Por: André | 18 Dezembro 2012
Belém se prepara para um Natal mais pobre que os anteriores, com o aumento dos cancelamentos turísticos devido à guerra em Gaza e à diminuição das vendas provocadas pelo anúncio israelense de que não transferirá nos próximos quatro meses os impostos palestinos que coleta.
A reportagem está publicada no sítio Valores Religiosos, 16-12-2012. A tradução é do Cepat.
A praça do Natal já está preparada para a sua maior festa anual: com guirlandas de luzes, um enorme pinheiro instalado no centro da praça, cujos enfeites serão ligados nos próximos dias, e uma representação de Belém (inclusive com mula e boi, apesar das últimas declarações do Papa) no adjacente Centro de Belém para a Paz.
Os belemitas, no entanto, não esperam este ano muito daquela que é sua grande estação turística. “O rechaço israelense de pagar o dinheiro dos impostos, de transferir aos palestinos dinheiro palestino, é um problema muito importante, porque muitas pessoas comuns e muitos funcionários não poderão fazer compras de Natal”, explica George Rishmawi, especialista em turismo alternativo em Belém.
De acordo com seus dados, “as vendas diminuíram cerca de 50% comparado com outros anos” porque “as pessoas estão numa situação difícil” e muitos funcionários sabem que é possível que não recebam seus salários durante meses. “Não sabemos a quantas casas o Papai Noel poderá ir este ano, nem quantas pessoas poderão comprar roupa nova e fazer compras neste Natal”, disse Rishmawi.
Um pouco mais otimista está o presidente da Câmara de Comércio de Belém, Samir Hazbun, que reconhece que a situação é pior que em outros anos, mas acredita que, “como sempre, Israel irá fazer a transferência do dinheiro” já que “não é um presente de Israel para o povo palestino”, mas propriedade dos palestinos. Além disso, garante, as famílias de Belém “têm uma tradição e uma responsabilidade social”, razão pela qual irão às compras e celebrarão estas festas “embora depois estejam com as contas no vermelho”.
Hazbun admite, contudo, que o setor hoteleiro foi duramente afetado nos meses de novembro e dezembro “pelo cancelamento de cerca de 20% a 25% das reservas hoteleiras por causa da guerra de Gaza”, que se prolongou durante oito dias e durante a qual as milícias palestinas lançaram foguetes que chegaram a alcançar as proximidades de Jerusalém e Tel Aviv.
A crise financeira da Autoridade Nacional Palestina (ANP), que se arrasta já há mais de um ano pela falta de transferência de fundos comprometidos por vários países, em sua maioria árabes, já teve seu efeito no Natal belemita, que esse ano terá um pouco menos de brilho.
O vice-prefeito de Belém, Isam Juha, assinalou no sábado que os 50.000 dólares que Ramala entrega a Belém em dezembro para os enfeites e a iluminação de Natal foram reduzidos neste 2012 a 25.000. Menos luzes e menos enfeites. Para Rishmawi, o motivo último é a ocupação da Palestina. “Responsabilizo a ocupação israelense pelo Natal menos bom em Belém. Cada ano temos um Natal pior e este ano será o pior de todos”, assegura.
Além disso, a instabilidade provocada pelo conflito em Gaza e a retenção de impostos palestinos, este especialista em turismo atribui ao muro de separação israelense, que atravessa parte de Belém, o baixo número de turistas que a cidade, em que a tradição cristã situa o nascimento de Jesus, recebe – cerca de dois milhões ao ano, que este ano caíram para um milhão e meio.
“Muitos turistas ficam retraídos com o muro, têm medo de cruzá-lo, inclusive pela propaganda negativa sobre os palestinos que diz que são perigosos”, lamenta-se, antes de garantir que “Belém é um lugar muito seguro e é muito significativo visitá-la no Natal”. Apesar das previsões negativas, a porta-voz do governo da ANP, Nur Odeh, ressalta que “o Natal é uma época de esperança, de poder ter sonhos e expectativas, de poder olhar para frente”.
Para ela, esta ocasião é muito especial para a Palestina, já que é a primeira vez que se celebra o Natal após a recente mudança de status na ONU para o de Estado observador não membro. “Embora permaneçamos sob ocupação, o mundo está apoiando os direitos do povo palestino e por isso há um senso de esperança especial este ano”, afirmou.
Admite que a retenção de fundos por Israel, que qualifica de “ataques aos direitos econômicos palestinos”, terá “um efeito negativo muito forte” e dificultará o Natal de muitas famílias, já que mais de 150.000 pessoas dependem dos salários da ANP, e os impostos coletados por Israel representam mais da metade do seu orçamento. Não obstante, opina sorridente que “quatro meses de castigo por defender seus direitos, por ter o mundo ao seu lado, será doloroso, mas não é um preço muito alto”.
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Belém se prepara para Natal marcado pela pobreza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU