22 Dezembro 2011
Ele prestou juramento, depois fez com que os tanques se enfileirassem pelas ruas de Kinshasa. Joseph Kabila (foto), 40 anos, filho do ex-presidente Laurent, o homem que pôs fim à opressão de Mobutu Sese Seko, joga na frente: toma novamente as rédeas do poder e se autoproclama oficialmente presidente da República Democrática do Congo, no segundo mandato.
A reportagem é de Daniele Mastrogiacomo, publicada no jornal La Repubblica, 21-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Só o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, estava presente na cerimônia desta terça-feira. A outra dezena de países africanos optou por enviar seus primeiros-ministros. Um distanciamento significativo. A sua eleição é contestada pelo líder da oposição e principal adversário, Etienne Tshisekedi (foto), 78 anos, por sua vez autoproclamado chefe do imenso e riquíssimo Estado africano. Ele também, anunciou, prestará juramento como presidente na próxima sexta-feira, em uma cerimônia no Estádio dos Mártires, para onde convocou uma multidão oceânica.
O ex-Congo Belga corre o risco de viver uma situação semelhante à da Costa do Marfim. Com dois líderes políticos que se proclamam vencedores das eleições de 28 de novembro passado e com ambos os contendentes que vão direto ao ponto, correndo o risco de desencadear uma guerra civil. Com uma diferença: na Costa do Marfim, a vitória declarada de Laurent Gbgabo se chocava contra a realidade dos votos que atribuíam a maioria dos consensos ao seu rival Alassane Ouattara.
Na República Democrática do Congo, fala-se abertamente de fraude, e a vitória atribuída a Joseph Kabila pela contagem dos votos é posta em discussão pelos observadores pela Fundação Carter e pelo próprio cardeal Laurent Monsengwo, o mais alto representante da Igreja em um país profundamente católico.
Para fornecer consultas livres, o alto prelado tinha posto em ação a maior rede de observatórios já vista na África: mais de 30 mil voluntários e sacerdotes haviam se espalhado pelo país, até nas regiões mais remotas, e haviam controlado a regularidade da apuração dos votos. As fraudes tinham logo aparecido como evidentes. Denunciava-se a presença de cédulas já preenchidas, atrasos na abertura das seções, intimidações e pressões sobre os eleitores.
Os resultados tiveram quatro dias de atraso. A Comissão Eleitoral Independente falava de dificuldades logísticas e de transporte das cédulas contadas. Depois de uma contagem longa e tensa, Joseph Kabila saiu vencedor com 48,95% dos votos. Etienne Tshisekedi tinha parado nos 32,33%. Os dados foram contestados pela oposição, com manifestações no país e em muitas cidades do mundo. Da comunidade internacional, por enquanto, poucas reações. Os EUA, no entanto, manifestaram "profunda decepção" pela decisão da Suprema Corte que aprovou o resultado eleitoral.
Enquanto isso, o posicionamento do cardeal Monsengwo deu força para os protestos de Tshisekedi. Mas os interesses que ligam Kabila às grandes multinacionais tornam a situação particularmente difícil. O ex-Congo é uma mina de matérias-primas: todos precisam do seu tesouro que se esconde debaixo da terra, e ninguém quer renunciar.
Kabila, tendo saído de um primeiro mandato, representa continuidade e garantias para os contratos de extração dos minerais. Para Tshisekedi, é a última chance de governar um país que ele sempre viu na oposição: atrás das grades e no exílio.
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Dois presidentes para o Congo: o pesadelo da guerra civil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU