21 Dezembro 2011
Em seu livro The Emerging Catholic Church (Ed. Orbis), Tom Roberts (foto) relatou e observou a "busca por si mesma" da comunidade católica. No trecho que segue, retirado do livro, ele se afasta do relato para oferecer uma avaliação inicial.
Roberts é editor do jornal católico norte-americano National Catholic Reporter há 17 anos, tendo sido anteriormente editor do jornal Religious News Service. O trecho foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 16-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A nota positiva é fácil de acertar: remova a Igreja Católica e o trabalho do seu povo do nosso meio, e a vida deste país seria dramaticamente diferente e muito pior do que é. Escolha uma cidade e comece removendo os ministérios e o trabalho das paróquias católicas e dos católicos independentes agindo a partir da sua compreensão do Evangelho e do ensino social da Igreja. Leve embora, por exemplo, o centro iniciado décadas atrás por um casal de irmãs que cuida dos filhos de mães pobres, que trabalham, geralmente solteiras. Elimine a agência nessa mesma cidade que trabalha contra as grandes probabilidades de que um número crescente de homens e de mulheres sejam libertados da prisão sem nada mais do que as roupas que vestem. Há irmãs que estão transformando blocos inteiros de pragas urbanas cuidando dos marginalizados, formando pessoas para os seus trabalhos, reabilitando casas e dirigindo centros residenciais de reabilitação das drogas.
Padres, irmãs e líderes leigos advogam, das fronteiras do Texas e do Arizona ao centro de detenção de imigrantes em Newark, em favor dos refugiados que buscam um novo lar e novas vidas. Em algumas das circunstâncias mais desesperadoras deste país, uma "nova evangelização", inteiramente nova, segue em frente, não com palavras e dogma, mas com o poder da presença e do amor transformador.
Crianças estão sendo resgatadas de ambientes inimagináveis e são ensinadas a reimaginar seus futuros; arte e da literatura, agricultura urbana e novas formas de comunidade começam a fazer parte da história da Ressurreição em cidades do interior infernais.
Escolha qualquer cidade e comece eliminando as cozinhas de sopa e os bancos de roupas e de alimentos, as organizações de caridade católicas que ajudam as pessoas com tudo, desde a habitação ao aconselhamento.
Dentre todos os programas que visam a tentar preencher as lacunas entre as facções da comunidade católica, talvez nenhum encontre uma maior difusão de afinidades do que o JustFaith, o movimento iniciado por Jack Jezreel. Esse não é um programa barato de distribuição de graças. Os participantes se comprometem a meses de encontros com um pequeno grupo, um grande volume de leituras na área da justiça social, e uma determinação de enfrentar alguns dos problemas mais preocupantes do mundo a partir de uma perspectiva cristã e católica. O "curso" inclui visitas a partes raramente vistas das comunidades locais, aquelas partes em que os falidos e marginalizados moram e recebem apoio.
Dezenas de milhares de católicos em todo o país têm se debatido ao longo dos meses com as complexidades de determinar o que é justo e o que pode trazer a paz para situações que vão da cena vista do lado de fora das suas portas aos megaproblemas da guerra, da pobreza, dos refugiados e da degradação ambiental global. Muitos têm se encontrado mudados para sempre nesse processo, conscientes de coisas que eles não haviam ponderado antes, a partir de um ponto de vista ancorado profundamente nos Evangelhos cristãos e, no fim, empoderados a agir como jamais poderiam imaginar.
Multiplique estas poucas observações por centenas e centenas de vezes em todo o país. Remova toda aquela atividade ser humano a ser humano e a oração sobre a qual ela está construída e que a acompanha. A vida de muitos se tornaria extremamente sombria e sem esperança.
A presença católica na cultura é significativa. Da paróquia ao Palácio do Estado, do Congresso à Suprema Corte, da academia a Wall Street, provavelmente nunca houve um momento na história do nosso país em que a vida católica se projetou tão robustamente na vida norte-americana.
E, mesmo assim, a sensação de que nem tudo está bem é generalizada. Há um sentimento inquieto sobre o que significa ser católico e o que ser católico significa no domínio público. Políticos católicos estão em desacordo com os seus bispos acerca de questões de política pública, particularmente no que se refere a estratégias políticas envolvendo o aborto. Membros da hierarquia estão em desacordo uns com os outros, com as instituições católicas e com os religiosos consagrados. Ter líderes empresariais católicos não garante um tipo diferente de mercado. Católicos aos milhares estão envolvidos em guerras que sucessivos papas condenaram. E, a cada nova revelação de abuso sexual de padres contra crianças e de acobertamento oficial, mais credibilidade escorre do nível hierárquico.
As divisões dentro da comunidade católica se expressam em formas mais extremas na blogosfera, que abriu um enorme espaço para opiniões e boatarias irresponsáveis, não documentadas, irracionais e irresponsáveis. Os ataques podem ser cruéis e implacáveis, particularmente a partir daqueles elementos que John Allen chamou de "católicos talibãs", autonomeados guardiães de medidas de ortodoxia autoforjadas. A Grande Tenda da Igreja Católica se estica hoje para conter tudo isso.
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Os limites da ''grande tenda'' da Igreja Católica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU