17 Novembro 2012
“A paz não é fundamentalmente uma teoria, mas um pensar e um agir arraigado no reconhecimento da liberdade do outro e na necessidade de aprender a conviver com os outros”, afirmam o Prof. Dr. Paulo César Nodari do PPG em Educação – Universidade de Caxias do Sul - UCS e Mateus Boldori, bacharel em Filosofia, também pela UCS na publicação pelos Cadernos IHU Ideias, nº 179.
O texto é de Afonso Maria das Chagas, mestrando do PPG em Direito da Unisinos e colaborador do Instituto Humanistas Unisinos – IHU.
O texto é publicado no 300º aniversário de nascimento de Jean-Jacques Rousseau.
Eis o texto.
O contexto de um mundo marcado por profundas mudanças deu a tônica da passagem do século XX para o século XXI. Os meios de comunicação e especialmente no campo da informática redefiniram as formas de relacionamento. Encurtaram-se as distâncias e passamos a nos sentir como num mundo sem fronteiras, uma aldeia global. Por parte dos avanços técnico-científicos o progresso ressignificou nossas possibilidades, inclusive quanto ao próprio conceito de qualidade de vida.
No entanto, passamos a sentir também os efeitos das contradições e dos dilemas deste mundo moderno: campos de guerras por várias partes do planeta, diferentes formas de violência, especialmente urbana e o aprofundamento do abismo entre ricos e pobres. O medo e a esperança constituíram-se como duas faces da mesma moeda.
Estas contradições que vão da experiência de um mundo novo à crueza de insuperados e seculares dramas apontam para as não vingadas promessas da modernidade, e mais, colocam uma interpelação ética frente à realidade da ciência e da técnica.
Partindo desta ambivalência contextual, Paulo César Nodari e Mateus Boldori propõem uma releitura do pensamento de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), sobretudo no campo da filosofia política e da pedagogia, como uma proposta de educação para paz.
De ídolo a crítico do iluminismo, Rousseau atesta que se muitos valores são encontrados na contribuição das ciências, das artes e da tecnologia, muitos erros e vícios também o são, sobretudo sob a forma de um progresso que torna os seres humanos menos virtuosos e menos felizes. Neste sentido, para Rousseau, se as ciências subtraem a bondade original do ser humano, torna-os, por outro lado, submissos a um sistema injusto.
A dimensão moral desta perspectiva, por exemplo, chega a ponto de considerar a desigualdade como uma consequência da Lei natural ou por ela autorizada. Trata-se de uma desigualdade convencional, cujas origens se encontram, sobretudo na propriedade privada e se formaliza em diferentes maneiras como desigualdade de capacidades. Tais convencionalismos, muitas vezes “acariciados” pelas ciências e pelas artes, acabam se perpetuando através de uma organização social de forma hierárquica e estamentária. Logo, não sobrevive o argumento de que existam somente desigualdades naturais uma vez que elas podem ser criadas pelos próprios homens. Eis aí o paradoxo do “contrato social”.
A conjugação da vontade particular com a vontade geral deveria então encontrar sua base e legitimação na plenificação da democracia. Isso só se tornaria possível através de um processo pedagógico-político que recuperasse o sentido da liberdade humana. É aqui que entraria a dimensão instrumental da educação, como espaço e ferramenta de construção tanto da liberdade e da autonomia quanto também do respeito.
Por esta lógica inverter-se-ia o processo de naturalização das desigualdades, sobretudo da exclusão, do etnocentrismo e da opressão de um gênero sobre outro. Assim, tanto para a superação da desigualdade quanto para a construção da paz a educação é vista como um caminho. Uma educação, portanto, que contribuirá tanto na proposição da igualdade não como uniformidade, mas como igualdade de condições, quanto na lógica de um compromisso sob a forma de contrato, que ajude a superar, antes de tudo, as disparidades básicas. Por fim, na lição de Rousseau, a educação pensada sob tal paradigma, vai promover os Direitos humanos, principalmente na ideia do reconhecimento de todos como iguais e na construção de uma sociedade onde todos consigam ser protagonistas. Eis o caminho para a paz.
Os Cadernos IHU ideias nº 179 podem ser adquiridos na Livraria Cultural, no campus da Unisinos ou pelo endereço Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
A versão completa desta edição estará disponível neste sítio a partir de 23 de novembro de 2012 para download em formato PDF.
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A educação para a paz na proposta de Rousseau - Instituto Humanitas Unisinos - IHU