O
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) quer deixar claro a todos os envolvidos: está fora do negócio com o
Carrefour se não houver acordo entre os sócios
Pão de Açúcar e
Casino. É uma estratégia de saída do
BNDES, que vem sendo duramente criticado por ter se comprometido a analisar um aporte de até R$ 4,5 bilhões na fusão entre a rede do empresário
Abílio Diniz e os ativos do
Carrefour no Brasil.
A reportagem é de
Raquel Landim,
Patrícia Cançado e
Alexandre Rodrigues e publicada pelo jornal
O Estado de S.Paulo, 02-07-2011.
O banco divulgou duas notas seguidas à imprensa, na quinta-feira e ontem, informando que "o apoio ao projeto se baseia na premissa do entendimento amigável entre os atores privados". Uma fonte do banco confirmou que, se a premissa não for atendida, a operação não terá prosseguimento. Segundo essa fonte, desde o início, o banco já impunha a condição de uma "oferta não hostil" e um "entendimento entre os sócios".
Os dois lados envolvidos na disputa estão fazendo pressão no banco. Ontem, em São Paulo, o presidente do BNDES,
Luciano Coutinho, reuniu-se com
Diniz, que preside o conselho de administração do
Pão de Açúcar. Na segunda-feira, será a vez de
Coutinho receber o presidente do Casino,
Jean-Charles Naouri, que vem de Paris especialmente para o encontro.
Coutinho vai ouvir os argumentos dos executivos e expor a posição do banco, mas não atuará como facilitador do acordo.
Diniz pediu a reunião de ontem porque ficou preocupado com o recuo do
BNDES expresso na nota divulgada na quinta-feira. O empresário está assustado com a repercussão negativa do caso e publicou anteontem em seu Twitter. "Estou sendo muito criticado, mas acredito que a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour será boa para o País e para os brasileiros".
Ao aceitar avaliar a fusão entre o
Pão de Açúcar e os ativos do
Carrefour no Brasil, o BNDES foi envolvido em uma disputa societária. Pelos contratos em vigor, o
Casino tem o direito de assumir o controle do
Pão de Açúcar em 2012 por conta de um negócio fechado por
Diniz em 2005. A operação com o
Carrefour, no entanto, dilui a participação do grupo francês.
O
BNDES mantém sua posição de que o negócio pode ser lucrativo para a BNDESPar, braço do banco de participação em empresas, que atua apenas com recursos captados no mercado. Também acredita que a operação vai ajudar a evitar a "desnacionalização" do varejo no País. Mas não está disposto a arbitrar uma briga entre sócios.
O banco estatal também tem sido pressionado pelo governo federal a deixar mais claro que condiciona sua participação na fusão a um acordo entre os acionistas. Conforme uma fonte, a própria presidente
Dilma Rousseff manifestou preocupação com o fato de que a repercussão negativa da operação ter exposto o BNDES à desconfiança de estaria ajudando
Diniz a vencer o
Casino na disputa pelo controle da maior varejista do País.
Os termos de análise do negócio no banco abrem uma porta de saída para o BNDES. Pelo documento de "enquadramento" da operação, feito a pedido do
BTG Pactual (um dos sócios), o aval da direção do banco só acontecerá depois de um acordo definitivo entre os acionistas. "Se houver litígio, a aprovação só sai depois de tudo superado, inclusive uma eventual disputa na Justiça. Se a Justiça der razão
ao Diniz e isso for incontestável, então o BNDES poderá aprovar", explica uma fonte.
Venezuela
Os diretores do BNDES ficaram preocupados após uma reunião que executivos do
Casino tiveram com técnicos do banco na quarta-feira. Segundo uma fonte que participou do encontro, os franceses explicaram que
Diniz não cumpriu suas obrigações contratuais de informar o sócio sobre as negociações com o
Carrefour. Os executivos disseram ainda que o Brasil pode sair do episódio com a imagem de um país que não respeita contratos, como a Venezuela ou a Rússia.
Ainda conforme essa fonte, os diretores do banco demonstraram surpresa na reunião, porque o
Pão de Açúcar teria dito que a operação era praticamente consenso. O Estado apurou com executivos do BNDES que
Diniz estimulou o otimismo do banco de que conseguiria um acordo, inclusive costurando compensações que o
Carrefour ofereceria ao
Casino. E que a entrada do BNDES (leia-se o governo) no negócio seria uma forma de influenciar o
Casino.
Só que até agora não funcionou. O
Casino teve uma reação enfurecida ao perceber que sua participação estava sendo diluída. A empresa publicou um comunicado raivoso na imprensa acusando
Abílio Diniz de agir ilegalmente e se "armou" para a briga, com a compra de ações preferenciais do
Pão de Açúcar no mercado e até levantando dinheiro na Colômbia para eventualmente adquirir a parte de
Diniz no negócio.
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Sob pressão, BNDES ameaça desistir da fusão Carrefour-Pão de Açúcar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU