FSM Palestina Livre: ”Um bom primeiro passo rumo a medidas mais concretas”

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

12 Dezembro 2012

Aconteceu entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro o Fórum Social Mundial Palestina Livre FSM-PL, evento que reuniu ativistas, líderes comunitários, jovens, grupos religiosos, sindicatos, músicos, acadêmicos na cidade de Porto Alegre – RS. Entre os participantes, estavam Eduardo Minossi de Oliveira e Érico Teixeira de Loyola, que falaram à IHU On-Line sobre o evento.

Eduardo Minossi de Oliveira é graduado em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Érico Teixeira de Loyola é graduado em Direito pela mesma Universidade. Ambos estiveram presentes na Palestina como observadores de direitos humanos através do Programa de Acompanhamento Ecumênico na Palestina e Israel – PAEPI/EAPPI, coordenado pelo Conselho Mundial de Igrejas – CMI e concederam entrevista à edição da IHU On-Line sobre o tema.

Eis a entrevista.

IHU On-Line – Como foi o FSM Palestina Livre?

Eduardo Minossi de Oliveira – O Fórum Palestina Livre foi um ótimo encontro de ativistas (a maioria era latino-americana e brasileira), que lutam pela causa palestina e pela paz justa com Israel. O Fórum foi organizado por movimentos sociais nacionais e, embora tenha sofrido uma grande pressão das organizações sionistas, manteve-se de pé no seu propósito.

Érico Teixeira de Loyola - O FSM Palestina Livre, apesar de todas as dificuldades impostas à sua organização, foi muito bom. As plenárias oficiais foram muito bem avaliadas e, além disso, as atividades autogestionadas, dentre elas aquelas geridas pelo Programa de Acompanhamento Ecumênico na Palestina e em Israel (PAEPI/EAPPI), atingiram o seu objeto de expressar o seu desejo por uma paz justa na região, com o fim da ocupação militar e o respeito pelo Direito Internacional. Acho que é importante também ressaltar o alcance do evento, que permitiu que pessoas do mundo todo desfrutassem de um espaço onde pudessem compartilhar as suas experiências e suas opiniões a respeito do conflito Israel/Palestina.

IHU On-Line – Que assunto tu destacas como o mais relevante do evento?

Eduardo Minossi de Oliveira – Infelizmente, como cada entidade teve sua atividade autogestionada proposta, tivemos pouco intercâmbio com outros movimentos, mas destaco a coincidência da Palestina ter sido aprovada como estado observador na ONU durante os dias do fórum. Foi muito debatido as possibilidades futuras perante essa situação e se isso foi uma vitória ou não na diplomacia internacional, o que eu acredito tenha sido.

IHU On-Line – A partir das discussões do Fórum, que sugestões práticas surgiram?

Eduardo Minossi de Oliveira – De prático, o importante foi qualificar essa rede de solidariedade e incidência pública pelo fim da ocupação israelense na Palestina e pela paz. Foi importante conhecer mais pessoas engajadas a buscar apoios importantes mundo afora para que a Palestina possa ser aceita nos organismos internacionais ou juntar esforços de ativistas que pleiteiam os mesmos pontos.

Érico Teixeira de Loyola - Acho que, das diversas sugestões práticas que surgiram, destacaria aquelas que envolvem dar maior realce à iniciativa BDS – Boicote, Desinvestimentos e Sanções, que atacaria a ocupação militar na parte que lhe é mais importante: o “bolso”. Acredito que seja um projeto interessante, ainda mais porque visa a compelir Israel, de forma pacífica, a agir de acordo com o Direito Internacional, em especial com as Resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral da ONU que tratam da ilegalidade da ocupação e da expansão das colônias, bem assim com relação às decisões da Corte Internacional de Justiça sobre o tema.

Embora seja necessário avaliar de que maneira tal iniciativa poderia ser implementada, acho que a questão já está posta e é de suma importância, ainda mais quando sabemos que o Mercosul tem um acordo de livre comércio com Israel, e estão previstas diversas parcerias entre brasileiros e israelenses na área de segurança, com vista especialmente à Copa do Mundo.

IHU On-Line – Faça uma avaliação geral do Fórum Social Mundial Palestina Livre.

Eduardo Minossi de Oliveira – Acredito que o Fórum tenha sido menor do que deveria. O caráter mundial ficou muito mais para brasileiro e latino-americano, pois as organizações organizadoras (CUT, sindicatos…) não têm o caráter internacionalista que precisaria. É difícil também pleitear um evento dessa magnitude fora da Europa, onde está mais forte a questão da ilegalidade das ações israelenses, o que junto com o lobby sionista, que dificultou o contato e a organização do fórum, acabou por prejudicar a organização em diversos fatores (como a não chegada do apoio prometido pela prefeitura). Porém, acredito que seu objetivo tenha sido cumprido, debater a questão palestina para o grande público e juntar pessoas com o interesse comum pela paz justa.

Érico Teixeira de Loyola - O FSM foi, sobretudo, uma excelente oportunidade para familiarizar os brasileiros com a questão do Estado Palestino. Acho que, pelo seu alcance, o evento ajudou a trazer essa questão para mais perto das pessoas, chamando a atenção para aspectos que nos são um tanto quanto obscuros, como os temas relativos à ocupação militar israelense, à expansão das colônias na Cisjordânia, ao regime de segregação estabelecido na região e à dura realidade humanitária enfrentada por milhões de palestinos. Claro, há muito ainda a ser feito, mas é inegável que foi um bom primeiro passo rumo a medidas mais concretas.

Além disso, embora se soubesse que o Fórum estava programado para transcorrer durante o Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino (29/11), acho que ninguém poderia imaginar que também naquela semana a ONU daria à Palestina o status de Estado Observador, com as fronteiras de 1967. De alguma forma, portanto, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pela organização do evento, acredito que o Fórum teve um valor simbólico muito contundente.

Por Natália Scholz