12 Dezembro 2011
Em 2011, vagas bem- remuneradas foram criadas somente para quem concluiu ou está cursando a faculdade.
A reportagem é de Fabiane Ziolla Menezes e publicada pela Gazeta do Povo, 12-12-2011.
Com a exceção de alguns poucos setores da economia, a única maneira de ser contratado recebendo mais de dois salários mínimos no Brasil é investir na educação desde cedo e ir além do ensino médio completo. Um recorte das informações do Caged mostra que só a partir do ensino superior, mesmo quando incompleto, é que vagas com ganhos maiores são efetivamente criadas no país. Tal comportamento pode ser explicado, em grande parte, por duas consequências do crescimento estável do Brasil nos últimos anos: a substituição das funções de média complexidade por máquinas, softwares e outros instrumentos tecnológicos; e a emergente classe C, que aumentou a demanda por serviços pouco qualificados.
Segundo o professor de Economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Naércio Menezes Filho, é consenso em alguns países da Europa e mesmo nos Estados Unidos que as máquinas em geral ainda não são capazes de substituir funções de pouquíssima qualificação, como os serviços de limpeza, e nem as de muita qualificação. "Há uma polarização de demanda, por gente muito ou pouco qualificada, e uma grande oferta de trabalhadores no meio termo que não a acompanha. O número de pessoas com o ensino médio completo dobrou nos últimos 20 anos no país, mas essas pessoas acabam encontrando oportunidade em funções de menor qualificação", observa.
O fenômeno descrito por Menezes Filho afeta até quem tem faculdade no currículo. Das 239 mil vagas preenchidas neste ano por profissionais com ensino superior, 114 mil – quase metade – pagam salário inicial inferior a dois salários mínimos.
Nova classe
Parte da culpa nesse cenário é do próprio ciclo atual de crescimento brasileiro, baseado no fomento do mercado interno e que gerou uma nova classe média. Há mais famílias demandando serviços de baixa qualificação. "A construção civil sempre foi a primeira grande contratante do Brasil a cada novo ciclo de aquecimento econômico", lembra o professor de Organizações e Desenvolvimento do Centro Universitário FAE Antoninho Caron. "Ainda assim, em uma realidade de economias cada vez mais interdependentes, a demanda crescente tem sido, no geral, por profissionais capazes de analisar e transformar o grande volume de informações em oportunidades efetivas de negócio. E isso não é só para cargos de alto nível de gerência." Tal capacidade é dificilmente desenvolvida no meio acadêmico – que está, segundo Caron, em grande descompasso com o mercado de trabalho.
Para remediar parte desse quadro, o professor diz que as empresas brasileiras têm de adotar uma postura mais proativa. "O grande receio das organizações no treinamento de seus próprios funcionários e líderes é a rotatividade, a possibilidade de investir em um funcionário que deixará a empresa pela próxima melhor oportunidade. A verdade, porém, é que esse é um risco a correr. O setor de ensino simplesmente não consegue acompanhar o ritmo do mercado atual."
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Ir além do ensino médio é única maneira de aumentar o salário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU