19 Outubro 2012
O cardeal alemão de Mainz e ex-presidente da Conferência dos Bispos Alemães, Karl Lehmann, nota uma crescente autoridade do Vaticano sobre as Igrejas locais. O missal e o novo hinário teriam sido "censurados pedantemente". O arcebispo Thissen, de Hamburgo, afirma que as Igrejas locais não são filiais de Roma. "Roma não é Igreja sem as Igrejas locais espalhadas por todo o mundo, e as Igrejas locais não são Igreja sem Roma".
A reportagem é do sítio Kathweb.at, 12-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal de Mainz, Karl Lehmann considera pouco útil um Concílio Vaticano III. Ao invés, ele, que foi por diversos anos presidente da Conferência Episcopal Alemã, falando à rádio Deutchlandfunk, declarou-se favorável a um melhor uso dos instrumentos existentes. A esse objetivo, é necessário uma mudança de linha no Vaticano, afirma. Depois do Concílio Vaticano II (1962-1965), houve muitas solicitações positivas, cuja implementação, porém, foi insuficiente.
"O estilo de governo deve mudar"
Lehmann considera "não exatamente adivinhada" a internalização do aparato diretivo papal. A seu ver, não basta apenas convocar estrangeiros a Roma "se talvez não há todas as capacidades". Nem mesmo o Sínodo dos bispos é um meio suficientemente usado para assimilar e depois distribuir os cargos de direção dentro da Igreja Católica.
O cardeal expressa as suas reservas também com relação à crescente autoridade do Vaticano sobre as Igrejas locais. Que Roma tenha "censurado pedantemente" a tradução alemã do missal e os trabalhos de um novo hinário é algo que Lehmann definiu como "uma intrusão no direito litúrgico" que "não devemos aceitar". Muitas demandas do Sínodo de Würzburg para a Alemanha ocidental (1971-1975) também ficaram sem resposta por parte do Vaticano.
No entanto, Lehmann não acredita em um dissídio permanente na Igreja. Justamente o Sínodo de Würzburg mostrou que "conseguimos, aqui e acolá, reconciliar os espíritos mais polêmicos". Sempre houve debates, antes e depois do Concílio, até porque naquela cúpula "nem tudo foi pensando de maneira definitiva". "O que me incomoda não é tanto a discussão em si mesma, mas sim, às vezes, o estilo", disse.
No processo de diálogo dentro da Igreja alemã, o cardeal solicitou um debate mais baseado nos conteúdos. O diálogo pelo gosto do diálogo, a longo prazo, é muito pouco. No fim, não se pode evitar um "intenso trabalho sobre o texto" e uma "batalha sobre cada palavra individual".
No que se refere ao modo de se posicionar acerca dos divorciados em segunda união, Lehmann disse ter a impressão de que, em Roma, há necessidade de ação. "Mas certamente não quero dizer que nesse tempo não se realizou nada".
Thissen: o Concílio deu importância às Igrejas locais
O reforço das Igrejas locais pelo Concílio, segundo a opinião do arcebispo de Hamburgo, Werner Thissen, oferece ainda amplas potencialidades. "No documento conciliar Lumen Gentium, diz-se que a Igreja se constrói graças à contribuição e à cooperação das Igrejas locais. Não sei se é possível imaginar que força explosiva essa afirmação contém", disse ele na Catedral de Hamburgo.
Por trás dessa afirmação, esconde-se a pergunta: "Quem, então, tem voz no capítulo? O papa ou os respectivos bispos das Igrejas locais?", continuou o arcebispo. "Como arcebispado de Hamburgo, não somos uma filial de Roma, e Roma não é Igreja sem as Igrejas locais espalhadas por todo o mundo, e as Igrejas locais não são Igreja sem Roma". "Encontrar o justo equilíbrio é muito difícil", enfatizou Thissen.
"Há bispos, até mesmo na nossa Conferência Episcopal, que não tiveram experiências particularmente boas na relação com Roma", continuou o arcebispo. Pessoalmente, ele teve experiências positivas, particularmente na relação com a beatificação dos mártires de Lübeck.
"Quando eu perguntei à Congregação para as Causas dos Santos quais chances havia para a beatificação, o cardeal competente à época me havia respondido que 'isso devia ser decidido pela Igreja local'". A decisão final para a beatificação ocorrida em 2011 foi assumida, depois, por Bento XVI.
Esse exemplo mostraria o que é a Igreja: "A colaboração das Igrejas locais com o bispo de Roma: isso é a Igreja". Antes do Concílio, nunca havia sido assim.
Thissen falou também sobre uma "Noite do Concílio" por ocasião da abertura do Ano da Fé no 50º aniversário do início do Concílio (1962-1965). Quando era um jovem estudante de teologia, ele havia ficado muito impressionado com a importância assumida pelos conceitos de "Igreja universal" e de "Igreja dos pobres". De repente, a Igreja, que até então havia tido uma marca exclusivamente europeia, também tinha um rosto africano, asiático e sul-americano. Justamente por isso, os órgãos de caridade da Igreja e o seu trabalho pelo desenvolvimento receberam um grande impulso.
"Graças a isso, surgiram verdadeiros movimentos juvenis. Muitos jovens se ocuparam com entusiasmo por exemplo nas iniciativas quaresmais dos órgãos de caridade", disse Thissen, encarregado da Conferência Episcopal pelo Misereor. "Infelizmente, esse compromisso não se manteve em nível de movimentos juvenis. Mas, naturalmente, ficamos contentes por todas e todos que se comprometem em favor das pessoas nos países em desenvolvimento, independentemente da idade", declarou o arcebispo.
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''É insuficiente a implementação do Concílio Vaticano II'', afirma cardeal Lehmann - Instituto Humanitas Unisinos - IHU