22 Novembro 2012
Em meio ao novo conflito entre Israel e Palestina, o Fórum Mundial Palestina Livre, que será realizado em Porto Alegre na próxima semana, ganha mais importância para os ativistas da pacificação e autodeterminação do povo palestino. O evento está marcado para a quinta-feira (29), Dia em Solidariedade ao Povo Palestino no Rio Grande do Sul, e seguirá até o dia 1º de dezembro. No entanto, o Fórum acaba de sofrer mais uma dificuldade em sua realização: depois de entraves por parte da Prefeitura de Porto Alegre, o Ministério Público do RS (MP-RS) também teria retirado seu apoio, deixando de ceder salas para palestras.
A reportagem é de Rachel Duarte e publicada pelo sítio Sul21, 21-11-2012.
Segundo uma das organizadoras da programação, Alessandra Ceregatti, ocorreriam no local conferências com convidados de diversas delegações estrangeiras, mas o órgão informou que não seria mais possível a realização do Fórum em suas estruturas. “Eles disseram que foi por motivo de agenda. Mas isso já estava acordado há bastante tempo. Creio que o motivo não seja bem esse”, falou. A reportagem do Sul21 entrou em contato com o MP-RS, mas não tinha confirmação sobre a mudança até o fechamento da matéria.
O receio dos organizadores do Fórum é devido à pressão da Federação Israelita do RS sobre o evento. No entendimento da entidade israelita e do cônsul de Israel em São Paulo, Ilan Sztulman, a atividade será um ato de ‘demonização’ de Israel. Estas posições influenciaram a Prefeitura Municipal de Porto Alegre a não apoiar oficialmente o Fórum Palestina Livre. Apenas a cedência de espaços foi mantida. O mesmo chegou a ser cogitado pelo Legislativo gaúcho, mas, em grande expediente nesta terça-feira (20), o tema entrou em pauta e foi apoiado pela maioria parlamentar.
Para o presidente da Federação Árabe-Palestina no Brasil Elayyan Aladdin, os termos da comunidade judaica são infundados. Ele convida os israelitas a participar do evento para, quem sabe, “ver no horizonte um caminho para chegarmos à paz”. Ele diz que o principal foco do evento será levar a mensagem dos palestinos ao mundo, buscando uma mobilização real em defesa do direito de criação do estado Palestino.
Para o presidente da Federação Árabe-Palestina no Brasil, Elayyan Aladdin, é lamentável os ataques de Israel na Faixa de Gaza e os reflexos serão sentidos no Fórum. “Parece até algo premeditado. Em todas as vésperas de eleição em Israel ou no término das eleições americanas eles usam Gaza como trampolim político e fazem daquela população uma cobaia de armamentos e desta política de ataques. Isso irá refletir no Fórum, mas nosso foco será pelo fim dos ataques e pela pacificação. Queremos que o espaço palestino seja respeitado”, disse.
Atividades ocorrem no Gasômetro, AL-RS e campus central da UFRGS
A programação do evento é integrada de cinco conferências, oficinas, seminários e outros eventos autogestionados criados pelo Comitê Preparatório do Fórum Palestina Livre, composto por 36 entidades e apoio das comunidades palestinas no Brasil. O Comitê Nacional Palestino trabalha em conjunto com as forças políticas palestinas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, cidadãos palestinos em Israel e refugiados.
Todas as atividades ocorrerão na Usina do Gasômetro, Assembleia Legislativa do RS (AL-RS) e campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). As atividades estarão centralizadas em Porto Alegre, mas também integra a programação o Fórum de Autoridades Locais, que será realizado em Canoas.
Os eixos norteadores dos debates que surgirão nos três dias de Fórum Mundial Palestina Livre são autodeterminação e direito de retorno do povo palestino; direitos humanos, direito internacional e julgamento de criminosos de guerra; estratégias de luta e solidariedade – boicote, desinvestimento e sanções (BDS) contra Israel; por um mundo sem muros, bloqueios, discriminação racista e patriarcado e resistência popular palestina e o apoio dos movimentos sociais.
Segundo a organizadora Alessandra Ceregatti, é necessário discutir com profundidade o eixo que envolve o corte de relações comerciais com Israel. “O movimento sindical não está compreendendo bem o que isto significa e como fazer. Para isso teremos uma grande atividade no Comitê Estado da Palestina Já”, conta.
As conferências acontecerão nos dias 29, 30 e 1º de dezembro, das 09h às 12 horas, em local a ser definido. Das 12h30 às 18 horas ocorrerão as oficinas e atividades autogestionadas. À noite está reservada para as atividades culturais, na Usina do Gasômetro. Estão confirmadas as presenças do cantor libanês Marcel Khalifa, o grupo de hip hop palestino Dam e a cantora israelense Fana Mussa. Um espaço da Usina será reservado para a ‘Casa Palestina’, onde serão realizadas atividades folclóricas palestinas. Nas salas de cinema da Usina do Gasômetro e da Casa de Cultura Mario Quintana serão exibidos filmes palestinos.
Ao longo dos três dias, estarão presentes pessoas importantes ao longo da história de luta e resistência do povo palestino, como a mãe de Rachel Aline Corrie, ativista estadunidense que integrava o Movimento de Solidariedade Internacional (International Solidarity Movement), morta esmagada por um tanque das forças militares de Israel enquanto tentava bloquear a destruição de uma casa palestina. Comparecem também o político brasileiro e cartunista Carlos Latuff, o escritor e ativista paquistanês Tariq Ali e a filha mais velha de Che Guevara, Aleida Guevara.
Boa parte das principais atividades ocorre no dia 29 de novembro, primeiro dia do Fórum. A partir das 14 horas, na Ufrgs, acontece uma plenária sobre a resistência das mulheres palestinas. “Será puxada por várias delegações de mulheres sul-africanas, tunisianas, palestinas, brasileiras, entre outras. A intenção é discutir a importância do esforço internacional para derrubar o apartheid na África, que também pode funcionar no que consideremos apartheid na Palestina”, explica a organizadora do evento Alessandra Ceregatti.
Outra atividade importante será a Roda de Diálogos: Estado Laico e Democracia no Brasil, organizado pelo Fórum Gaúcho em Defesa das Liberdades Laicas. A oficina ocorre das 10 horas ao meio dia, do dia 29. A intenção, de acordo com uma das integrantes do Fórum, Ana Naiara Malavolta, é discutir a intolerância religiosa que fere direitos na Palestina, no Brasil e ao redor do mundo. “Temos que rever esta lógica do estado confessional que ainda perdura no regime democrático. Não podemos caminhar no sentido contrário da laicidade. Além da Palestina, em que o território foi ocupado ‘por ordens divinas’, no Brasil, se deixar, tem deputados que querem a volta do estado confessional”, defende.
A partir das 17 horas acontece a Marcha de Solidariedade à Palestina, que encerra com show de abertura do Fórum, às 20 horas, no Gasômetro. Já no dia 30 de novembro, das 13 horas às 20 horas, o parlamento gaúcho irá realizar o ‘Fórum Parlamentar Mundial – Palestina Livre”, que reunirá exclusivamente parlamentares brasileiros e palestinos. Este evento será realizado no Plenarinho da Assembleia Legislativa gaúcha e envolve as bancadas do PCdoB, PSB, PT, PDT, PTB, PMDB, PSDB, PPS, PP e DEM.
Veja também: Palestina e Israel. A luta pela Paz Justa. Revista IHU On-Line, no. 408
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Fórum Mundial Palestina Livre perde apoio do MP-RS a uma semana do evento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU