugares de encontro, convivência fraterna, comunhão e reconciliação.
“Amai-vos mutuamente com amor fraternal. Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram” (Rm 12,10-15).
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7º domingo do tempo comum - Ano C - Viver a misericórdia e a gratuidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU