06 Setembro 2012
Em 2012, comemoram-se os 300 anos de nascimento de Jean-Jacques Rousseau (28/6/1712). Filósofo do iluminismo e precursor do romantismo, ele foi um pensador popularizado nos anos 1960 - a década que mudou tudo -, quando suas ideias, somadas às de Herbert Marcuse, egresso da Escola de Frankfurt, serviram de combustível para os sonhos de toda uma geração de contestadores. Faça amor, não faça guerra, retorno à natureza. Por trás desses verdadeiros slogans estavam as ideias de Marcuse, Rousseau e outros filósofos que pensavam o sujeito e tentavam libertá-lo dos grilhões do grande inimigo, o 'sistema'.
A reportagem é de Luiz Carlos Merten e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 05-09-2012.
Como se integrar a uma sociedade cujos valores não são éticos? Como manter a pureza moral sem se contaminar pela moral vigente? São interrogações que já estavam na obra mais famosa de Rousseau, O Contrato Social, de 1762, quando o autor contava 50 anos. Basicamente, ele propõe uma nova forma de organização em que a liberdade se baseia na experiência política das antigas civilizações - o consenso como garantia dos direitos de todos.
Isso será lembrado nesta quarta-feira, 05, à noite no Cinesesc, no evento chamado Rousseau para Todos. A programação consta de duas seleções de curtas, e cada uma delas ostenta sua pérola - filmes assinados por Alain Tanner e Apichatpong Weerasethakul. Haverá um debate com a participação do criador do projeto La Faute à Rousseau, A Culpa É de Rousseau. No total, o projeto de Pierre Maillard reúne 55 títulos, dos quais os paulistanos assistirão a 17 - nove no primeiro programa e oito no segundo. Os debatedores incluem especialistas de dois continentes, como a suíça Yvette Jaggi e Maria Constança Pissara, da PUC/SP. O evento é uma parceria do Sesc com o Consulado da Suíça.
Há muito tempo o suíço Alain Tanner desapareceu do circuito exibidor brasileiro e até dos festivais, mas nos 1960 e 70 ele foi um exemplo de cineasta militante. Destinava-se à economia, mas o fato de se haver integrado ao cineclube que Claude Goretta criou na Universidade de Genebra desviou-o do caminho original e ele virou diretor de obras como Charles Mort ou Vif, Amantes no Meio do Mundo e Jonas Que Terá 25 Anos no Ano 2000. Seu cinema, talvez por influência dos números, é o de um intelectual engajado, cujo gosto pelo distanciamento evoca Brecht.
Rousseau Chez Alain Tanner reinventa Jonas, que já era uma antevisão do mundo no limiar do século 21. Em 1976, Tanner apostava na necessidade de um novo contrato social. O mundo agora está longe de ser o que ele sonhou, mas o novo contrato ainda é possível. Apichatpong impôs-se como um dos autores mais em evidência da atualidade, a ponto de ganhar a Palma de Ouro com suas delicadas histórias de fantasmas em Tio Bonmee Que se Lembra de Suas Vidas Passadas. Sakda é uma das duas partes de Syndomes of a Century, que reconstitui a juventude dos pais do diretor, que foram médicos residentes num hospital comunitário. Os dois filmes dialogam entre si, mas você vai ver apenas parte, uma síntese dele. O que Rousseau tem a ver com Isso? A culpa é dele, com sua ideias (românticas?) de que um novo mundo é possível.
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Evento lembra os 300 anos de nascimento do filósofo Rousseau - Instituto Humanitas Unisinos - IHU